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Projeto que ensina crianças a produzir tintas ecológicas é compartilhado em congresso on-line

Resumo da ação extensionista realizada por equipe do Ifal Penedo compõe anais do Conenci 2020.
por Lidiane Neves publicado: 18/11/2020 18h53, última modificação: 23/05/2024 14h22

Em um ano no qual a interação social mediada pelas novas tecnologias tornou-se, na grande maioria do tempo, a única opção, executar projetos de extensão não ficou entre as atividades remotas possíveis. Afinal, essas iniciativas dependem do contato direto com as comunidades definidas como público-alvo. Com o trabalho presencial então suspenso, uma alternativa para servidores e estudantes extensionistas foi compartilhar, em congressos adaptados para a versão on-line, as ações já desenvolvidas nos meses anteriores à pandemia da Covid-19.

O projeto de extensão “Eco-Tintas: uma forma lúdica de popularizar o ensino da ciência”, executado ao longo de 2019 pelo Instituto Federal de Alagoas – Campus Penedo, corresponde a uma dessas iniciativas. Formada pelas docentes Cleyla Calheiros e Edriane Teixeira (Ifal Maceió) e pelas alunas Adrielle Santos, Gabrielle Ferreira e Hemily Ferreira, a equipe teve o resumo do trabalho publicado nos anais do Congresso Nacional de Ensino Científico (Conenci) - edição 2020.

Por ser um evento de caráter técnico-científico, que busca repensar o ensino científico e tem uma vertente voltada para relatos de experiência de projetos que tratem de ações científicas junto à sociedade, decidimos fazer o resumo e submetê-lo”, contextualiza a orientadora Cleyla. O Conenci 2020 aconteceu em meados de outubro e a publicação do trabalho nos anais do evento já pode ser conferida na página: https://congresse.me/eventos/conenci/anais.

Sobre o projeto

 Executado em duas escolas públicas da cidade de Penedo, o Eco-Tintas teve como público-alvo estudantes do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. A metodologia envolveu a explanação sobre a importância do cuidado com o meio ambiente, as substâncias encontradas nas tintas comerciais, a preparação e manipulação das tintas ecológicas e sua aplicação em diferentes tipos de materiais.

O objetivo do projeto foi consolidar o ensino da ciência, através de atividades dinâmicas e lúdicas, utilizando materiais naturais para fabricar as tintas, além de inspirar o cuidado com o meio ambiente ao mostrar que podemos gerar produtos de forma sustentável”, explica Cleyla, acrescentando que a iniciativa também rendeu uma oficina realizada no ano passado, durante a I Semana de Química, e a apresentação de pôster, na II Feira de Literatura e Linguagens (Flifal).

A partir de materiais simples e de custo reduzido, a ação uniu conhecimentos sustentáveis para a produção das tintas ecológicas. “Utilizamos compostos que não possuem sumos de origem química nocivas, ou seja, não liberam COVs, compostos orgânicos voláteis”, afirma a docente, citando como exemplo de materiais para obter a pigmentação, diferentes tipos de solo, que geraram cores nos tons do terroso ao cinza, repolho roxo (tons azulados), beterraba (tons rosa), cúrcuma ou colorau (tons alaranjados) e açafrão (tom amarelo). “Para aglutinante, fizemos uso de cola a base de água, ou seja, não tóxica”, completa.

Popularização da ciência entre crianças

Toda a matéria-prima utilizada fazia parte do cotidiano das crianças, que ao aprenderem como extrair as cores dos compostos, percebiam que a ciência está dentro de casa ao alcance delas. “Essa foi a ideia do trabalho. Mostrar que a ciência não está só nas páginas dos livros ou escrita no quadro da sala de aula. Está em casa, de acesso fácil e seguro”, enfatiza Cleyla Calheiros, que é mestra em Engenharia Química.

 Durante a execução do projeto, no processo de obtenção das cores, o público-alvo infantil aprendeu, por exemplo, que para ter a pigmentação do solo, é necessário molhá-lo e deixá-lo decantar. A decantação consiste na deposição de partículas mais densas, na parte de baixo do recipiente. “A parte líquida, que se concentrava em cima, era dispensada e usávamos a argila, ou seja, a parte decantada. Logo em seguida, ela era misturada à cola para obter a tinta e ensinávamos que a proporção de pigmento e aglutinante dependia da quantidade que gostaríamos de produzir e da intensidade desejada da cor”, detalha a orientadora.

