Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Talentos da casa: jiu-jitsu e atletismo dão medalhas e qualidade de vida aos servidores
conteúdo

Notícias

Talentos da casa: jiu-jitsu e atletismo dão medalhas e qualidade de vida aos servidores

Técnicos de Satuba competem e assumem filosofias com práticas esportivas

publicado: 29/10/2020 15h43, última modificação: 29/10/2020 18h57

Gerônimo Vicente e Jhonathan Pino - jornalistas

O Instituto Federal de Alagoas (Ifal) é repleto de servidores que não só praticam, como também competem em diversas modalidades esportivas. As atividades desenvolvidas por eles não se limitam às quadras poliesportivas das unidades, mas ganham as ruas, praias, ou mesmo tatames de todo o Brasil. É o caso do maratonista Sebastião Júnior e do lutador de Jiu-Jitsu, Yuri Buarque, ambos técnicos do Campus Satuba que transformaram os esportes em verdadeiras filosofias de vida.

Com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Yuri diz que utilizou a prática de jiu-jitsu como divisor de água. Ele iniciou em 2013 e desde então não parou mais. O assistente de alunos do Campus Satuba confessou que já havia praticado inúmeros esportes, ou mesmo atividades de yoga e meditação, mas nenhum deles havia conseguido segurar a sua atenção.Yuri Buarque comemora vitórias e equilíbrio pessoal, com prática do Jiu-Jitsu.jpg

“Seja porque não levava jeito mesmo, seja porque o TDAH não me permitiu manter uma disciplina que me fizesse chegar sequer a três meses de prática ininterrupta – é típico de pessoas com o transtorno iniciar diversos projetos e deixá-los pelo meio do caminho”, observa.

Após entrar em contato com opiniões de especialistas, que defendiam as artes marciais para o tratamento de pessoas com o transtorno, e ter acesso a uma coleção de livros sobre artes marciais e lutas, Yuri se convenceu de que o Jiu-Jitsu era um esporte não só para sanar suas ansiedades, como para a sua própria defesa pessoal.

“O Jiu-Jitsu Brasileiro, mundialmente conhecido pela sigla em inglês BJJ, é uma das artes marciais mais eficientes do mundo, senão a mais eficiente, sobretudo para o combate corpo a corpo, muito comum em situações de defesa pessoal. Além disso, percebi que era uma modalidade perfeitamente indicada para pessoas como eu, de biotipo franzino, ectomorfo, sem dispor de muita força. Não à toa, a expressão jiu-jitsu pode ser traduzida do japonês como “arte suave” ou “técnica da brandura”, define.

O assistente de aluno Yuti Buarque, ostenta medalhas de um tricampeonato em competição interna da Equipe Vicente Júnior Team, além de medalhas de competiçõ.jpgEle comenta que os ganhos foram de diversas ordens. “Sem sombra de dúvidas, o jiu-jitsu auxilia diretamente a melhorar minha concentração, minha disciplina, minha capacidade de solucionar problemas e minha resistência a comorbidades psíquicas, como ansiedade e depressão. Graças ao jiu-jitsu, especialmente às competições, adotei um estilo de vida muito mais saudável, parei de beber, me alimento muito melhor”, continua.

Mas bastaram apenas dois meses de prática para que Yuri entrasse na primeira competição e os resultados vieram a partir de 2014, com o 3º lugar no Campeonato Nordeste-Brasileiro de Jiu-Jitsu, disputado em Aracaju/SE, ainda como faixa branca. No ano seguinte ele obteve o vice-campeão alagoano, na faixa azul.

Yuri lembra que algumas dessas vitórias vieram após momentos de dor, como a final de 2015, quando perdeu a luta final com os calos estourados nas mãos, no entanto, outros são de imensa alegria, como em 2016, quando foi vice-campeão do Circuito Alagoano de Jiu-Jitsu.

“Após derrotar na semifinal o então campeão das duas edições anteriores do evento, cheguei nessa final junto a um parceiro de treino e decidimos não lutar, deixando-o com o ouro. No ano seguinte, no mesmo evento, chegamos novamente juntos à final, e desta vez decidimos que eu ficaria no lugar mais alto do pódio. Nesta mesma edição, conquistei também o 3º lugar na categoria absoluto, isto é, sem limite de peso”, comenta.

Yuri ainda foi tricampeão da Copa Massayó de Jiu-jitsu, um campeonato interno da Equipe Vicente Júnior Team, da qual faz parte, entre 2016 e 2018, e conseguiu medalhas em várias outras competições, mas uma lesão ligamentar no joelho o afastou das competições durante todo o ano de 2019.

Após machucar-se, Yuri passou a atuar como árbitro, enquanto se recuperava de lesão.jpg“Foi quando me submeti a uma cirurgia e a um período de recuperação de aproximadamente sete meses. Em janeiro de 2020, retornei aos tatames com planos de voltar a competir o quanto antes, mas eis que em março sobreveio a pandemia de Covid-19, que nos obrigou a interromper os treinos, em respeito às orientações sanitárias”, falou.

No ano em que se lesionou, Yuri participou da arbitragem de duas competições e iniciou um projeto de aulas de jiu-jitsu com servidores no Campus. Ele comenta que após a pandemia, pretende retomar o projeto, mas desta vez aberto aos estudantes residentes, com os quais trabalha, diretamente na Coordenação de Residência Estudantil.

“Não vejo a hora disso tudo passar, de a pandemia ser controlada e de, enfim, poder voltar a treinar intensamente e sentir a energia indescritível de lutar um campeonato”, planeja.

