Leitura e aprendizagem: pesquisa analisa experiências no ensino médio integrado do Ifal Arapiraca

Qual o papel da leitura na aprendizagem? E como os professores podem estimular o gosto pela leitura para facilitar o processo de ensino? Essas são questões discutidas na pesquisa desenvolvida pela professora Adriana Nunes sobre a experiência de professores e estudantes do ensino médio integrado do Instituto Federal de Alagoas, (Ifal), campus Arapiraca. No final de outubro, um artigo sobre o tema foi publicado em livro.

O levantamento de dados foi feito no campus entre os anos de 2015 e 2017, com docentes dos cursos de Informática e Eletroeletrônica. “A pesquisa foi motivada por uma reclamação constante entre os docentes do próprio campus os quais afirmavam que os discentes não conseguiam acompanhar as mais diversas disciplinas por não serem bons leitores. Assim, decidi fazer a pesquisa (durante o doutorado) que objetivou identificar o papel da leitura na aprendizagem das disciplinas técnicas no ensino médio integrado”, explica Adriana.

Durante a pesquisa, as aulas de professores que atuam em disciplinas técnicas no campus Arapiraca foram filmadas e as práticas em sala de aula discutidas em entrevistas.

"É  fundamental que haja união entre prática e teoria, essa pode ser realizada utilizando a leitura como alicerce" (Adriana Nunes)

O trabalho leva em consideração o resultado de pesquisas como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Regularmente, é feita uma avaliação em dezenas de países sobre as habilidades de estudantes relacionadas à leitura, educação financeira, matemática e ciência. A edição mais recente foi aplicada em 2018 e o resultado mostra que o desempenho com a leitura, em cerca de uma década, não avançou entre os estudantes brasileiros.

De acordo com o Pisa, em 2009 a pontuação do Brasil nas habilidades de leitura era 412. A mesma pesquisa mostra que em 2018 os estudantes obtiveram 413 pontos, 74 abaixo da média dos estudantes dos países da OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – (487). No nordeste, a pontuação cai para 389 pontos.

“A leitura é um tema amplamente discutido: ora a ausência dela é culpada pela falta de criticidade ou por comprometer o exercício da cidadania; ora é o ‘maior problema da educação brasileira’, pois temos notas baixas em avaliações internacionais como o Pisa, ora é a culpada pelas notas baixas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), pois a prova ‘tem muitos textos’, como afirmam alguns alunos. Essa discussão, sabemos, é importante e deveria estar presente em especial no ambiente escolar, no qual professores debateriam a questão da leitura e da formação do leitor e de seu papel na aprendizagem”, reflete a professora, na introdução do artigo “Entre o real da atividade e a atividade real: uma experiência de autoconfrontação no ensino médio integrado”, de coautoria da professora Maria Auxiliadora Cavalcante da Universidade Federal de Alagoas. O artigo integra o livro recém-publicado Psicologia sócio-histórica e educação, das organizadoras Wanda M. Junqueira de Aguiar e Ana M. Bahia Bock.

No andamento da pesquisa, os docentes foram orientados sobre formas de inserir a leitura de modo mais eficiente na sala de aula. “Um deles fez alterações em seu plano de trabalho e comentou que percebeu um maior êxito no desempenho dos estudantes em sua disciplina, eles passaram a compreender melhor os textos técnicos trabalhados em aula e necessários ao desempenho profissional deles”, analisa a professora Adriana.

Em um mundo marcado por mudanças, onde a quantidade e a variedade de material escrito aumentam a cada dia, é preciso um olhar especial para as habilidades com a leitura. “Concluí, na pesquisa, que é  fundamental que haja união entre prática e teoria, essa pode ser realizada utilizando a leitura como alicerce. Verificou-se que há a necessidade da construção de manuais que norteiem a construção de conhecimento dos alunos nas áreas técnicas, é importante que a leitura esteja mais presente nas disciplinas do ensino médio integrado”.