Notícias
Professores comentam como cursos técnicos de Agropecuária do Ifal mudaram suas vidas
Egressos saíram de realidades adversas e hoje são docentes do campus onde se formaram
Adriana Cirqueira e Jhonathan Pino - jornalistas
Há 108 anos, uma escola de Satuba vem fornecendo à sociedade alagoana a maior parte dos profissionais da área de Agropecuária, no estado. Uma tradição que foi incorporada ao Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em 2008, com a união da Escola Agrotécnica Federal de Satuba (EAFS) e do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Mas foi com a expansão da Rede dos Institutos Federais, na última década, que a instituição passou a contar com dezenas de docentes formados naquela unidade. Conheça três delas, em mais uma reportagem da série “2ª Casa”.
O professor Anselmo Aroucha saiu de Penedo, ainda adolescente, para fazer o curso técnico na Escola, em 1986. À época ele já era agricultor e resolveu fazer o curso para aprender novas técnicas e melhorar as condições de vida da sua família. Mas seus planos passariam por mudanças. “Foi lá que percebi que poderia ir mais longe, fazer faculdade e chegar ao doutorado”, pontuou.
Terminado o curso técnico, Anselmo emendou numa Licenciatura em Ciências Agrícolas (1994), outra graduação em Engenharia Agronômica (1997), fez um mestrado em Agronomia – Ciências do Solo (1998) e em seguida, um doutorado em Produção Vegetal (2002), percurso que o levaria a entrar na carreira docente, a partir de 2004, quando começou a atuar como professor efetivo da Escola Agrotécnica Federal de Santa Inês (BA), atualmente Instituto Federal Baiano.
O seu retorno para o Ifal se deu em 2005, quando pediu redistribuição para o Campus Satuba e a partir daí ele iria colaborar com o Instituto de diversas maneiras.
Em sala de aula, Anselmo foi responsável por duas disciplinas no Curso de Tecnologia em Laticínios e outras cinco no Curso Técnico em Agropecuária, ao tempo em que vem orientando projetos de pesquisas. Nesse período, ele ainda presidiu a comissão organizadora da Semana Agrotecnológica, entre 2009-2011, e em 2011 participou das comissões que organizou as comemorações dos 100 anos do Campus Satuba.
Toda essa trajetória viria culminar com sua eleição, em 2012 e 2014, para o cargo de Diretor-Geral. “Como profissional, fui acolhido para exercer uma carreira da qual me orgulho, pois, atuar no universo educacional, contribuindo para a transformação de vidas é uma missão que escolhi como filosofia de vida. Sinto-me um homem realizado, faço o que gosto, onde sonhei trabalhar e tenho uma família que é fonte de energia e inspiração”, relata.
Docência e consciência social
Mais de uma década depois, 2000, seria a vez da maceioense Tâmara Lúcia dos Santos iniciar seus estudos na unidade. Ela tinha apenas 14 anos, quando percebeu sua tendência para a área das agrárias. “Mesmo sem saber qual profissão seguiria, eu me encontrei nas disciplinas ligadas à produção animal e às atividades da agroindústria”, recorda.
Tâmara explica que, em sua época de aluna, o curso técnico também tinha a habilitação em Agroindústria e foi essa perspectiva da zootecnia, produção animal e agroindústria que ela escolheu para se especializar. A docente fez seu estágio em Caprinocultura Leiteira e depois cursou Zootecnia (2006), mestrado em Ciência Animal (2009) e doutorado em Zootecnia - Produção Animal (2012). No mesmo ano em que terminou o doutorado, ela ingressou como professora de ensino profissional e tecnológico, no Instituto Federal do Maranhão.
Em 2015 surgiu a oportunidade de sua redistribuição para o Campus Satuba, onde está atuando nas áreas ligadas à questão animal e lecionando nos cursos de Agropecuária, Agroindústria e no superior em Tecnologia de Laticínios.
“A escola me deu esse aparato todo para que pudesse compreender a minha função e a minha missão profissional, dentro das ciências agrárias”, analisa.
Na unidade, além da atividade docente, Tâmara se dedica à questão da conscientização social, pensando em formas de inserir no campus a discussão sobre diversidade étnico-racial. Para a servidora, que atualmente é coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), a instituição precisa dar o apoio aos jovens, auxiliando na tomada de consciência e no empoderamento deles, além de cumprir a legislação, que preconiza a inclusão da temática nos currículos da educação básica. “Na época em que fui aluna essa discussão não existia e todos sabemos das dificuldades enfrentadas cotidianamente por nossos alunos e alunas”, argumentou.
Duas décadas de espera
Passariam quase duas décadas para que o professor do Campus Santana do Ipanema, Marcílio de Souza Barbosa, pudesse voltar à instituição onde teve os primeiros contatos com a Agropecuária. Em 1998, ele saiu de Junqueiro para cursar o técnico em Satuba e vinte anos depois foi aprovado para o concurso do Ifal.
O servidor disse que aguardou cerca de dois anos, quando foi finalmente empossado para o Campus Piranhas, em 2008. Como a unidade é sede do curso técnico de Agroecologia e do bacharelado em Engenharia Agroeconômica, foram nestes dois cursos que ele pôde levar para a sala de aula o arcabouço obtido em sua formação.
Marcílio trouxe para o Ifal, em seu currículo, uma graduação em Agronomia, além de ter participado programas de mestrado em Produção Vegetal e doutorado Proteção de Plantas e Agronomia, respectivamente. Mas o docente lembra que toda a sua base foi feita quando ainda era aluno de técnico em Agropecuária, na Escola Agrotécnica, entre 1998 e 2001.
“Nessa época, a gente não tinha atividades que existem hoje, de pesquisa e extensão. O que eu posso dizer a você é que tudo que a gente fazia era colocando a mão na massa. E muitas dessas práticas executadas, os princípios básicos, na época, até hoje eu levo para sala de aula”, pontuou o professor.
O docente ainda ressaltou que estudar na Agrotécnica já era motivo de orgulho, na época em que fez o técnico. Ele lembra que só ingressou na instituição porque a escola em que estudava tinha um convênio com a instituição de Satuba, por isso, quando terminou o primeiro grau, atual ensino fundamental, passou a ser fazer parte da instituição que mudaria sua visão de mundo.
“Na época, para a sociedade, já era um auge profissional estar formado como técnico agropecuário, é como você já tivesse feito uma universidade, porque ela abria oportunidades de emprego, para atuar na indústria canavieira. Mas quando a gente entrava na unidade, os professores mostravam que ali era pouco, porque eles comentavam sobre o mestrado e os programas de pesquisa”, recorda.
Também foi nesse período que ele passou a participar de um grupo de estudos, em que se preparou para adentrar no curso de Agronomia. Faziam parte do mesmo grupo outros estudantes que viriam a ser futuros servidores do Ifal, como o docente do Campus Maceió, Antônio Albuquerque e o técnico do Campus Satuba, Diogo Barros.
Quando lembra daquele período, Marcílio diz que a Escola Agrotécnica era um ambiente que proporcionava muita prática, mas hoje, com o Ifal, o aluno pode atuar com pesquisa, ligando teoria, com a prática e extensão. “Hoje a formação trouxe essa evolução do pensamento, com uma atividade mais integrada”.
Conheça outras histórias como essa, acompanhando a série “2ª Casa”.