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Docente afirma que isolamento é ainda necessário em estágio atual da pandemia

A afirmação do professor do Ifal Penedo encontra-se respaldada em análise gráfica do avanço da Covid-19 em Alagoas.
por Lidiane Neves publicado: 12/06/2020 10h59, última modificação: 23/05/2024 14h41
Exibir carrossel de imagens Francisco Rego Filho é doutor em Física e atua no Campus Penedo.

Francisco Rego Filho é doutor em Física e atua no Campus Penedo.

Ao analisar dados dos casos da Covid-19 confirmados em Alagoas até a última quarta-feira (10), o professor do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Francisco Rego Filho, aponta que o isolamento social no estado continua a demandar uma taxa de adesão maior. Segundo ele, a análise do comportamento da curva de contágio do novo coronavírus feita à luz de modelos matemáticos permite identificar o estágio atual da pandemia e quais as perspectivas em curto prazo. “Ou seja, nos dá uma ideia do que está acontecendo e do que vai acontecer nas próximas semanas, considerando a existência ou não de medidas preventivas”, enfatizou o docente, que é doutor em Física e ministra a disciplina no Campus Penedo.

Avanço da Covid-19 no estado de Alagoas em escala linear.Com dados dos boletins epidemiológicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) divulgados até 10 de junho, Francisco elaborou um primeiro gráfico em escala linear, considerando no eixo vertical o número de casos confirmados (18.176) e, no eixo horizontal, a quantidade de dias (94), desde a notificação do primeiro caso, o que ocorreu em 8 de março. “O que se verifica é que, até o primeiro mês, o número de confirmações teve um crescimento bem lento e, só a partir de um mês e meio, foi que começou a subir em um outro padrão de velocidade, sendo bem o que os modelos preveem. Trata-se de um crescimento exponencial, no qual a curva vai avançando devagar e, em um determinado momento, ela explode”, explicou o professor.

A partir dessa explosão de notificações, ele fez uma projeção do que aconteceria se medidas preventivas não tivessem sido tomadas. “Caso o padrão de crescimento tivesse se mantido, teríamos chegado aos 18 mil casos há um mês, por volta do dia 60, e teríamos ultrapassado, e muito, a marca atual”. Ele ressalta que foi por volta do 55º dia que a curva continuou a subir, mas de forma mais lenta, o que provavelmente está relacionado aos efeitos das medidas de isolamento social determinadas pelos decretos governamentais, entre o final de março e abril.

Avanço da Covid-19 no estado de Alagoas em escala logarítmica.Essa simulação é melhor visualizada no gráfico em escala logarítmica, que mostra a evolução dos casos em potência de 10. Francisco usou esse tipo de gráfico para analisar a curva de contágio a partir da explosão dos casos no 35º dia da pandemia em Alagoas, em meados de abril, confirmando o crescimento exponencial e a mudança que se deu no padrão desse crescimento depois do 55º dia, em 2 de maio. Esses dois períodos distintos, ele identificou como fase 1 e fase 2. “Vê-se claramente que, se não houvesse uma desaceleração da exponencial da fase 1, teríamos chegado aos 100 mil casos no 80º dia, isto é, em 28 de maio”, disse o docente, que projeta para a esta sexta-feira, 12 de junho, a confirmação de 20 mil casos.

Com base nessas análises, Francisco defende que medidas rígidas sejam tomadas para frear ainda mais a velocidade do contágio. “Estamos na fase 2 que seria um crescimento intermediário. A curto prazo, o que dá para dizer é que vai continuar crescendo nesse mesmo padrão, conforme o modelo matemático prevê, e também porque não estamos vendo mudanças nas medidas de isolamento social. Se não houver endurecimento nas regras, o pico de casos que marca o início do achatamento da curva se tornará cada vez mais longe, o que é bem preocupante”.