No caso da beterraba e do repolho roxo, a equipe usava uma solução com álcool para extrair a pigmentação. Assim que a cor era obtida, o álcool evaporava naturalmente e os pigmentos eram então misturados com o aglutinante. Já com relação à cúrcuma ou colorau, era realizada a maceração, processo físico de extração que ocorre a partir de esforço mecânico. “Esfregávamos sobre uma superfície, utilizando um pilão para isso”, relata a docente.

 Com as tintas ecológicas fabricadas, ao final do projeto, elas se tornaram artes em tecido, papel, madeira e outras superfícies possíveis, pintadas pelas próprias crianças que participaram de todo o processo de produção. “Participar dessa ação foi uma experiência única e enriquecedora. Além de passarmos conhecimentos que aprendemos em nosso curso no Ifal e na etapa de pesquisa para o projeto, a gente aprendeu muito com as crianças, o contato com a realidade de escolas públicas da cidade serviu para enriquecer nossa vida acadêmica”, destaca a bolsista Adrielle Santos, aluna da turma 2018 do curso técnico em Açúcar e Álcool.

A estudante também ressalta que a experiência extra muros do Ifal a deixou motivada por perceber que estava fazendo a diferença e colaborando para a desmistificação da ideia de que ciência é algo difícil e seu aprendizado se restringe aos laboratórios. “Tentamos explicar para as crianças alguns conceitos dessa área de forma bem lúdica, e foi muito gratificante perceber que eles se envolviam, gostavam das atividades e se animavam quando chegávamos na escola. Estávamos realmente fazendo algo que unia aprendizado e diversão ao mesmo tempo”.

 O depoimento de Adrielle soma-se ao de sua colega bolsista Gabrielle, uma das idealizadoras do Eco-Tintas, no sentido de reforçar o impacto das ações extensionistas do Ifal nas comunidades alcançadas. O Campus Penedo desenvolve uma série de projetos de extensão em escolas das redes municipal e estadual localizadas na própria cidade e em municípios vizinhos. A Gabrielle já conhecia essa atuação da instituição quando estava no ensino fundamental, e ingressou no Ifal com o desejo de poder ser também uma aluna extensionista.

Fui aprovada em 2018 e, no segundo ano do curso, quando tive a oportunidade de colocar em prática alguma ideia, foi muito gratificante porque eu entrei no Ifal querendo ser a pessoa que vai para a sala de aula das escolas públicas da cidade, para compartilhar conhecimento e apresentar algo diferente relacionado às disciplinas do curso técnico que escolhi”, destaca a aluna, que também cursa Açúcar e Álcool integrado ao ensino médio no Campus Penedo.

Continuidade do projeto

Submetida no início deste ano pela mesma orientadora e duas das bolsistas, Adrielle e Gabrielle, a iniciativa terá continuidade, pois consta na lista de projetos da modalidade servidor aprovados pela Pró-reitoria de Extensão (Proex) no edital 2020. No entanto, devido à pandemia, a previsão é que o projeto, com duração de quatro meses, seja executado somente entre julho e outubro do próximo ano.

Tivemos que fazer adaptações na proposta, principalmente, no que se refere ao contato com o público. Considerando que haja a reabertura das escolas, utilizaremos o espaço livre do pátio para seguir o distanciamento recomendado, as bolsistas estarão com equipamentos individuais de segurança, como luvas, máscaras, jaleco e álcool gel e as crianças trabalharão individualmente no processo de fabricação. A interação se dará com as apresentações de suas artes e brincadeiras que possam ocorrer, mantendo sempre a distância recomendada”, esclarece Cleyla Calheiros, que está em processo de remoção para o Campus Maceió e ainda vai definir quem pode assumir a orientação do projeto no Campus Penedo.

Uma outra mudança na nova edição do projeto, porém, não relacionada à pandemia, refere-se a uma das escolas onde ocorrerão as atividades. No ano passado, o público-alvo foram os alunos do Ensino Fundamental I da Escola Municipal Vereador Manoel Soares de Melo e da Escola Estadual Hermilio de Freitas Melro. Já em 2021, no lugar da unidade de ensino municipal, a equipe trabalhará com estudantes da Escola Estadual João Valeriano de Oliveira.