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Jovens doutores pesquisam biologia, química e recursos naturais no litoral alagoano
Telma, Tiago e Renato representam a nova geração de docentes do Ifal em cidades litorâneas
Jovens doutores estimulam estudantes de cursos técnicos, superior e pós-graduação
Por Acássia Deliê e Anny Rochelly
Telma, 28 anos, recém-chegada ao estado, se prepara para criar observatórios de meio ambiente em municípios alagoanos. Tiago, 31 anos, tem planos para um pós-doutorado em Química na França. Renato, 35 anos, está pronto para integrar a equipe de professores de um novo mestrado em Alagoas.
Telma, Tiago e Renato têm mais em comum do que o desejo por conhecimento. Eles são professores do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e detêm o título de doutores mais jovens dos campi onde atuam, todos em municípios do litoral alagoano. No episódio de hoje da série “Jovens Doutores”, conheça o trabalho destes profissionais dos campi Maragogi, Marechal Deodoro e Coruripe.
Pesquisa e extensão em Coruripe
Dos 869 docentes de todo o Ifal, 160 são professores doutores envolvidos com pesquisa e extensão nas cidades nas quais atuam, o que representa quase 20% do número total. Telma Alves é uma delas. Natural da cidade de Sumé, na Paraíba, ela chegou em Alagoas há apenas um mês, atraída pela carreira de docente no instituto federal e pelas oportunidades de realizar projetos de pesquisas e extensão.
Doutorada em Recursos Naturais, pela UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), Telma decidiu seguir a carreira acadêmica ainda na universidade, quando fez pesquisas em climatologia geográfica, como bolsista do Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic). O incentivo de professores e o interesse particular pelas questões semiáridas, climáticas, hídricas e florísticas do bioma Caatinga fizeram com que emendasse a graduação em um mestrado e, em seguida, no doutorado, sempre entre os alunos mais jovens das classes.
“Além disso, é importante mencionar a ampliação dos programas de pós-graduação no país na última década, resultado de investimentos em pesquisa, ciência e tecnologia. Esse aumento de vagas criou oportunidades para jovens recém-formados interessados em pesquisa, contribuindo assim para o desenvolvimento do nosso país”, avalia Telma.
Para ela, se por um lado a pouca idade traz a satisfação do êxito precoce, por outro traz a responsabilidade de, mesmo com menor experiência profissional, colaborar para um ambiente de discussão e aprendizagem dinâmico e proveitoso. “A relação com os doutores mais experientes é colaborativa, sempre visando o bom andamento das atividades do Campus e o compartilhamento de ideias e experiências. O nosso trabalho tem sido de parceria”, conta Telma.
Hoje professora de Geografia no Campus Coruripe, ela planeja desenvolver ações que contemplem comunidades locais e atenda às demandas da sociedade. Entre os planos para 2017 e 2018 estão um projeto de pesquisa sobre elementos climáticos e fatores geográficos; a oferta de cursos de noções básicas sobre cartografia, geotecnologias e sensoriamento remoto; e criar um observatório dos municípios alagoanos, relacionando dados socioeconômicos e ambientais.
Química medicinal em Maragogi
Na outra ponta do litoral alagoano, o professor Tiago Bento também concentra os trabalhos no desenvolvimento social. Docente dos cursos de Agroecologia e Hospedagem em Maragogi, o servidor desenvolve pesquisas e pós-graduação na área de Química Medicinal, mais precisamente na Síntese Orgânica.
O docente entrou no Ifal em 2013, com doutorado já concluído em Inovação Terapêutica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Trabalho na área de pesquisa desde 2006, tudo se iniciou com a iniciação científica ainda na graduação”, declarou.
Além de atuar no laboratório da UFPE em pesquisas de seu interesse, o professor é engajado no Pró-Ifal, projeto de extensão desenvolvido no campus que prepara jovens da comunidade para ingresso nos cursos técnicos do instituto. Ele também está envolvido com o projeto de pesquisa “Uso e diversidade de plantas medicinais brasileiras”, orientado pelo docente Joabe Gomes desde o ano passado.
