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Protagonismo Negro na Literatura Brasileira em evidência na escola

por Bartolomeu Honorato publicado: 04/11/2022 11h52, última modificação: 04/11/2022 12h51
Exibir carrossel de imagens Bartolomeu Honorato Reunião do grupo ocorre na Biblioteca Terezinha Xavier

Reunião do grupo ocorre na Biblioteca Terezinha Xavier

A professora Adrielle Soares Cunha desenvolve dois projetos ligados ao protagonismo negro na Literatura Brasileira, no Campus Maragogi.  As atividades desses grupos incluem a leitura de autores negros em reuniões periódicas, na Biblioteca, e discussões com docentes de escolas públicas sobre a literatura negro-brasileira. Recentemente, o auditório da escola recebeu a “Pequena Mostra de Arte e Intelectualidade Negra Contemporânea'', que contou com apresentações musicais e de dança, exibição de vídeos e declamação de poemas. Em uma entrevista para o site do Campus, Adrielle conta um pouco das experiências dos participantes com a Literatura Negro-brasileira.

 

O projeto de extensão "Protagonismo Negro na Literatura brasileira: um caminho para a descolonização do currículo de Língua Portuguesa" já começou há alguns meses. O que mudou na vida dos alunos participantes após o início das atividades?

Adrielle - Creio que desde julho, quando iniciamos com o processo de convidar mais escolas para serem parceiras do projeto, mais estudantes para comporem a equipe do projeto e nos prepararmos para as ações com as escolas, tem sido uma trajetória de muitas trocas relevantes. Acredito que o primeiro ganho tenha sido de nos percebermos como um grupo de idades, séries e cursos diferentes, mas com um único propósito. Outro saldo positivo tem relação com o fato dos(as) estudantes estarem assumindo um protagonismo nas atividades, afinal, eles(as) estão sempre como ministrantes de oficinas, minicursos, rodas de conversa e eventos. É recompensador acompanhar o crescimento de cada um nessa jornada. E claro houve o objetivo principal desse projeto: possibilitar o acesso a Literatura Negro-brasileira, através de ações que estabeleçam conexões entre a obra literária e as artes visuais, o teatro, a música, por exemplo. Tanto os(as) estudantes do Campus que fazem parte da equipe do Projeto quanto os das escolas parceiras demonstraram um grande interesse pelas obras, uma vontade de realizar as leituras propostas, fazer as reflexões e se envolver nas atividades sugeridas. Por isso, acredito que o que mudou nos(as) estudantes talvez tenha sido um pouco a visão de si. Vê-se como protagonista na condução de uma atividade, acreditar no seu potencial e ainda mais sentir-se representado(a) nas obras lidas têm sido transformador.

O que mais te chamou a atenção no andamento desse projeto?

Adrielle - Para mim, o que mais me impressionou foi o comprometimento tanto dos(as) estudantes do campus quanto das escolas parceiras. O desejo de "fazer dar certo" custe o que custar é notório nas falas e nas ações dos(as) envolvidos(as). Em relação à equipe do projeto, são 17 estudantes, entre eles 2 bolsistas e 15 voluntários(as). Uma equipe extensa e muito participativa. Todos(as) têm uma função para que o que nós planejamos ocorra. Quanto às escolas, nós dependemos dos transportes cedidos pelas prefeituras. Os(as) gestores(as) ajudam a realizar todo mês esta ponte com as secretarias de transporte do município e reorganizam a rotina das escolas no dia dos eventos. Além disso, os(as) estudantes e os(as) professores(as) demonstram muito interesse em participar ativamente das discussões e atividades.

Quais são os livros que mais mexeram com os alunos? Qual a razão disso?

Adrielle -  Diante do envolvimento tanto dos(as) estudantes do campus quanto das escolas estaduais parceiras, percebo que os livros "Tudo nela brilha e queima", de Ryane Leão e "Quarto de Despejo: Diário de uma favelada", de Carolina Maria de Jesus, foram as obras mais bem recebidas. Creio que, no caso de Ryane Leão, tenha relação com uma poesia de linguagem acessível, de temáticas que fazem parte do cotidiano deles, do grau de intimismo que o texto possibilita entre autora e leitores(as). Já em relação a Carolina Maria de Jesus, penso que tratar da realidade da vida na favela de uma forma tão clara, sem meias palavras, com uma linguagem também acessível e reflexões tão pertinentes, inclusive, para fazer uma leitura da realidade do país, talvez seja o motivo da paixão que ela causou entre eles(as). Dado importante foi o fato do Grêmio Estudantil do Campus ter mudado o nome para Carolina Maria de Jesus depois da leitura desse livro no Projeto de Ensino e no Projeto de Extensão.

