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Talentos da casa: música, consciência social e a palavra de Deus

Dois servidores da reitoria relatam como a música determina sua forma de encarar a vida

publicado: 27/10/2020 17h10, última modificação: 27/10/2020 22h39

Gerônimo Vicente e Pedro Barros - jornalistas

“Brasil! Mostra a tua cara/Quero ver quem paga/Pra gente ficar assim/Brasil! Qual é o teu negócio?/O nome do teu sócio?/Confia em mim”. Os versos da música composta por Cazuza, George Israel e Nilo Romero, em 1988 e entronizada, na voz de Gal Costa para a novela Vale Tudo da Rede Globo, como trilha musical da corrupção no país têm uma simbologia especial para o auxiliar em Administração Carlos Henrique Santos, lotado na Coordenação de Aposentadoria da Diretoria de Gestão de Pessoas (DGP), da Reitoria do Instituto Federal de Alagoas (Ifal). Como servidor e cantor nas horas vagas, o trecho desta canção é uma forma de representatividade da dupla função exercida por ele, dentro e fora do ambiente de trabalho.

“Nesse momento, em que os servidores públicos, braços do Estado, são execrados pelos ditos representantes da nação, como um peso para a sociedade. Onde os verdadeiros privilegiados são isentos de qualquer ônus, com uma iminente reforma administrativa na tentativa de marginalizar ainda mais o servidor público, cabe a reflexão de nos manifestar, de lutar e não deixar que tomem o Brasil de vez”, respondeu Carlos à pergunta sobre qual música ou versos musicais significariam o exercício desse “binômio” profissional.Carlos comenta que sua relação com a música começou quando estava tentando entrar no Cefet, hoje Campus Maceió.jpg

Ao contar sua trajetória profissional e musical, Carlos pontua que o Ifal teve, indiretamente, participação em sua atividade de cantor.

“A música se tornou realidade para mim aos 14 anos de idade, quando busquei os primeiros acordes no violão. A minha primeira “apresentação” musical se deu durante os estudos extras, para alcançar um outro sonho, o de ingressar no antigo Cefet [Hoje Ifal]. Participei do curso preparatório situado na rua do comércio – Centro de Maceió. Coincidentemente, ‘o caro colega’, como era conhecido o professor de Matemática, utilizava a música como auxílio no ensino e tinha em sala de aula um violão e microfone. Foi então que em um daqueles intervalos me aventurei e toquei uma canção para os colegas presentes”, comenta.

Carlos comenta que naquele momento não teve uma apresentação nada boa, mas a partir de então a música sempre esteve presente em sua vida, “ora como atividade principal, ora como atividade secundária, ou simplesmente como fonte de luz”, contou o servidor.

Carlos ingressou na instituição federal de ensino em outubro de 2015 e foi ao atuar na Coordenação de Contrato e Admissão de Pessoal que os colegas de trabalho descobriram o cantor e músico. Durante um evento realizado no Ifal com o objetivo de revelar servidores identificados com a música, ele foi convocado para fazer dueto com servidores que dispusessem de habilidade musical.

Carlos Henrique hoje utiliza a música como forma de conscientização social e manutenção de um ambiente de trabalho saudável.jpeg“Na ocasião, fiz uma apresentação com voz e violão, com a participação das servidoras Ana Roberta (PRDI), Selma (PRDI) e do servidor João (DGP). Penso que a música une as pessoas. Então de forma natural, nos momentos em que as atividades administrativas parecem nos sobrecarregar, busco na música o ar para superar as dificuldades, seja com um fone de ouvido, seja em pensamento. Sempre que posso estou ‘experienciando’ a música nas relações interpessoais e somando energia positiva”, ressaltou.

Foi por meio desse experimento que surgiu, na DGP, a banda “Xaminoiz”, em bom português “Chame nós”, um saudável desespero dos habilidosos servidores influenciados por Carlos Henrique. O grupo, formado por Sebastião Junior, Adélia, Alessandro e Vivian se apresentou durante um Café Junino da Reitoria, em 2018, “deu conta do recado” e repetiu a dose musical na confraternização de final de ano da DGP.

