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Do Pibic ao mestrado na UFRJ: conheça a trajetória do egresso de Letras que se apaixonou por pesquisa no Ifal Arapiraca
Nesta terça-feira (13), serão lançados os editais de Pesquisa e Inovação do Instituto Federal de Alagoas - Ifal para o biênio 2025-2026. Além do impacto social gerado pelo conhecimento produzido nos projetos aprovados, os editais representam a oportunidade para centenas de estudantes da instituição terem contato com a iniciação científica e tecnológica, desenvolvendo habilidades e abrindo portas para a carreira acadêmica.
Foi o que ocorreu com o egresso da licenciatura em Letras/Português do Campus Arapiraca, Vitor Gabriel Caetano Alves, que atuou em dois projetos de iniciação científica durante a graduação. Em março deste ano, ele deu início a uma nova jornada educacional no Sudeste do país, onde passou a frequentar as aulas do mestrado em Linguística Aplicada, na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Morando atualmente na capital carioca, a quase 2.000km de distância da família, dos amigos e dos gatos de estimação, o jovem arapiraquense contou como surgiu a paixão pela profissão escolhida, a contribuição do Instituto Federal para sua consolidação como pesquisador e o percurso traçado até conquistar uma vaga na seleção desejada.
O INÍCIO DE UM SONHO
"Durante toda a minha trajetória escolar, fui aluno da rede pública de ensino e tive a honra de estudar com excelentes professores e professoras que me mostraram a força das palavras e o poder da educação. Sempre gostei de escrever desde muito cedo e a disciplina de Língua Portuguesa era a minha favorita. A ideia de cursar Letras surgiu em algum momento do meu primeiro ano do ensino médio. Prestei o Enem em 2018, com a certeza de qual curso escolheria caso fosse aprovado", comentou Vitor.
O estudante não contava com um imprevisto: ser eliminado no segundo dia de exames quando, por descuido, abriu a prova antes do horário. "Foi um acontecimento bastante inesperado que serviu para me ensinar uma lição valiosa de que, às vezes, as coisas só acontecem na hora certa".
No ano seguinte, Vitor conheceu o Ifal por meio de um curso de Recreador Cultural ofertado gratuitamente à comunidade. "Foi nesse momento que pisei no campus pela primeira vez. A primeira turma de Letras havia iniciado e logo me interessei pelo lugar. Disse a mim mesmo que voltaria para estudar ali. Como não tinha dinheiro para pagar um cursinho, passei o ano estudando em casa por conta própria para então, finalmente, fazer a prova [do Enem] outra vez. Comemorei de felicidade quando recebi a nota e comemorei mais ainda quando saiu o resultado oficial do Sisu, informando o deferimento da inscrição no curso de Letras do Ifal".
"Tive o prazer de aprender sobre o ofício da docência com professores e professoras muito bem capacitados, gentis e acolhedores. Cada uma das experiências de vida e inspirações pessoais compartilhadas nesse período me fizeram perceber que é na docência o meu lugar", destacou o ex-graduando de Letras.
Em fevereiro de 2020, Vitor iniciou o ensino superior no Campus Arapiraca e, ao longo dos quatro anos da graduação, participou de dois projetos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Pibic, bem como do Programa de Residência Pedagógica - PRP. "Os projetos tiveram um enorme diferencial na minha formação acadêmica e profissional", afirmou.
No segundo projeto de iniciação científica do qual participou, Vitor contou com a orientação do professor Danillo Silva. Segundo ele, foi a partir daí, que conheceu mais a fundo a Linguística Aplicada, se encantou ainda mais pela área da pesquisa e começou uma parceria com o docente, que perdura até hoje.
No seu Trabalho de Conclusão de Curso, também com a orientação do professor Danillo, o egresso de Letras investigou um fenômeno linguístico que ocorreu nas redes sociais a partir de uma matéria, publicada pelo site português Diário de Notícias, que abordava a maneira como algumas crianças lusófonas estariam perdendo seu sotaque por conta de youtubers brasileiros.
"Realizei uma etnografia digital a fim de interpretar criticamente alguns comentários na rede social Facebook sobre a matéria em questão e investigar quais ideologias linguísticas circularam nessas interações. Por se tratar de uma pesquisa extensa e com muitos desdobramentos, algumas das análises que ficaram de fora do trabalho final foram reorganizadas e aprofundadas em um artigo que, em parceria com o professor Danillo, foi submetido e publicado pela revista Trabalhos em Linguística Aplicada, uma revista Qualis A1, que é a classificação mais elevada que uma revista científica pode receber no sistema Qualis (Capes)", apontou Vitor.
