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Campus Penedo investe em ações para inclusão de estudantes com deficiência visual

Ações incluem aquisição de materiais de tecnologia assistiva, além de trabalho articulado entre Napne e Pedagogia.
por Lidiane Neves publicado: 09/11/2020 14h54, última modificação: 23/05/2024 14h25

Embora o cenário de pandemia tenha afetado o cumprimento do calendário letivo, as ações do Ifal Penedo para garantir a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, no que se referem aos discentes com necessidades específicas, não pararam. Em 2020, com a chegada de uma aluna com deficiência visual, a gestão do campus vem desde o início do ano se mobilizando para enfrentar os desafios impostos pela inclusão educacional de pessoas cegas.

Uma das ações foi a aquisição de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva. Comprados com recursos do campus, estão entre os itens já disponíveis na unidade de ensino, o scanner com voz, teclado em Braille, globo terrestre tátil e Soroban (instrumento para cálculo). “Há também os audiolivros e materiais didáticos grafotáteis e tridimensionais solicitados ao Instituto Benjamin Constant [IBC], que faz essa disponibilização gratuita”, informa a psicóloga Bárbara Guerreiro, coordenadora do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne).

Audiolivros solicitados ao Instituto Benjamin Constant (IBC).Os audiolivros solicitados ao IBC, que é um centro de referência nacional na área da deficiência visual vinculado ao Ministério da Educação (MEC), somam 66 CDs no formato MP3 com uma variedade de títulos de literatura brasileira e internacional. Eles estão sendo catalogados pela biblioteca do Ifal Penedo, para que fiquem disponíveis a toda comunidade acadêmica, conforme as regras de empréstimo do setor.

Quanto aos materiais didáticos grafotáteis e tridimensionais, o campus ainda aguarda a chegada. Trata-se de materiais reproduzidos em alto relevo numa película transparente de PVC e celas Braille em EVA, respectivamente, com conteúdos didáticos de Biologia, Física, Geografia, Matemática e Química, conforme indicação da equipe docente. “Em um trabalho articulado com a Coordenação Pedagógica, apresentamos a lista para os professores, solicitando que escolhessem aqueles de seu interesse”, explica a coordenadora do Napne.

Livros em Braille

Uma outra ação a ser destacada é garantia do livro didático em Braille para a estudante Alana Emilly Pereira, até então única no campus com essa necessidade específica.Segundo Bárbara Guerreiro, uma outra ação a ser destacada é garantia do livro didático em Braille para a estudante Alana Emilly Pereira, que até este momento é a única no campus com tal necessidade específica. “Em contato com o MEC no início do ano, recebemos a informação de que a disponibilização de livros em Braille foi substituída por livros digitais. No entanto, por entendermos que o Braille é uma importante ferramenta de ensino e aprendizagem, buscamos alternativas para suprir essa demanda”, disse a psicóloga.

Defensora da utilização do Braille, ela argumenta que o sistema é fundamental para a educação inclusiva, pelo fato de proporcionar às pessoas cegas maior independência na comunicação. “A utilização restrita de audiolivros é uma experiência limitadora. O recurso é útil, mas alguém que conhece palavras só por ouvi-las, não aprende a escrevê-las. Então, a leitura amplia o aprendizado, faz com que a pessoa também aprenda a escrever”, reforça.

A alternativa encontrada pelo Ifal Penedo foi recorrer à Secretaria de Educação de Alagoas e estabelecer uma parceria com o Centro Estadual Cyro Accioly, unidade especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual. “A partir dos livros didáticos utilizados na série da estudante, solicitei aos professores que fizessem um cronograma por bimestre do que será trabalhado, e a instituição parceira está produzindo os arquivos em Braille”, explica a coordenadora do Napne, ressaltando que a produção ocorre de forma seriada por ser um processo minucioso e demorado, além de gerar um volume grande de material impresso.