“Esses momentos têm sido de muita integração e descontração entre os colegas e tem se expandido para encontros extra trabalho, com a presença de familiares”, destacou.

Com essa característica, o servidor do Ifal passou a cantar de forma esporádica em festas particulares e na noite alagoana. Além disso, resolveu se aventurar na formação de algumas bandas, a última que surgiu, durante a pandemia, e é chamada “Frequência Zero 2”, com estilos MPB, pop-rock e reggae.

Para Carlos, levar à música com reflexão e como mensagem de conscientização é um objetivo que o acompanha desde as primeiras notas musicais. Não é à toa que seu principal ídolo é o jamaicano Bob Marley e seu estilo musical, de preferência é o reggae. Para ele, o estilo caribenho tem nutrido a sua trajetória, além de que ele considera que as letras trazem visão crítica sobre as questões sociais, são combativas às desigualdades sociais e contra o sistema político opressor.

“Se por um lado são politizadas, por outro, também as músicas jamaicanas trazem reflexões de paz, amor à vida, ao próximo, de culto à natureza, ao divino e à abundância”.

Cura para a alma

É nas letras de outro ritmo que o corregedor do Ifal, Mauro Sales, encontra seu conforto.  Ele é cantor gospel e com a música, passou a disseminar a sua fé além das pessoas ao seu redor. Numa tarde de abril deste ano, enquanto a pandemia assustava e deixava confusa toda a população, o servidor apresentava sua canção de esperança e fé num telejornal local. O single “Bom ânimo” foi lançado no início de 2020 em diversas plataformas de streaming e no seu próprio canal do YouTube.

No mês seguinte, o servidor lançou sua segunda obra autoral, “O que dizes”, que lhe rendeu a participação numa playlist editorial do Spotify e a publicação do seu primeiro clipe no Youtube. Agora, Mauro já está trabalhando numa terceira composição, cujo lançamento está previsto para novembro.

Mas tudo começou de maneira bastante modesta, quando Mauro publicou seu primeiro vídeo, em 2015. Era uma versão em português de uma canção gospel australiana.Mauro Sales tem um canal no Youtube e vídeos com milhares de visualizações.jpg

“Foi a minha primeira vez visitando um estúdio e foi uma experiência muito interessante, apesar de ter sido algo bem simples, só com voz e violão e sem qualquer pré-produção”, conta o servidor, que já atingiu mais de 13 mil visualizações com o vídeo.

Apesar de ter passado dois anos sem publicações, seu canal retornou com diversos conteúdos, como covers, canções autorais, sessions e mensagens.

“Nesse período me dediquei a estudar mais acerca da música e romper com a vergonha da exposição do meu lado artístico”, revela o artista.

Mauro lembra que se interessa por música desde a infância. “Eu me descobri no canto por volta dos 8 anos de idade, cantando na igreja, no departamento infantil, na conhecida ‘salinha das crianças’. Entre os 11 e 12 anos tive aula de violão e aprendi os primeiros acordes no instrumento. Hoje eu toco um pouco. Não cheguei a me desenvolver tanto no violão. Meu foco sempre foi o canto”, explicou.

Ele cresceu com a música e hoje acredita no poder da transformação que ela é capaz de trazer para a sua vida. “Eu vejo a música como um veículo que carrega inspiração e uma mensagem. Ela é uma arte capaz de expressar e traduzir sentimentos e ao mesmo tempo conectar e influenciar pensamentos, emoções e ações. Nesse sentido, ela se destaca por sua beleza e seu poder marcantes. Acredito no poder transformador da música e, para mim, o seu propósito está associado a inspirar pessoas a se conectarem com Deus, levando a mensagem da fé, da paz e do amor, proclamando as boas notícias de Cristo ao mundo”, explica.

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