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Ifal Satuba recebe exibição do curta "Cartas à Tia Marcelina" no Julho das Pretas

O documentário resgata memórias e prega o combate à Intolerância
por Adriana Cirqueira publicado: 30/07/2025 13h59, última modificação: 30/09/2025 10h13
Exibir carrossel de imagens Exibição do documentário "Cartas à tia Marcelina"

Exibição do documentário "Cartas à tia Marcelina"

O auditório do Campus Satuba do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) sediou, na manhã desta quarta-feira (29), a exibição do curta-metragem "Cartas à Tia Marcelina". Esta sessão especial, promovida pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do campus, integrou a programação do Julho das Pretas, período dedicado à celebração e ao debate sobre a importância da mulher negra.

O documentário foi trazido ao campus por Eduarda Sofia, que atuou na Direção de Produção e como Assistente de Direção, e por Lucas Espíndola, Diretor de Fotografia. "Cartas à Tia Marcelina" é uma produção de universitários da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desenvolvido em uma disciplina eletiva na área de audiovisual, com direção e roteiro assinados por João Igor Macena. 

Para Anne Delly, professora de Artes e orientadora do ArtIfal (em parceria com o Neabi), a atividade foi um momento importante de conhecimento e conscientização. "Trazer à escola a história de mulheres negras apagadas é fundamental para promover uma educação inclusiva e representativa. Isso enriquece o conhecimento dos estudantes, mostrando a diversidade de contribuições que essas mulheres fizeram ao longo do tempo. Além disso, valorizar suas histórias ajuda a combater estereótipos e preconceitos, formando cidadãos mais conscientes", pontuou.

Sofia e Lucas

Após a exibição, Sofia e Lucas conversaram com a audiência sobre os desafios da produção independente, bastidores, experiências e desdobramentos do trabalho realizado, e também sobre as expectativas para o futuro.  De acordo com Sofia, o documentário alcançou reconhecimento significativo ao vencer a categoria universitária na 14ª Mostra Ecofalante de Cinema, festival considerado um dos mais relevantes para produções audiovisuais socioambientais na América Latina. O enredo do curta explora a trajetória de Tia Marcelina, uma iyalorixá que foi vítima do Quebra de Xangô de 1912, um evento histórico de grande violência e intolerância religiosa ocorrido em Alagoas.

Lucas explicou que o filme carrega consigo uma linguagem repleta de símbolos. "As cenas dos Orixás ali representados precisavam ser especiais; de maneira que potencializassem a percepção do candomblé e, ao mesmo tempo, que se relacionassem com Maceió e Tia Marcelina. Boa parte dessas cenas foram gravadas em locais históricos: na Praça Sinimbú (onde o terreiro de Tia Marcelina ficava próximo) e na Praia da Avenida (nas proximidades do pequeno cais da cidade — que viria a ser o porto de Maceió — onde os negros eram trazidos de África). A ideia foi ressignificar o passado trágico em força e representação", detalhou.

Para Lyvia Vitoria, estudante de 16 anos do curso de Agroindústria, o documentário apresenta uma reflexão sobre a riqueza cultural e espiritual que essas tradições trazem para a formação da identidade e do caráter dos jovens. "O documentário aborda a luta contra a discriminação e o preconceito, mostrando como a espiritualidade pode ser uma ferramenta de transformação e superação. Tia Marcelina emerge como uma figura inspiradora, que não apenas guia seus fiéis, mas também educa sobre a importância de respeitar e valorizar a diversidade cultural", analisou a estudante.

Sobre a obra

O documentário aborda as repercussões da perseguição às religiões de matriz africana e enfatiza o papel do evento Xangô Rezado Alto como um símbolo de resistência e de luta pela liberdade de crença em Alagoas,  a marcante citação atribuída a Tia Marcelina - "Quebra perna, lasca a cabeça, tira sangue, mas não tira o saber" - que ressoa a força e a resiliência da iyalorixá.

Com duração de 25 minutos, "Cartas à Tia Marcelina" teve sua estreia em dezembro de 2024 e, desde fevereiro deste ano, tem sido exibido em diversas espaços, tendo sido selecionado pelo edital de distribuição da Política Nacional Aldir Blanc de fomento à cultura (PNAB).  A exibição no Campus Satuba reforça o compromisso do Ifal e a atuação do Neabi em fomentar discussões relevantes sobre intolerância religiosa e preservação cultural.

 

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