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Servidores do Campus Marechal participam de obra que reúne histórias da EJA

Criação de política institucional, adaptação pedagógica e atividades extraclasse foram relatados em livro

por Jhonathan Pino publicado: 08/10/2020 14h02, última modificação: 13/10/2020 21h50

Três experiências compartilhadas entre docentes, técnicos e alunos do Campus Marechal Deodoro foram inseridas na última edição Livro “Histórias que Merecem ser contadas”, lançado no último dia 4 de outubro, pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul, Campus Sapucaia do Sul, no Encontro Nacional do EJA-EPT.

As histórias contadas do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), na obra, são dos processos de aprendizagens realizados em atividades de pesquisa, ensino e extensão, realizados entre alunos dos cursos de Nível Médio Técnico de Cozinha e Hospedagem, na modalidade de Jovens e Adultos, da unidade. Uma delas, denominada “Naquela noite tudo foi diferente”, foi realizada pelo professor Edvan Horácio e a pedagoga Vanda Figueredo, que relataram um dos momentos em que monitores tiravam dúvidas dos alunos sobre a disciplina de Matemática.

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“No começo, vimos certa timidez no diálogo das duplas e no movimento de buscar o auxílio dos colegas da monitoria e do professor. Percebemos que os monitores buscavam um jeito de aproximação com os colegas, demonstrando que estavam dispostos a ajudar. Aos poucos, o clima de estudo colaborativo tomou conta do ambiente da sala”, apresenta o relato.

Edvan Lembra que a ação não foi isolada, mas fazia parte de um plano estratégico, desenvolvido pela Coordenação Pedagógica da unidade, que tentar evitar a evasão escolar, já que pesquisas apontavam que 57% dos estudantes no primeiro módulo pensam em deixar o curso na modalidade EJA do Ifal. Com atividades coordenadas, eles buscaram desenvolver novas formas de aprendizagem entre os alunos.Auxílio de monitores em turma da EJA aumentou coeficiente de aprovação em disciplina de Matemática.jpg

Pedagoga da unidade, Vanda lembra que desde que retornou do mestrado, em 2017, buscou sistematizar o programa de monitoria no Proeja, juntamente com o professor Rodrigo Lucena e contando com a experiência já existente do professor Edvan. Ela comentou que buscou atender aos alunos que apresentavam aproveitamento abaixo da média, principalmente na disciplina de Matemática. Além deste componente curricular, a monitoria foi estendida para a disciplina de Língua Portuguesa. 

"Vimos a necessidade do acompanhamento pedagógico a essas ações e foi constituída uma Comissão Permanente do Programa de Monitoria, sendo o professor Edvan Horácio, nosso representante docente, pois já desenvolvia várias iniciativas como orientador de monitoria de Matemática com estudantes bolsistas e voluntários", pontua Vanda.

Os resultados alcançados foram compartilhados no livro. “Pode-se observar a melhoria na aprendizagem da turma, com vinte e cinco estudantes aprovados, representando 64,1% de aprovação neste componente curricular, possibilitando a continuidade dos estudos”, constatou Edvan.

Hospedando sonhos e degustando saberes

Maria do Socorro Ferreira também teve seu relato publicado na coletânea. Em “Hospedando sonhos e degustando saberes: a educadora e pesquisadora antes e depois da Proeja”, a docente abordou uma trajetória de 11 anos atuando na modalidade e as dificuldades de implementação dos serviços necessários para a vida noturna escolar.

“Eu entrei no Ifal em 2009 e já fazia um ano que o Proeja havia sido implantado em Marechal. Praticamente foi o início de tudo no Ifal e nesse processo, havia muita resistência da gestão, dos professores para colher esse público de jovens e adultos. Durante o período da noite, a gente não tinha acesso a vários equipamentos para a realização das atividades”, recorda.

Junto com alguns colegas do campus, Maria do Socorro iniciou um coletivo em busca de entender as especificidades da educação para jovens e adultos, o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Educação Profissional e Tecnológica. Por meio dele, passaram a constatar as dificuldades de implantação de uma política que atendesse às necessidades dos alunos do Proeja.

“A partir de 2011 e 2012 é que ela foi instituída como política pública, mas na prática, isso não acontecia. Éramos um grupo pequeno, que fazia com que as coisas acontecessem. Conseguimos fazer perceber como era importante para aqueles alunos se sentirem parte da história, de uma educação pública, com a qualidade que nós temos”, enfatiza a professora.

