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Pesquisadores do Ifal enriquecem biscoitos com proteína bovina e depositam patente
A pouca aceitação do fígado e o seu alto teor nutritivo fez com que a peça fosse escolhida como forma de sanar a deficiência do ferro
Foi de uma conversa em sala de aula que nasceu a ideia de utilizar o fígado bovino para o enriquecimento nutritivo de alimento. Em 2014, a professora Ingrid Sofia Vieira e os alunos do Campus Murici, Jacqueline Vieira dos Santos e João Victor Laurindo, pensavam em uma forma de combater a anemia, sofrida por parte da população brasileira, quando iniciaram os experimentos. Em janeiro, eles comemoraram o depósito da patente de “Elaboração de biscoitos tipo cookies com fígado bovino liofilizado”, no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), um dos quatro produtos depositados neste ano, pelo Núcleo de Inovação Tecnológica, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).
Hoje, professora do Campus Satuba, Ingrid Sofia utilizou de dados que apontavam que 41% das gestantes e 27% das crianças em idade escolar sofrem com a deficiência do ferro, por isso a necessidade de pensar em produtos alimentícios enriquecidos, que gerassem o interesse de toda a família.
A fim de prevenir e tratar de doenças ocasionadas pela deficiência do ferro, usualmente os produtos lácteos e cereais são suplementados com ferro e ácido fólico. Foi nesse sentido que os alunos e professora do Ifal pensaram em utilizar a proteína animal para o enriquecimento de alimentos.
A pouca aceitação do fígado e o seu alto teor nutritivo fez com que o alimento fosse escolhido como forma de sanar o problema da deficiência do ferro. Além disso, ele possui vitamina A, complexo B (riboflavina, niacina), selênio e zinco.
Decidida a fonte de suplementação, os pesquisadores pensaram na elaboração de cookies, por ser um produto de fácil aceitação e consumo entre as famílias e, principalmente, entre crianças. “O produto desenvolvido pode ser uma alternativa adicional ao combate de um grave e persistente problema de saúde pública, a anemia ferropriva”, argumentou a professora.
Os trabalhos de elaboração do produto foram desenvolvidos em três diferentes espaços: as análises físico-químicas e bromatológicas foram executadas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); o processo de liofilização, para a obtenção da farinha, foi realizado na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No final desta etapa, o ingrediente voltou ao Campus Murici, onde foram produzidos os cookies.
Além do enriquecimento dos biscoitos, os resultados foram positivos em outros aspectos. “Os alimentos que passam pelo processo de liofilização apresentam alta retenção das características sensoriais e qualidade nutricional, apresentam uma vida de prateleira maior, quando corretamente embalados. Dependendo do alimento, é possível a permanência em temperatura ambiente”, pontuou Ingrid.
Outro dado lembrado pela pesquisadora é que quanto mais fígado bovino liofilizado era acrescentado, mais proteico se tornava o biscoito e consequentemente menor era o teor de carboidrato nele.
Cinco anos depois de iniciadas as pesquisas, Ingrid não sabe muito bem como o produto será comercializado, mas ela lembra que nesse tempo os alunos envolvidos continuaram suas pesquisas. Os dois foram aprovados no curso superior de Tecnologia de Alimentos, do Campus Maceió e já dão retorno social.
“Os ganhos acadêmicos são enormes. Nosso grupo de pesquisa deu um salto, no sentido de que pela primeira vez nós tiramos uma ideia do nosso imaginário, observamos a possibilidade de torná-la passível de registro de propriedade intelectual e apresentamos ao órgão que irá avaliar nossa ideia. Nosso próximo passo é justamente tentar tornar essa ideia vendável. Para a instituição, acredito que estamos galgando um espaço tão almejado no cenário científico atual, que é aliar as pesquisas básicas a produção de tecnologia”, comemora a pesquisadora.