Você está aqui: Página Inicial > Campus > Satuba > Notícias > Ifal Campus Satuba, 105 anos: vidas e histórias
conteúdo

Notícias

Ifal Campus Satuba, 105 anos: vidas e histórias

Sonia Moura Acioly

por Adriana Cirqueira publicado: 23/08/2016 22h46, última modificação: 16/10/2023 10h58

 

Em comemoração ao aniversário de 105 anos do Campus Satuba, o setor de jornalismo do campus realizou entrevistas com servidores ativos e aposentados, alunos e ex-alunos que serão publicadas diariamente nos próximos dias, em diversos formatos.

Para começar a série, entrevistamos a servidora aposentada Sonia Acioly, que conversou comigo em uma cafeteria escolhida por ela no melhor shopping da cidade. Como não nos conhecíamos, tentei apresentar minhas características e sua resposta deu o tom do que seria toda a entrevista: “Sou linda e loura”. Era. E, como constatei, muito simpática e jovial.

  

Sonia Moura Acioly e seu meio século de escola. Do nascimento à aposentadoria.

 

Filha de José Cavalcante Moura, bibliotecário que foi vice-diretor da escola, Sonia sempre morou nas casas da instituição. Conhecia cada construção da propriedade, seus moradores e funcionários, além de várias “levas” de alunos. Passou sua infância brincando entre as árvores, observando os animais e as paisagens do campo, desbravando seus recantos e belezas.

Quando adolescente, tinha certeza que estudaria na agrotécnica. Fez o exame de admissão e foi aprovada, mas seu pai não permitiu que se matriculasse. “Não quis que eu estudasse lá para que eu não corresse o risco de ter nenhum privilégio por ser sua filha. Homem íntegro e pai zeloso: preferiu que eu estudasse em um local onde fosse apenas mais uma aluna, onde me destacasse por meu esforço e mérito”, lembra.

Conheci várias gerações de funcionários. Muitos me viram nascer, crescer, me casar, sair e depois voltar. Saí aos 22 anos quando me casei e voltei três anos depois como funcionária”, explicou, complementando que se aposentou após 30 anos de serviço.

Para Sonia, as mudanças trazidas pelo Plano de cargos e carreira - PCC-TAE, em 2005 foram benéficas, deram garantias aos funcionários e profissionalizaram a gestão pública mas, em contrapartida, mudaram profundamente as relações na instituição. “Os concursos públicos e as adaptações administrativas que facilitaram as remoções internas causaram uma alta rotatividade nos quadros de servidores e as rotinas foram radicalmente alteradas”, aponta a ex-coordenadora de RH.

Analisando as relações pessoais existentes hoje no campus, Sonia diz que são boas, mas acredita que tempos como os seus muito dificilmente voltarão a existir. Para ela a aposentadoria dos mais antigos, a diminuição de servidores residentes, a entrada de novos servidores, por concurso ou remoção, a diminuição da carga horária, entre outras causas, são fatores que dificultam a criação e fortalecimentos de vínculos e laços de amizade duradouros.

  

Contando história...

 

A entrevista de três horas, com direito a selfie, com uma personagem tão peculiar, não poderia se resumir a uma matéria de uma lauda. Por isso, compilei algumas partes e transcrevo aqui em forma de relato em primeira pessoa:

 Trabalhei com muita gente boa. Difícil falar de todos. Mas não posso deixar de citar a Ginelzia. Ginelzia Vieira Melo. Tínhamos uma ótima parceria na coordenação de recursos humanos. Ela sempre foi muito humana e amada por todos. Nosso trabalho sempre teve um traço diferenciado. As pessoas nos procuravam para ajudar na resolução de seus problemas e muitas vezes isso consistia em conversas e reflexões, o que servia para estreitar laços de amizade e confiança.

Sempre trabalhei corretamente e utilizei meu cargo e conhecimentos para garantir o bom andamento das atividades do RH e, dentro do possível, melhorar a vida dos servidores. Buscava garantir benefícios possíveis, muitas vezes direitos que eles nem sabiam que tinham. Para mim isso era parte das minhas atribuições e fazia com muito gosto.

Tenho lembranças boas, outras nem tanto, mas as boas superam e são marcantes. Uma delas me emociona até hoje. Entre as mudanças e adaptações funcionais que o MEC fazia, houve um caso de reposicionamento e os vigilantes receberam alguns valores retroativos. Meu pai ainda morava no campus, mas já estava se aposentando e eu estava lá, na casa dele, quando o Seu Felix chegou. Quieto e reservado, homem simples e de pouca instrução, ele se aproximou, pediu licença para falar e disse que tinha uma lembrança para me dar. E não adiantou eu dizer que não tinha feito nada, que era direito dele, essas coisas. Ele me entregou um pacotinho todo embrulhado: um queijo do reino. Uma coisa de rico. Ofertou agradecendo e foi embora satisfeito. Coisa linda.

...

Passei uma época no segundo andar com a Laudenice e o Chicão. Eu sempre digo que era a secretária deles, mas eles não gostam disso. Essa época ficou marcada pela “volta do cafezinho”: pausas para um tomar um café com alguns acompanhamentos que eu preparava e saia de porta em porta, convocando os colegas. Momentos que se mostraram ótimas oportunidades de integração.

Outra coisa que sempre fiz bem - e que me rendeu muito trabalho – foi organizar festas e enfeitar os ambientes do prédio administrativo para as datas comemorativas: Carnaval, Páscoa, São João, Natal, Ano Novo etc. 

Sempre disse que morava na escola e dormia em casa. Ninguém acreditava que eu me aposentaria bem. Mas aqui estou. Feliz, realizada com o trabalho que escolhi, com os amigos que fiz. Nos encontramos mensalmente. Temos nosso grupo no “zap”, continuamos uma família: não é necessário estarmos juntos diariamente para isso.

Uma coisa relacionada à escola que ainda quero fazer é dar um destino adequado aos livros de meu pai. Preciso catalogá-los e organizá-los para montar uma biblioteca ou sala de leitura. Penso em fazer isso no campus. Ainda não sei como. Se na biblioteca, se na casa do diretor, ou em outra sala. Mas vou planejar isso, conversar com a gestão para pensarmos juntos e resolvermos a melhor maneira de disponibilizar o acervo particular dele à comunidade onde ele passou toda a sua vida. Que melhor lugar para os livros do bibliotecário?”