O diretor-geral Felipe Thiago Souza e a psicóloga Bárbara Guerreiro, coordenadora do Napne, em uma das entregas de livros em Braille.Dos conteúdos solicitados para impressão em Braille, até o último mês de outubro, foram produzidos alguns dos referentes às disciplinas de Sociologia, História, Geografia e Princípios de Ecologia, ministradas no 1º ano do curso técnico em Meio Ambiente, série na qual Alana Emilly está matriculada. Ao passo que o material é entregue ao Napne pelo Centro Estadual Cyro Accioly, a gestão do campus tem ido levá-lo até a casa da estudante, mesmo com o calendário letivo ainda suspenso para a sua turma.

Projeto de acessibilidade do campus

A garantia de condições de acessibilidade a pessoas com deficiência visual também passa pela quebra de barreiras de ordem física. Com a redução de despesas no campus, identificadas no primeiro semestre deste ano, a gestão redirecionou parte dos recursos economizados para um projeto de comunicação visual, que inclui mapas táteis nas duas entradas da unidade de ensino, placas de sinalização dos espaços físicos e de identificação das salas em Braille.

A proposta foi elaborada pela docente Bruna Machado Dória, que tem formação em Arquitetura e Urbanismo e compõe a equipe do Napne. De acordo com o diretor-geral, Felipe Thiago Souza, o projeto, cujo valor é de R$ 156.718,96, já está na fase de empenho, aguardando a liberação do crédito orçamentário para execução. “A princípio, a ideia era incluir no projeto o piso tátil em toda a área externa, já que o atual está fora dos padrões, e os sinais luminosos para pessoas surdas. No entanto, o valor ficou muito alto e a limitação de recursos inviabilizou essa parte”, justifica Bruna.

Novos desafios

Apesar do notório esforço institucional para garantir o acesso, a participação e a aprendizagem de estudantes com necessidades específicas, o caminho de uma educação que inclua, com êxito, a diversidade do corpo discente é longo e cheio de percalços. “No caso das demandas relacionadas à deficiência visual, por exemplo, além dos materiais de tecnologia assistiva, precisamos de um profissional especializado em educação para pessoas cegas. Atualmente, não temos ninguém no campus que saiba Braille e, se não continuarmos estimulando a aluna na leitura e escrita, ela vai acabar estacionando”, diz a psicóloga Bárbara, referindo-se à estudante Alana Emilly. “O que queremos, enquanto instituição de ensino de nível médio, é que ela amplie seus horizontes e sinta-se preparada para a fase posterior, seja na universidade ou no mercado de trabalho”, completa.

Se no ensino presencial os desafios da inclusão educacional são inúmeros, eles se tornam maiores com o ensino remoto emergencial – única opção viável para a retomada do calendário letivo neste cenário ainda pandêmico. “É algo novo para todos, e o que posso dizer é que vamos seguir auxiliando os estudantes atendidos pelo Napne, de modo a contribuir com a sua inclusão neste momento de atividades letivas remotas”, afirma a coordenadora do setor.

Segundo ela, as ações ocorrerão no sentido de monitorar esses estudantes para ver como estão acompanhando os conteúdos e se adaptando às aulas. “Há também a parte de suporte aos professores, ou seja, do Napne estar disponível para possíveis dúvidas e promover reflexões com a equipe docente, buscando orientá-la quanto à efetividade das metodologias utilizadas”, acrescenta, reforçando que necessidades específicas exigem metodologias diferenciadas e que, portanto, o diálogo e a busca conjunta de soluções para esse novo contexto de ensino remoto são imprescindíveis.

Equipe Napne

O Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas é formado por uma equipe multidisciplinar, que atua no acompanhamento dos estudantes com esse perfil e desenvolve atividades de cunho inclusivo, com o objetivo de levar informação e formação para a comunidade acadêmica. Além da psicóloga Bárbara Guerreiro e da docente Bruna Dória, o Napne conta em sua equipe com outros sete integrantes: Domênico Tenório (assistente em administração), Kamilla Duarte (assistente social), Maíra Gomes (técnica de enfermagem), Raíza Pinheiro (nutricionista), Tiago Lenz (docente) e as estudantes Ana Beatriz Soares e Sara Beatriz Castro como monitoras.