Crescimento dos casos ativos da Covid-19 em Alagoas.Essa preocupação também foi por ele demonstrada com o gráfico que evidencia a evolução dos casos ativos. “Esses casos resultam da subtração entre o número total de confirmados e número dos casos recuperados e dos óbitos. Os ativos são o total de pessoas doentes no momento e se percebe no gráfico que esse dado é crescente. Isso preocupa porque representa o aumento da quantidade de pessoas que demandam acompanhamento, atendimento nas unidades de saúde e, nas situações em que o quadro clínico se agrava, leitos de UTI”.

Taxa de reprodução do vírus

Em um cenário no qual a vacina da Covid-19 ainda não existe, a necessidade de aumentar a adesão ao isolamento social é justificada por modelos teóricos utilizados para entender o avanço da doença. Um desses modelos simula quantas outras pessoas um infectado pelo novo coronavírus consegue contaminar. Trata-se da taxa de reprodutibilidade, denominada R0.

“Sem que nenhuma medida de isolamento seja aplicada, uma pessoa com o vírus é capaz de infectar outras três, ou seja, o R0 nesse caso é próximo de 3. Com as pessoas mantendo-se em casa, essa probabilidade diminui e, para a gente ver o tão sonhado pico ser atingido, essa taxa de reprodução precisa estar abaixo de 1 (um), o que só é possível se a adesão ao isolamento estiver acima dos 70%”, explicou o docente, acrescentando que há pesquisadores trabalhando com esse dado em Alagoas e que estimam atualmente um R0 da ordem de 1,5 a 1,7. Quanto à taxa média de isolamento no estado, em meados de abril, ela já chegou a estar acima dos 50%, mas vem caindo e tem oscilado entre 35% e 40%. Os dados são da plataforma Inloco, que reúne informações com base na localização.

Curva de contágio da Covid-19: capital x interior de Alagoas.Situação no interior de Alagoas

Em um outro gráfico, Francisco Rego Filho analisou os dados gerais de Alagoas, dando enfoque aos casos confirmados na capital e no interior. “Considerei como interior todos os municípios alagoanos, exceto Maceió. Neste gráfico, é possível perceber que a curva geral, desde o início, é determinada pela velocidade da curva da capital. Isso porque na fase 1 da pandemia, os casos de Maceió representavam mais de 80% do total. Depois de alguns dias, a curva da capital passou a ter uma inclinação um pouco menor, enquanto que a curva do interior veio subindo numa taxa muito mais rápida, fazendo com que, nos próximos dias, haja uma inversão e os municípios do interior passem a concentrar a maioria das notificações”, projeta o professor.

Segundo ele, dois fatores podem estar influenciando o aumento de casos no interior: o negligenciamento das medidas de prevenção ou o fato de os governos locais terem aumentado a testagem da população. Em Penedo, onde fica localizado o campus do Ifal em que o docente trabalha, a explosão de casos aconteceu no final de maio. O primeiro caso foi confirmado na cidade em 27 de abril e, até 29 de maio, eram 26. Após essa data, as confirmações de Covid-19 já somam 130, ou seja, 104 novos casos em apenas 13 dias. Os dados são do boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Penedo nessa quinta-feira (11). Porém, diferem do boletim da Sesau, que contabiliza 86 casos no município até a mesma data. No dia 4 de junho, a prefeitura informou que passaria a divulgar os dados locais sem aguardar a oficialização da Saúde do Estado.

“Esse crescimento acelerado é algo que preocupa porque é no interior onde o sistema de saúde é mais vulnerável. Torna-se imprescindível aumentar a fiscalização ao isolamento, ao funcionamento de serviços considerados não essenciais, para frear o aumento exponencial acelerado dessa curva”, finalizou Francisco. Mais explicações sobre como a análise gráfica do avanço da Covid-19 em Alagoas ajuda a entender o comportamento da curva de contágio podem ser conferidas em um bate-papo ao vivo com o docente, ocorrido na terça-feira, 9, no perfil de Instagram do Ifal Penedo. CLIQUE AQUI para conferir.