Tiago já recebeu vários prêmios em congressos que participou, sendo o último deles na BrazMedChem 2014, um congresso internacional na área de Ciências Farmacêuticas e que o premiou pelo melhor pôster apresentado na sessão de “Synthesis and biological activity”. O docente também recebeu uma menção honrosa na X Reunião Regional da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, em 2014, pelo trabalho: "Síntese, Caracterização Estrutural e Avaliação Antifúngica de Derivados 4-Tiazolidinonas".
O curriculum lattes de Tiago contêm artigos publicados em periódicos, resumos publicados em anais de congressos, apresentações de trabalho e participação em bancas de graduação, mestrado e doutorado. Uma patente também faz parte da trajetória acadêmica do professor, tema principal de sua tese de doutorado. “Ela protege uma classe de substâncias que possuem o anel tiofênico e que possuem atividade anticâncer. Os estudos subsequentes estão sendo feitos”, detalhou.
Mas os planos de estudo não param por aí. Tiago está participando de uma seleção para um pós-doc na França, com duração de 1 ano, na Université Grenoble Alpes, no Centro de Pesquisa Joseph Fourrier. O resultado está previsto para meados de junho e a capacitação deverá ser financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O professor trabalha com pesquisas de caráter mais científico e de caráter patentário, focando na síntese de possíveis medicamentos, o que explica seu envolvimento com diversos projetos de pesquisa na UFPE e também seu interesse pelo pós-doutorado. “Estou empolgado para que esse projeto dê certo porque se aprende muita química, tem muita ciência envolvida e é legal porque você troca muitas experiências com pessoas de fora”, disse, entusiasmado.
Novo mestrado em Marechal Deodoro
Quem também está empolgado com um projeto de pós-graduação é o professor Renato Romero, do Campus Marechal Deodoro. Mas, neste caso, ele vai integrar o corpo docente do mestrado profissional em Tecnologias Ambientais, que será o primeiro mestrado da história do Instituto Federal de Alagoas. A primeira turma está prevista para o segundo semestre de 2017, mas os trabalhos de organização estão correndo nos bastidores.
E Renato tem trabalhado ativamente para o projeto sair do papel, junto com outros docentes do Ifal. “Já conseguimos a aprovação da Capes. Considero isso uma conquista coletiva e institucional, fruto do trabalho de diversos jovens mestres e doutores de vários campi, com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). O novo curso busca gerar conhecimento aplicado a demandas da sociedade, sejam elas demandas empresariais ou socioambientais”, explica Renato.
Natural de São José do Rio Preto, em São Paulo, ele chegou ao Ifal em 2010, quando ainda concluía o doutorado em Biologia Animal, pela Unesp (SP). Enquanto finalizava as análises e redação da tese, foi aprovado em três concursos públicos e optou por Alagoas, por se identificar com o curso superior em Gestão Ambiental e com o curso técnico em Meio Ambiente, ambos ofertados pelo Campus Marechal.
Sobre a produção dos últimos sete anos, Renato afirma que, de forma geral, a instituição tem apoiado a execução de seus trabalhos acadêmicos, mas também aponta desafios a serem vencidos. “Como a realidade da pesquisa cientifica ainda é nova na instituição, nosso caminho ainda é longo até nos fundarmos em bases sólidas”, avalia o professor, cujos estudos de destaque são sobre ecologia de peixes de riachos e de insetos aquáticos.
Assim como Telma e Tiago, Renato também começou a se interessar pela carreira acadêmica na universidade, embora sempre tenha sido um curioso da natureza. “Desde pequeno observava os animais e as plantas e tentava entendê-los. Acredito que a curiosidade seja uma das essências de qualquer ciência. A escolha pelas ciências biológicas veio a partir da inspiração em alguns ‘naturalistas’ como Charles Darwin e Edward Wilson, personalidades que sempre admirei pelas descobertas que fizeram. Mas foi no Ifal, em Marechal Deodoro, que me descobri como professor”, conta Renato.
A série Jovens Doutores
A série de reportagens “Jovens doutores”, que tem início nesta sexta-feira (10) e se estende até abril, visa traçar o perfil dos professores com idade até 35 anos que possuem a titulação de doutor e apresentam um trabalho diferenciado na comunidade ao redor dos campi nos quais estão lotados, além de representarem a instituição em eventos científicos de todo o país e também no exterior.