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Ziel Karapotó abre 3º Encontro de Humanidades com palestra sobre identidade indígena e trajetória artística
A 3ª edição do Encontro de Humanidades movimentou o Instituto Federal de Alagoas – Campus Penedo entre os dias 26 e 28 de agosto, trazendo como tema central “Personalidades Alagoanas: ciência, arte e literatura”. O primeiro dia do evento foi marcado pela palestra do multiartista indígena Ziel Karapotó, alagoano originário da comunidade Karapotó Terra Nova, em São Sebastião, que tem se destacado no cenário nacional e internacional das artes.
Com mediação do professor de Arte do Ifal Arapiraca, Judivan Lopes, a conferência resgatou os primeiros passos de Ziel no meio artístico, quando ainda era estudante do curso técnico em Informática no próprio instituto e integrou o projeto de extensão Artevírus. “Ele fez parte e se encontrou ali, trazendo para a tônica da sua produção a questão indígena, o fortalecimento da sua identidade, que é o que o destaca no mundo”, lembrou o docente, orgulhoso de acompanhar a trajetória do ex-aluno.
Em sua fala, Ziel apresentou um panorama dos povos indígenas em Alagoas, que somam aproximadamente 13 etnias. Destacou que o estado ocupa a 16ª posição em número de indígenas no país, com maior concentração populacional nos municípios de Pariconha e Palmeira dos Índios. “É relevante trazer esses dados porque vivemos em um lugar de ausência. Estamos acostumados a não ver indígenas entre nós, a pensar que são povos distantes. É importante conhecer e se aprofundar nas relações identitárias, na ancestralidade”, ressaltou.
O artista também compartilhou aspectos de sua trajetória, marcada pela escolha consciente pela arte como caminho de vida. Graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ziel atuou como arte-educador no Museu de Arte Moderna Aluisio Magalhães e no Instituto Ricardo Brennand; em 2016, conquistou o Prêmio Salão Universitário de Arte Contemporânea do Sesc Pernambuco, com a obra “Inventário Curumim”; e desde 2021, participa do projeto Falas da Terra, da Rede Globo. Atualmente, é representado pela Christal Galeria, que acompanha sua carreira em nível internacional.
Entre seus trabalhos de maior destaque estão o curta-metragem O verbo se fez carne (2019), premiado em festivais de cinema no Brasil e no exterior, e a instalação Cardume II (2024), exibida na 60ª Bienal de Veneza. “Falar de mim é falar da minha origem, do meu povo, do meu lugar de pertencimento. A arte me deu o orgulho de me afirmar indígena e artista em todos os lugares por onde passo”, declarou Ziel ao público. Durante a palestra, ele apresentou trechos de sua produção, que transita entre performance, pintura, instalação e audiovisual, mostrando como a arte pode ser um instrumento de afirmação identitária, de crítica social e de diálogo intercultural.
Na sequência da programação, o auditório do Ifal Penedo recebeu o espetáculo “Indigente é tudo, menos o Nordeste!”, do Grupo de Teatro Caetés, formado por estudantes e egressos do Ifal Maragogi. Criada pelo diretor, ator, escritor e roteirista Adrian Dionizio, a montagem combina performance, declamação e interpretação musical para dar vida à produção literária e musical de artistas nordestinos.
A proposta é revisitar a história do povo do Nordeste e exaltar sua identidade cultural, rompendo com estereótipos que reduzem a região apenas à seca e à miséria.
Minicursos e oficinas
Ao longo do primeiro dia, o público do Encontro de Humanidades contou ainda com uma série de minicursos e oficinas que ocuparam diferentes espaços do campus e também fora dele, unindo ciência, arte e cultura em experiências de aprendizado diversificadas e integradoras.
Entre as atividades, discussões sobre a contracolonialidade a partir do pensamento de Nêgo Bispo, a química presente na cultura indígena e o impacto das músicas nas opressões sociais. Também foram compartilhados conhecimentos e práticas relacionadas aos temas “Artesanato e reúso, empreender com consciência”, “Literatura de Cordel”, “Paisagem sonora de Alagoas”, “Python Hack: desvendando os dados com o projeto MAR.IA”, “Técnicas de defesa pessoal para iniciantes” e “Aproveitamento do mesocarpo do maracujá na produção de geleia”.
A programação incluiu ainda uma sessão do projeto Cine-Ciências com o filme “Nise – O Coração da Loucura” e a oficina “Um arrodeio pela história, arruando por Penedo”, uma espécie de city tour conduzido pelo professor convidado Tiago Pires Rios, com o objetivo de relacionar alguns lugares de Penedo com parte de sua história e provocar reflexões sobre a relação entre a memória e a história por trás de nomes (e alcunhas) de diferentes lugares da cidade, como becos, ruas, bairros e prédios.
Sobre o Encontro de Humanidades
O evento é uma iniciativa promovida pelo Grupo de Estudos de Humanas do Brasil Contemporâneo (GEHB) e, nesta edição, teve sua comissão organizadora composta pelas professoras Gisele Lima, Annanette Oliveira, Cibele Tiburtino, Conceição Matos, Évelyn Pôssa, Kleyse Galdino e Thaline Fontenele e os professores Jarbas Gomes, Juliano Campos e Wellington Santos.
A primeira edição do Encontro de Humanidades ocorreu em setembro de 2018 com o tema os “30 anos da Constituição de 1988”. A ideia inicial era que o evento acontecesse a cada dois anos, mas, devido à pandemia de Covid-19, sua realização ficou temporariamente suspensa, sendo somente retomada em 2023, quando trouxe como tema central “Repressão: ontem e hoje”.
Assim como nos anos anteriores, o segundo e o terceiro dia do encontro foram dedicados à Feira de Humanidades, atividade na qual os estudantes de todas as turmas dos cursos técnicos integrados ao ensino médio expuseram, de forma criativa, os resultados de suas pesquisas sobre as personalidades alagoanas que contribuíram e ainda contribuem para a sociedade.
Somou-se à programação da quarta-feira, 27, a mostra Memórias do Futebol, organizada pelo professor Tiago Lenz, no ginásio poliesportivo do campus, com o objetivo de fazer um resgate dos principais times e jogadores que marcaram o cenário futebolístico na década de 1990, através de uma viagem pelas camisas oficiais da época.
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