“Nesse pique, você vai longe”

Há 26 anos no Ifal, o assistente administrativo Sebastião Júnior é, literalmente um homem que tem “pique para ir muito longe”. A expressão, geralmente utilizada como forma de incentivo profissional, tanto na área de gestão de pessoas, como nas atividades esportivas, se encaixa na dupla atividade do funcionário que se tornou um ultramaratonista com percursos que variam entre 50 a 300 quilômetros. Ao atingir estes feitos, ele acabou transformando-se numa espécie em personal trainer motivacional e passou a agregar cada vez mais colegas de trabalho às ações voltadas para a qualidade de vida.

Sebastião Júnior participou de corrida de 50km, na Chapada Diamantina, Bahia.jpgJúnior, como é conhecido entre os colegas, atualmente compõe a Diretoria de Assistência ao Estudante (DAE) do Campus Satuba, mas sua trajetória de atividades esteve mais vinculada à área de gestão de pessoas, onde pôde demonstrar habilidades na coordenação de iniciativas de motivação pessoal.

“Se os gestores tivessem uma visão para qualidade de vida dos seus colaboradores/servidores, eles conseguiriam administrar a instituição com mais qualidade e rapidez nos serviços prestados e ainda diminuiria o grande número de servidores afastados por motivo de doenças, principalmente as doenças psicológicas”, argumenta.

O servidor diz que sempre buscou dar “empurrãozinho”, igual ao que recebeu em fevereiro de 2006, ocasião em que foi convidado pelo diretor-geral José Jonas a participar do Circuito da Lua. A corrida de rua, realizada na orla marítima de Maceió, uma vez por mês, tinha apenas cinco quilômetros, mas desde então a distância das competições que vem participando foi-se multiplicando, ao longo dos anos. Hoje, Júnior é capaz de passar dois dias na estrada para cumprir um trecho de 300 quilômetros, o que equivale a distância entre Maceió e Aracajú.

Já na primeira corrida, em 2006, o tempo de Junior foi de 37 minutos em cinco quilômetros, marca que logo foi baixada para 20 minutos. Depois, ele passou a apostar na distância de 10 e 15 quilômetros o que lhe motivou, em 2015 a fazer parte da equipe Guerreiros de Alagoas. Entre 2011 a 2019, Júnior participou de seis ultramaratonas com percurso entre 50 a 300 quilômetros.

Em 223 competições, o servidor do Ifal disse já ter percorrido 19.681 quilômetros, conforme tabulação feita com os dados emitidos pelo funcionário. Mas isso não iria se reduzir a sua vida pessoal. Entre 2012 e 2013 Júnior organizou o EcoIfal, que consistia em fazer trilhas pelas áreas de Mata Atlântica do Campus Satuba.

“O objetivo era integrar os servidores e seus familiares com a instituição, proporcionando um dia de lazer, conhecer os setores da escola, incentivar a prática esportiva e melhorar a qualidade de vida de cada participante. Para minha surpresa e de muitos, deu muito certo. Tivemos café regional e atividades como: corrida e caminhada, caminhada orientada, trilha ecológica, vôlei com lençol, caminhada sobre tábua, pula-pula e passeio de pônei para os filhos dos servidores, no final, todos os participantes receberam medalhas e as equipes troféus”, acrescentou.

Desde 2015, Sebastião Júnior faz parte Equipe Guerreiros de Alagoas.jpgO projeto chegou a avançar até duas edições, mas não teve continuidade  porque Júnior foi chamado para atuar na Reitoria, onde participou de outros projetos com os servidores como a caminhada vertical pelas escadarias dos sete andares do prédio, a caminhada pela orla marítima e nos finais de semana no Parque Municipal de Maceió, além de incentivo às práticas de meditação,  yoga e roda de conversa.

Embora considerasse muito baixo o apoio e a influência dos gestores, no incentivo aos programas de qualidade de vida, Júnior continuou desenvolvendo algumas ações dentro e fora da atividade laboral.

“Fizemos o 1º encontro para os aposentados, no qual desenvolvemos um dia inteiro de atividades lúdicas e homenagens a quem contribuiu por décadas para o crescimento da instituição; para os servidores ativos. Fizemos uma parceria com o Sesi, e promovemos a Ginástica Laboral três vezes por semana. Também influenciei vários servidores, principalmente nas atividades de caminhadas, corridas e hábitos alimentares mais saudáveis”, ressaltou. 

Ao retornar ao Campus Satuba, para o DAE, este ano, Júnior voltou a pensar em novos projetos que aliasse a qualidade de vida aos alunos. “Existem muitos projetos desenvolvidos na área esportiva, nutricional, gincanas, etc. Acredito que, junto com o diretor do departamento e servidores envolvidos, poderemos aprimorar e inserir novas ações para os discentes, uma vez que, poderei levar minha experiência das atividades extras para os alunos”, destacou.Participação do assistente em Administração, Sebastião Júnior, de Meia Maratona de Brasília.jpg

Além da mudança de ambiente de trabalho, a pandemia também mudou sua rotina da atividade esportiva. Em quarentena, ele foi obrigado a buscar alternativas para não perder o hábito de cumprir trajeto de maratonas e ultramaratonas.

“Cheguei a me inscrever em duas maratonas, uma em Brasília e a outra em Florianópolis, mas veio a pandemia com as restrições e os cuidados para sair de casa. Então tive que fazer algumas adaptações para treinar. Passei a treinar dentro do condomínio onde moro e dentro de casa. Procurei horário com pouco fluxo de pessoas, 4h da manhã ou pela noite, depois das 22h. Para não perder os treinos realizados desde janeiro e determinado a fazer uma maratona. No dia, 19 de abril, data da Maratona de Brasília, fiz uma maratona (42 km, 195m) dentro do condomínio onde moro; foram 30 voltas de 1,4 km, com apoio da minha família”, recordou.

Confira a série inteira "Talentos da Casa".