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Vamos parar de falar em inclusão e incluir?
Albanize Mirindiba, professora do Centro Cyro Accioly, conta como a escola pode ajudar no processo de dar autonomia às pessoas com deficiência
Nesta semana, nos dias 12 e 13, a Coordenação Pedagógica do Ifal Arapiraca realizou o Encontro Pedagógico 2019. A programação contou com palestrantes que discutiram a articulação de saberes na perspectiva da formação continuada e da inclusão. Uma das convidadas foi a professora Albanize Mirindiba, do Centro Estadual Cyro Accioly para pessoas com deficiência visual, que fica em Maceió. Albanize, que também possui deficiência visual, atua na orientação e no treinamento dos alunos do Centro, para que eles tenham autonomia nas atividades que decidirem desenvolver. Na palestra, ela falou um pouco sobre o cotidiano das pessoas com deficiência visual, o processo de aprendizagem e os desafios para a gente deixar de discutir o assunto e partir para a prática. Em uma conversa após a apresentação, ela contou como a escola e os estudantes podem ajudar nesse processo.
Quais as suas atribuições no Centro Cyro Accioly?
Eu atuo no treinamento da pessoa com deficiência visual para a total integração dela ao espaço público interno. Preparo também para a autonomia, para o exercício de cidadania nas ruas, faço o treinamento interno e depois no quarteirão, na rua, para que ela possa realizar o deslocamento, ter mobilidade com autonomia. Também sou responsável pela formação de todos os profissionais da rede pública estadual nessa área.
O que é mais difícil para a pessoa com deficiência visual?
A maior dificuldade são as barreiras arquitetônicas, o ambiente público de uma maneira geral tem muitos buracos, lugares não adaptados, colocação de barracas nas calçadas, lixo. Tudo isso pode causar muitos acidentes. Falta consciência urbana e respeito à lei 9050, que é a lei que trata da acessibilidade.
Por que a gente precisa parar de falar sobre inclusão?
Eu não gosto muito da palavra inclusão porque quando a gente discute a inclusão é porque a inclusão não aconteceu. Incluir significa deixar uma pessoa ter acesso àquilo que é comum a todos. Ela ter uma educação adaptada a ela sim, mas que seja com a mesma qualidade e com a mesma naturalidade que a gente faz em direção a todos. Isso está na convenção de Salamanca e é o que eu acredito e o que eu prego.
Hoje a gente vê que as pessoas estão na busca de uma capacitação, de um conhecimento para tentar fazer o processo começar. O problema é que a gente já vem falando nisso há vinte e tantos anos. Então, a gente está atrasado. E parou-se de tentar massificar. Agora é corpo a corpo, eu modifico você, que vai sair daqui e vai falar para outro. Então, cada vez que eu modificar um, esse vai modificar dois, três, quatro, então eu e muitos dos meus colegas adotamos essa prática.
Como a escola pode ajudar a criar condições para que a pessoa com deficiência exerça sua cidadania com autonomia?
Em primeiro lugar, ela tem que respeitar a questão da acessibilidade. Não existe inclusão sem acessibilidade. Se você não tem espaço acessível, você não tem inclusão. Cada vez que você precisar de um terceiro para mobilizar um, a inclusão não aconteceu. E é preciso capacitar os profissionais. Você precisa plantar uma semente igualitária, que as pessoas não digam ‘eu tenho uma pessoa com deficiência’. Não, eu tenho uma pessoa que tem necessidades diferenciadas e essas necessidades diferenciadas vão ser atendidas. Vai chegar um ponto em que a inclusão vai existir de verdade, que eu vou olhar e ver ‘meus alunos’ e não ‘meus alunos e o meu aluno cego’.
Como os estudantes podem ajudar nesse processo?
Acredito que é uma questão de divulgação mesmo, de convocação para palestras, uma vivência, duas ou três horas em que eles conheçam o universo da pessoa com deficiência (não só da cegueira, mas também de outras deficiências), essa conscientização, tanto vai facilitar no trato com o aluno em questão dentro da instituição, como vai melhorar a situação dessa pessoa, que ela vai ser um multiplicador.