Conforme o estudante, a vontade de seguir carreira acadêmica cresceu ainda mais com as iniciações científicas e foi constantemente encorajada pelo professor Danillo, a quem ele definiu como "um orientador brilhante, engajado e cuidadoso". "Ele me deu suporte e abriu caminhos para que eu desenvolvesse meu projeto de pesquisa nos últimos meses da graduação, com o objetivo de entrar no Mestrado pela Universidade Federal de Alagoas - Ufal no ano seguinte. Acontece que no dia de enviar os documentos para efetivar a inscrição no processo seletivo, acabei anexando um documento de forma equivocada e, por consequência, acabei eliminado da seleção. Ou seja, pela segunda vez, meus planos foram por água abaixo por conta de um descuido meu. Mas essa situação não foi suficiente para me desanimar. No ano seguinte, eu sabia que tentaria de novo".
DEU TUDO CERTO!
De fora da seleção da Ufal, Vitor foi pego de surpresa com uma ligação telefônica de seu orientador cogitando sua participação na seleção de Mestrado do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PIPGLA) da UFRJ. "Nunca me imaginei deixando Arapiraca para estudar fora, ainda mais em uma das maiores universidades federais do país. Danillo disse que o projeto de pesquisa que eu havia escrito estava em um nível muito bom e, sem dúvidas, eu passaria na seleção. Assim, depois de muito refletir, resolvi acreditar nele e fazer a inscrição. Além do projeto e da arguição oral, uma das etapas do processo foi a realização de duas provas escritas presenciais na UFRJ, uma de inglês e outra de conhecimentos específicos de Linguística Aplicada. Como já estava dando aula, juntei minhas economias e viajei ao Rio de Janeiro para realizá-las. Nesse momento, tive o apoio do meu primo Ruan, que topou viajar junto comigo, e de três amigos que já moram no Rio e não hesitaram em nos receber na casa deles", detalhou o discente.
O resultado surpreendeu Vitor não só pela aprovação em 5º lugar, mas porque, das dezoito pessoas inscritas na linha de pesquisa escolhida pelo egresso, ele ficou entre as três que atingiram nota 10 na análise do projeto e na arguição oral.
Agora, como mestrando, Vitor irá investigar as trajetórias textuais que se propagaram no Twitter, Instagram e Youtube após a repercussão de alguns casos de destransição de gênero que viralizaram na internet e de quais formas eles se articulam para a concepção de narrativas patologizantes a respeito de pessoas desviantes dos padrões cisheteronormativos.
"Gostaria de ressaltar que essa aprovação no Mestrado, assim como muitas das minhas conquistas, não se limita e nunca vai se limitar apenas a mim. É preciso reconhecer e celebrar cada pessoa e cada contribuição direta ou indireta que me fizeram chegar até aqui. Seja o cuidado da minha mãe, os almoços quentinhos preparados diariamente pela minha avó, a dedicação da minha tia, o apoio e incentivo dos tantos professores e professoras ao longo da minha formação e até o 'Boa aula, Cabelinho' que o motorista do ônibus dizia quando me deixava próximo ao Ifal. É preciso ressaltar que não se faz pesquisa sem comprometimento ético e político com os sujeitos que nos circundam e nos constituem. Que não se faz ciência sem levar em conta as assimetrias cotidianas que muitas vezes passam despercebidas e que tanto nos atravessam. São elas que nos movem e nos impulsionam em direção aos nossos progressos e, portanto, merecem toda a valorização e reconhecimento possível", declarou o jovem pesquisador.
"Essa aprovação, além de um sonho pessoal, é também a materialização de uma vitória coletiva. Uma vitória de todas as pessoas que lutaram e lutam diariamente pelo avanço da ciência, pela democratização da pesquisa e por uma educação pública, gratuita e de qualidade. Um viva a todos nós. Seguimos fortes!", comemorou Vitor Gabriel.
Para ele, escolher ser professor e pesquisador no Brasil é "estar disposto a lutar pela educação para todos, promover a cultura, a ciência, o respeito, a igualdade e, acima de tudo, formar futuras gerações conscientes, éticas, justas e com oportunidades iguais". Por isso, Vitor deixou um recado motivador, especialmente para quem está ingressando ou pretende ingressar na licenciatura em Letras do Ifal Arapiraca.
"Continuem acreditando nos sonhos de vocês e se dedicando ao máximo para realizar cada um deles, mesmo quando as coisas não saírem como planejado. Aproveitem cada segundo dessa longa viagem de quatro anos para explorar as disciplinas e aprender ao máximo com os melhores professores com quem também tive a honra de estudar. Se possível, participem de eventos, congressos, programas de iniciação científica e iniciação à docência. Eles foram fundamentais para que eu seguisse carreira acadêmica e chegasse até aqui e não tenho dúvidas de que será para vocês também", finalizou.