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Servidores reúnem artes visuais e crítica social em suas atividades extra funcionais
Série Talentos da Casa reporta trajetórias e os prazeres de quem constrói o cotidiano do Ifal
Jhonathan Pino e Lidiane Neves - jornalistas
São dos traços do assistente em administração do Campus Palmeira dos Índios, Manoel Alves Neto, que surgiram as primeiras ideias para a produção de uma série que comemorasse o Dia do Servidor em 2020. A partir desta segunda-feira, 26, suas imagens dão cor a um conteúdo editorial realizado para o portal do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), o “Talentos da Casa”. Nos próximos cinco dias, queremos retratar sujeitos que costumam repartir o cotidiano entre a instituição e os prazeres pessoais, mas que devido ao distanciamento social, tiveram que se readaptar a uma nova rotina.
Se o mundo funcional invadiu o ambiente doméstico, com a pandemia da Covid-19, também foi entre as quatro paredes da casa do Manoel que as planilhas e documentos burocráticos do Ifal encontraram um novo cenário, marcado pela prancheta, pincéis e um cavalete. São desses instrumentos que saem as charges, caricaturas, paisagens, figuras humanas, que há anos ganham visibilidade em perfis do Instagram @manoelalves.neto e do Facebook.
Nas telas são retratados momentos cômicos de figuras políticas, personalidades intelectuais ou de representantes do imaginário popular. Trata-se de uma prática que tem pelo menos cinco décadas na vida de Manoel.
Natural de Cajueiro, ele conta que desde os anos 1970 usa a pintura a óleo para retratar temas da cultura popular. “As criações nas charges, geralmente eu busco um tema específico e atual, assisto aos jornais e faço uma pesquisa na internet. Já nas pinturas, eu busco as criações inspiradas nas pesquisas”, pontuou.
Além do bom humor, o talento artístico do servidor foi aprimorado com cursos, além de uma Licenciatura em Artes Visuais. Essas experiências lhe renderam convites para participar de exposições coletivas.
“Não só em Maceió, Cajueiro, Penedo, Marechal Deodoro, e outras cidades, como Brasília, Garanhuns, Eunápolis, na Bahia, Rio de Janeiro e na cidade de Imperatriz do Maranhão, como em exposições individuais em Maceió: na Antiga Ematur, na Galeria Rosalvo Ribeiro e a última em 2007, Museu Théo Brandão”, recorda.
Arte Suassuna
Outro servidor do Ifal interessado em retratar a cultura e vida nordestina é o professor de Geografia do Campus Penedo, Lucas Suassuna Wanderley. Embora pertencente a uma família imersa na arte, ele disse que sempre reservou sua habilidade para desenho e pintura ao lugar do lazer, sem investir na ideia de torná-la seu ofício.
“Na verdade, encaro como um passatempo, algo que gosto de fazer quando estou bem tranquilo, à vontade, sem a obrigação do ter que fazer”, define o servidor, ao se referir a sua prática em pintar telas e pratos de porcelana.
Prestes a completar 30 anos de idade, ele conta que desde pequeno sempre gostou de desenhar, mas sem um estilo definido. Condição modificada com o passar do tempo, ao observar e absorver o estilo do movimento artístico denominado Armorial, que data da década de 1970 e teve como idealizador o escritor Ariano Suassuna.
“Com meu avô engajado no movimento e tios que até hoje produzem a partir dessa estética, tenho uma influência muito forte dos artistas armoriais”, destaca Lucas, sobre o movimento que nasceu com a proposta de resgatar a cultura brasileira a partir de elementos eruditos e populares, em especial do Nordeste, unindo a cultura ocidental ibérica à cultura indígena e negra.
Apesar dos primeiros traços na infância, foi somente na fase adulta que Lucas avançou na técnica associada ao estilo Armorial.
“A pintura em tela desenvolvi quando tinha uns 20 anos de idade. Já em porcelana, habilidade que aprendi com minha avó, foi mais recente, em 2016. Trata-se de uma técnica um pouco mais aprimorada, mais difícil e requer mais paciência, porque primeiro eu desenho no prato e, depois de pintar com uma tinta específica, é necessário colocar em um forno para fixar a tinta. Então, tem todo um processo artesanal de produção”, afirma Lucas.
Incentivado pela avó Zélia de Andrade Lima e alguns tios, Lucas chegou a expor seu trabalho em porcelana na Feira Internacional de Artesanato de Pernambuco (Fenearte), em 2017.
No entanto, é nas telas que Lucas diz sentir mais liberdade de criação. É também essa técnica que o permite expressar seu olhar de geógrafo, ao tentar transportar para a tela seu gosto pela leitura de paisagens. Apesar de toda a dedicação a esse trabalho, conta que nunca participou de eventos para expor suas telas.
“Quase todas estão na minha própria casa. Já vendi uma ou duas, mas bem informalmente, nunca foi algo organizado. Tenho uma irmã que me incentiva a divulgar nas redes sociais, mas não penso em me dedicar a isso. A responsabilidade da conta ficaria com ela”, já adianta o docente.
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