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Docentes do Ifal buscam dar voz e inclusão às minorias sociais

Autismo e movimento negro são causas para o ativismo entre professores do Campus Maceió

publicado: 30/10/2020 14h24, última modificação: 05/11/2020 14h16

Gabriela Rodrigues - jornalista

Em mais uma reportagem da Série “Talentos de Casa”, vamos conhecer a trajetória de dois professores do Campus Maceió, que levam para a sala de aula parte das lutas em que estão engajados em sua vida pessoal. Seja no uso da fotografia para empoderar minorias sociais, seja na criação de oportunidades para a inclusão de pessoas autistas.

Professora e pesquisadora do curso de Sistemas da Informação da Informação, Mônica Ximenes é ativista em prol da educação e inclusão de crianças e adolescentes, desde que começou a pesquisar sobre o assunto, em 2005, quando seu filho recebeu diagnóstico de autismo aos três anos de idade.

“A partir daquele momento comecei a estudar o tema, comecei a me dividir entre as atividades de mãe e a missão de conhecer sobre o autismo, porque, na época, eu nem sabia de nada. Por volta de 2005, 2006, encontramos outros pais, de pessoas autistas que tinham a mesma necessidade por informações que eu tinha, e foi preciso pesquisar, buscar especialistas na área, trocar e partilhar informação”, lembra.Mônica Ximenes criou uma associação para reunir familiares interessados em debater o autismo.jpg

Mônica Ximenes pontua que autismo não vem com manual de instruções. Para ela, é desafiador pensar na inclusão, educação e qualidade de vida de crianças autistas, na capital alagoana, já que há pouca informação sobre o assunto. A partir da reunião com outras pessoas interessadas ela conseguiu formar uma rede de apoio que daria origem à Associação de Amigos do Autista (AMA/AL), da qual é fundadora e sócia-presidente

A Associação é pioneira na oferta de capacitações, eventos e debates sobre autistas em Alagoas. Para Mônica a experiência mais desafiadora, no início, foi trazer para o estado informações e profissionais que pudessem compartilhar conhecimento, não só para informar as famílias, mas para capacitar outros profissionais que lidem diretamente com o acompanhamento de crianças e adolescentes autistas, como fonoaudiólogos, psicoterapeutas e psiquiatras.

A atuação como voluntária frente à AMA fez com que as atividades de Mônica como mãe, professora e pesquisadora do Ifal e sócia fundadora da atuação convergissem no tema do autismo, que passou a ser o foco de palestras, inspiração para o desenvolvimento de aplicativos e para a realização de eventos inclusivos para o intercâmbio de informações.

“O tema foi crescendo e ganhando visibilidade à medida que ampliamos a divulgação, participando de entrevistas nos meios de comunicação, lutando pela causa, com a ajuda de outras pessoas e, principalmente, trazendo para Maceió especialistas, na capacitação de profissionais de saúde e da educação voltados aos cuidados com os autistas”, destaca.

Sua atuação chegou a ter repercussão internacional, devido à criação da série de aplicativos em módulos de aprendizagem adaptada ABC Autismo, derivado de pesquisa que gerou o primeiro registro de software do Ifal. A AMA também cresceu em números de adeptos, ganhou sede física em Maceió e hoje é referência na realização de ações em prol da educação inclusiva e no acolhimento de pais de crianças diagnosticadas com autismo.Com filho autista, Mônica Ximenes procurar compartilhar informações e inclusão de pessoas na mesma situação.jpg

“É uma rede de colaboração cuja base é o acesso ao conhecimento, à informação que precisa ser repassada, atualizada, compartilhada. Sozinha, nada seria possível, é um trabalho de formiguinha!”, conta.

A Associação não tem fins lucrativos e organiza eventos, preparar materiais físicos e digitais com foco na aprendizagem adaptada. Por meio dela, Mônica continua a proferir palestras, orientar pesquisas nesta temática e desempenha atividades administrativas na sede da entidade, que mesmo em tempos de pandemia, partilha de informações com o foco na educação inclusiva.

Na mira do fotógrafo, o empoderamento

É na fotografia que coordenador do curso técnico de Estradas do Campus Maceió, Gregory Aguiar, buscou se engajar. O docente conta que a arte de “escrever com a luz” vem desde a infância: sua mãe possuía uma câmera analógica Olympus. “Era uma experiência bem limitada, em que se queimava o filme, as imagens ficavam desfocadas, mas era divertido”, recorda.

Com o tempo, ele passou a compreender a fotografia como um processo de arte visual e de expressão social E idealizou um projeto que atuasse na expressão de quatro vertentes principais: a valorização do corpo humano como elemento de empoderamento e apropriação; manifestações religiosas de matriz africana (como umbanda e candomblé); documental (que busca trabalhar questões sociológicas e de grupos específicos, como gênero e raça) e sociocultural (que procura criar uma linguagem para eventos típicos como quadrilhas juninas).Gregory Aguiar, usa a fotografia para refletir sobre movimento negro e feminismo.jpg

O projeto desenvolvido por Gregory, Ser Fotografia, envolve cursos, técnicas e exposição fotográfica sobre os temas abordados, e ampliou o debate sobre empoderamento, que derivou o projeto, e depois Programa de Extensão FotoIfal.

“O FotoIfal surgiu a partir desse olhar sobre o empoderamento, quando a palavra empoderamento ainda nem estava na ‘moda’. Surgiu quando percebemos que, embora existissem ensaios, não existiam debates sobre a fotografia como ferramenta de empoderamento. Ampliamos  o olhar do empoderamento negro para o empoderamento feminino e, além disso, o projeto se tornou um programa que, mesmo no período de pandemia, trabalhou com a micro-oficina ‘Registros do Inconsciente’, que enfoca a fotografia como instrumento de auxílio terapêutico para tratamento de ansiedade e depressão”,  destaca

Atualmente, Gregory tem fotografias suas expostas na mostra MultiColorir Outubro Rosa, em alusão à prevenção e combate ao câncer de mama. A exposição está em cartaz no Maceió Shopping até o dia 31 de outubro. Para o ano de 2021, ele pensa em novos projetos, que incluam as temáticas do empreendedorismo e da criminalidade no olhar fotográfico, “da forma mais artística possível”.

“O mais bacana é perceber a fotografia como uma forma de comunicação, independente das barreiras de cultura, renda, história, visibilidade social, mesmo para quem não entenda de arte A imagem tem um poder semiótico muito grande, principalmente quando trata de questões sociais, culturais, históricas”, revela.

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