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Roda de conversa e exibição de documentário marcam Abril Indígena no Ifal Penedo

Conflito socioambiental gerado pela exploração de petróleo na região Amazônica esteve na pauta das discussões
por Lidiane Neves publicado: 07/05/2025 17h31, última modificação: 08/05/2025 17h15

O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal de Alagoas – Campus Penedo encerrou o mês de abril com atividades dedicadas à reflexão sobre a luta dos povos originários do Brasil. No último dia 30, a comunidade acadêmica foi convidada a participar de dois momentos de diálogo relacionados à valorização das culturas ancestrais e aos desafios enfrentados pelos indígenas na atualidade na defesa de seus direitos, de seu território e da preservação ambiental.

Pela manhã, a área de convivência do campus foi palco de uma roda de conversa com o tema “A mensagem do cacique Raoni e a exploração de petróleo na margem equatorial”. O debate reuniu os docentes Évelyn Possa (Geografia), Juliano Mota (História), Simonise Amarante (Engenharia Química) e Marcos Paixão (Sociologia), que abordaram o assunto sob diferentes perspectivas, demonstrando a complexidade do impacto ambiental e social causado pelos projetos de exploração na região Amazônica.

 Conforme explicou a professora Simonise, a Petrobras planeja explorar petróleo na região, especificamente na costa do Amapá, no bloco que faz parte da chamada margem equatorial e se estende até o Rio Grande do Norte. Essa nova fronteira exploratória é ambientalmente sensível, abrigando rica biodiversidade marinha e comunidades indígenas, incluindo povos isolados. “Estudos indicam que se trata do novo pré-sal, a menina dos olhos da economia brasileira quando se fala de matriz energética. Então, é só uma questão de tempo para essa exploração acontecer”, pontuou a docente da área de Engenharia Química.

Diante do conflito que se coloca entre os interesses econômicos e a preservação ambiental e cultural, o cacique Raoni Metuktire, uma das vozes indígenas mais respeitadas internacionalmente, tem se posicionado firmemente contra a exploração petrolífera na Amazônia, defendendo a proteção dos territórios indígenas e a preservação da floresta como patrimônio da humanidade e garantia de sobrevivência de seu povo.

Para o professor Marcos Paixão, a fala do cacique Raoni nos convida a repensar os modelos de desenvolvimento adotados, que desconsideram as dimensões territorial e cultural dos povos indígenas, priorizando o lucro acima de qualquer outro valor. “São comunidades que não têm sido ouvidas. O conflito que se coloca é entre o ‘deus’ dinheiro e as vidas visíveis e invisíveis que ali vivem”, enfatizou.

 Com o objetivo contextualizar a resistência indígena contra as investidas exploratórias sobre suas terras, o professor Juliano fez um apanhado histórico dos principais marcos da política indigenista no Brasil, destacando momentos-chave desde o ano de 1910, quando houve a criação do Serviço de Proteção aos Índios, até a Constituição de 1988 e os desdobramentos contemporâneos. Para ele, apesar dos avanços na relação oficial do Estado brasileiro com os indígenas, as contradições e limitações perduram até hoje resultando em tentativas de silenciamento desses povos.

A professora Évelyn reforçou a importância de se parar para escutar essa liderança indígena de 93 anos que é o cacique Raoni e concluiu sua fala com uma frase do geógrafo Ab'Saber. “Nem uma economia suicida nem uma ecologia utópica. É preciso achar o caminho do meio”, ressaltou, ao abordar o conflito que coloca de um lado o governo e setores da indústria que defendem a exploração como forma de desenvolvimento e geração de riqueza; e do outro, lideranças indígenas e ambientalistas, que alertam para os impactos devastadores que a exploração em questão pode causar ao ecossistema e às comunidades tradicionais.

 No período da tarde, a programação trouxe como atividade a exibição do documentário “Índios Somos Nós”, uma produção da TV Brasil realizada durante a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, na cidade de Palmas (TO), em 2015. O filme documental mostra a realidade de alguns povos que vivem no Brasil, a partir da perspectiva dos próprios indígenas; o que mudou nas suas culturas e tradições ao longo dos anos; e como essa população pensa os não-indígenas. A sessão foi seguida de um diálogo mediado pelo professor Juliano Mota, como parte das atividades do grupo de estudos Trançando Ideias, coordenado pela equipe do Neabi.

Abril Indígena nas redes

A programação do Neabi também aconteceu, ao longo do mês, nas redes sociais com a publicação de vídeos trazendo indicações de livros que celebram a cultura, a história e os saberes dos povos indígenas e que estão disponíveis na biblioteca do Ifal Penedo. Publicados no perfil de Instagram @neabi_ifal.penedo, foram quatro vídeos ao todo, com a participação das professoras Kleyse Galdino e Gisele Lima e das alunas Jamylle Araújo e Yvini Iara.

 As participantes convidadas indicaram respectivamente os livros: O Banquete dos Deuses, do autor indígena Daniel Munduruku; Ideias para adiar o fim do mundo, do pensador indígena Ailton Krenak; Índios no Brasil, da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha; e O índio que mora na nossa cabeça, do jornalista e antropólogo Spensy Pimentel.

O Abril Indígena é um período simbólico instituído para dar visibilidade às pautas dos povos originários, especialmente no contexto do Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril. A data busca ampliar a compreensão sobre as diversas realidades vividas por essas comunidades no Brasil, promover o respeito à sua cultura, história e direitos, e fortalecer espaços de diálogo sobre a luta contra o racismo, a invasão de terras e a destruição ambiental.