Naquele mesmo período, Maria do Socorro levou esses embates para o desenvolvimento de seu doutorado, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que foi intitulado “De Patinho Feio a Cisne: Desafios da Implantação de uma Política Institucional para o Proeja no Ifal”.

“O meu projeto de pesquisa foi exatamente a implantação de uma política institucional para o Proeja no Ifal. A minha pesquisa toda foi conhecer a implantação do Proeja no Ifal e como até aquele momento, o que estava acontecendo para que aquela política realmente acontecesse”, recorda a professora.

O lugar do aluno do EJA/EPT

Com o relato “O lugar do aluno do EJA/EPT: é onde ele quer estar”, a professora Fátima Amorim completou o time de docentes do Ifal na coletânea. Na obra, a docente relatou sobre o seu processo de adaptação, ao sair do Ensino Superior e entrar na EJA. Ela também relata como foram iniciadas atividades de pesquisa e extensão, desde que integrou o Ifal, em 2011.

Foi naquele período que teve início o projeto de pesquisa “Como se forma um polo gastronômico?” atividade pioneira na modalidade EJA, no Campus Marechal. Ela foi desenvolvida no Polo Gastronômico da Massagueira e surgiu como parte da disciplina da História de Gastronomia, ofertado no Curso de Cozinha.

“Eu procurei utilizar algo que já é da convivência deles, porque os alunos são de Marechal Deodoro e isso iria aguçar a curiosidade de compreender aquela história. Até então, esses alunos não participavam de nada que estivesse fora do horário noturno e do ambiente de sala de aula”, lembrou.

Eles faziam visitas à Massagueira para entrevistas com os proprietários dos restaurantes, durante o período da tarde. “A partir do envolvimento dos alunos e do interesse deles em participar de atividades extraclasse, porque até então a cultura era de que esses alunos não eram convidados a participar de nada, fora da escola. A parir da pesquisa, nós percebemos que isso era um preconceito com esses estudantes e que aquela falta de interesse não correspondia com a realidade”, comenta Fátima.Professora Fátima Amorim relata inserção de alunos da EJA em atividades de pesquisa e extensão.jpg

A docente reforça que todas as atividades eram vinculadas aos componentes curriculares para que eles percebessem a importância de atrelar o conhecimento à comunidade em que vivem.

“A partir desta pesquisa, nós fizemos nosso primeiro projeto de extensão. Por iniciativa de um dos alunos da turma, ele trouxe uma ideia, de levar para a escola onde ele estudou o que a gente discutia quanto à higiene e manipulação de alimentos. Ele quis levar para o setor de merenda escolar o que a gente estava discutindo na sala de aula: a higiene dos utensílios, dos alimentos, o armazenamento, a higiene pessoal, o controle de pragas”, detalha.

Depois do projeto de extensão, outros professores começaram a desenvolver atividades de pesquisa e extensão, tornando isso uma prática comum na EJA da unidade.

Em 2015, outro projeto, tornou-se o primeiro da EJA aprovado pelo Programa de Iniciação Científica (Pibic): “O perfil demográfico e socioeconômico de estudantes da modalidade do Proeja do Ifal Campus Marechal Deodoro”, fez um levantamento estatístico das origens e características sociais dos alunos. Socorro comenta que naquele momento as dificuldades iniciais foram as mesmas que teriam com quaisquer estudantes. Para ela, foi crucial criar uma cultura para que eles criassem o hábito de estudar fora do horário das aulas.

“Era preciso que eles tivessem alguns dias da semana na escola, no horário da tarde. Então nesses horários nós fazíamos discussões, grupos de estudos, nós pegávamos a temática para levar a comunidade para a pesquisa e estudávamos, fazíamos a leitura de textos e os discutíamos para o desenvolvimento de pesquisas”, pontua a professora.

Para a docente, os ganhos foram de todo esse trabalho foi o maior envolvimento dos alunos e a aplicabilidade do conhecimento em sua realidade. “Temos um crescimento dos estudantes que não tem preço: é notório que o envolvimento do estudante nas atividades de pesquisa e extensão faz com que eles tenham outra postura, outro jeito de falar e uma capacidade de avaliação muito acima de quando ele começou”, defende Fátima.

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