Estudantes com a professora Adrielle (centro) no encontro de outubro

O Protagonismo Negro na Literatura brasileira também é uma oportunidade de os professores de escolas da região terem contato com o projeto. Na sua opinião, como está a participação desses educadores?  O que acrescentou na vida deles e o que eles acrescentaram ao projeto?

Adrielle - Nos meses de agosto e setembro eu me reuni com os(as) docentes enquanto os(as) estudantes da equipe do Projeto estavam com os(as) discentes. Dessa forma, tive a chance de me aproximar desse grupo. Inicialmente pensávamos que, diante da minha formação, o convite deveria ser feito para os(as) professores(as) de Língua Portuguesa das escolas estaduais. Mas, diante do diálogo com os(as) gestores(as), percebemos que esse convite deveria ser estendido para docentes das áreas de Linguagens e Humanidades. A participação deles(as) é muito ativa. Participam das discussões, trazem suas vivências, suas preocupações, suas dúvidas, suas reflexões em nossos diálogos. Estamos em sintonia. Acredito que o projeto tenha possibilitado um momento na rotina corrida da docência de discutir e pensar juntos em estratégias de modificar o silenciamento da História e da Cultura Afro-brasileira nos currículos e na prática de sala de aula. Importante destacar que eles são o projeto. Sem o interesse, a participação e as ricas trocas, o projeto é só um planejamento.

Tivemos o evento do projeto no auditório, em outubro passado. Qual o saldo dele?

Adrielle -  Após as ações dos meses de agosto e setembro, nosso planejamento contava com uma Mostra de Arte e Intelectualidade Negra Contemporânea em outubro. Propositalmente o evento não foi planejado para novembro. Justamente porque cristalizou-se a ideia de que só se trata de Racismo e Negritude no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Outro fator para a escolha desse evento no meio do projeto e não no final era para quebrar com a ideia de culminância. Trazer a arte para a escola não deve acontecer apenas em momentos de encerramentos, mas no percurso também. E, diferente do planejado, receber o 9° ano de uma escola municipal para participar desta atividade inicialmente voltada para o Ensino Médio. Nessa perspectiva de quebra de padrões, fizemos outras parcerias para a realização da ação de outubro. 

O Projeto de Extensão se reuniu ao de Ensino e aos 4° anos de Agroecologia A e B, já que sou docente das duas turmas e estou trabalhando com eles no terceiro bimestre a Literatura contemporânea. Percebo, diante desse contexto, muitos saldos positivos. O primeiro deles é o envolvimento dos(as) estudantes do campus. Trazer seus poemas e canções favoritos, conhecer intelectuais que infelizmente estão pouco presentes em sala de aula e  interessar-se pela leitura de livros teóricos que são abordados em sala de aula desde o 3° ano foram atitudes que geraram encantamento na trajetória de construção do momento. O processo foi tão lindo quanto a execução. No dia, ficou um saldo de uma ação bem articulada, com os(as) estudantes empoderados das mensagens que queriam transmitir para a plateia e um público vibrante, que acompanhou tudo com muita atenção e respeito. Verdade que a programação era tão extensa que os últimos blocos precisaram de um enxugamento, mas nada disso ofuscou o brilho do talento de todos(as) que estiveram na apresentação e nos bastidores também. Sinto que o saldo seja reconhecer a Literatura como um espaço para lutar contra os privilégios e ter tido o acesso a diversas potências negras na Literatura e na Intelectualidade.

Quais as escolas participantes do evento de outubro? Teve estimativa de público?

Adrielle - As escolas convidadas foram a Escola Estadual Dom Eliseu, de Japaratinga, e Escola Estadual Maria Margarida, de São Luís, que estão conosco desde a primeira ação do Projeto. Além delas, desta vez recebemos também a Escola Municipal Domingos Fernandes, de Porto Calvo. O público foi 235 pessoas.