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Filosofia e equilíbrio: como reflexões ajudam a questionar o lugar da mulher

Professora do Ifal lança livro que desperta reflexões sobre desigualdade de gêneros
por Elaine Rodrigues publicado: 17/03/2021 11h29, última modificação: 17/03/2021 11h29
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Livro questiona desigualdade de gêneros com conceitos e exemplos

Ao longo da história, o estudo da Filosofia tem despertado propósitos, modificado percepções e provocado reflexões na humanidade sobre a vida e suas próprias experiências. Mas a presença feminina no universo de filósofos, desde os mais antigos aos profissionais da atualidade no Brasil, sempre foi tímida. “Por que somos tão poucas na Filosofia?”, questionou a professora Ellen Melo, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Arapiraca.

Em busca por respostas, ela fez um estudo e descobriu que a quantidade de professoras de Filosofia em universidades e Institutos Federais do Brasil não chega a 20% dos quadros. “Eu percebi, ao longo da minha trajetória, que há um grande desequilíbrio ainda entre o feminino e o masculino. A Filosofia abre esse leque de possibilidades para que a gente consiga ver além da aparência, além de coisas cotidianas e corriqueiras: nós, mulheres, ainda estamos em uma condição de muita disparidade”.

"Não só na Filosofia, mas à medida que, hierarquicamente, a gente vai subindo algumas posições, a gente vai entendendo que a presença feminina é menor" (Ellen Melo).

Foi nesse contexto que a professora escreveu o livro Em Busca do Equilíbrio - entre o feminino e o masculino. A obra resgata o propósito da Filosofia de questionar e encontrar razões para o que é feito pela sociedade e o foco está nas diferenças que ainda persistem entre homens e mulheres. É um convite a repensar sobre situações cotidianas que mascaram preconceitos e traços de machismo.

“Esse livro surge dessa minha inquietação, dessa minha indignação também diante desses desequilíbrios. Não só na Filosofia, mas à medida que, hierarquicamente, a gente vai subindo algumas posições, a gente vai entendendo que a presença feminina é menor. Há um desequilíbrio e esse livro denuncia esse desequilíbrio fazendo com que a gente entenda que, na verdade, ele está onde a gente nem imagina: em pequenas situações do cotidiano que a gente acha bonitinho, interessante. Mas muitas vezes, esse ato de romantizar o feminino é também o ato de fragilizar”, ressalta a professora.

Lugar da mulher

Livro questiona desigualdade de gêneros com conceitos e exemplosNo decorrer do livro, cenas sobre situações cotidianas, padrão de beleza exigido e até relacionadas à violência física e psicológica contra as mulheres são relatadas. Uma das reflexões estimuladas pelo livro é sobre o lugar ocupado pela mulher. Assim como na Filosofia, ainda hoje muitos cursos e profissões possuem maioria masculina, locais que se tornam um desafio de acesso para as mulheres. E quando elas se formam, conseguem capacitação, muitas vezes não têm oportunidade para ocupar cargos mais altos, como chefias e diretorias.

A situação não ocorre somente no Brasil, é global e recebe atenção da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2015. Naquele ano, a ONU adotou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com dois dos 17 objetivos relacionados à educação para todos e à igualdade de gêneros.

Pela primeira vez, a igualdade de gêneros ganhou uma prioridade global como estratégia de desenvolvimento sustentável. O objetivo número cinco estabelece “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”. As discussões sobre ele mostram que mesmo que homens, mulheres, meninos e meninas possuam os mesmos direitos, na prática não ocorre assim. Meninas e mulheres estão em desvantagem e vivem em situação de desigualdade em relação aos meninos e homens.

De acordo com a professora Ellen, o primeiro passo em direção à mudança é perceber melhor o mundo para questionar a realidade. “O lugar de mulher é onde ela quiser. Eu posso querer ser dona de casa, ser mãe e estar feliz com isso. Mas o fato de eu querer ser outra coisa, seja lá que coisa que eu queira ser, é extremamente liberado, lícito e minha condição de gênero não deve me limitar por isso. (...) Esse é o grande objetivo, é que a gente mude ideias e mude comportamentos. E eu acredito, de fato, que é extremamente possível que a gente tenha equilíbrio”, finaliza a professora.