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Neabis encaram pandemia com novos projetos desenvolvidos de forma remota

Lives aproximaram pesquisadores à comunidade alagoana

por Jhonathan Pino publicado: 07/12/2020 12h48, última modificação: 07/12/2020 15h37

O Dezembro Negro, a ser realizado pelo Campus Marechal Deodoro, nos dias 10 e 16 deste mês, encerram as atividades dos núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em 2020, (confira aqui). Apesar da pandemia da Covid-19, neste ano a comunidade alagoana contou com dezenas de atividades de forma remota, voltadas à temática das identidades e relações étnico-raciais .Falas Malungas contou com 200 inscritos dos diversas turmas e cursos do Campus Coruripe em evento transmitido pelo Youtube.jpeg

Só em novembro passado, mês tradicionalmente escolhido pelo Movimento Negro para comemorar os símbolos de resistência da população que fora escravizada no país, foram realizados o "Falas Malungas", pelo Campus Coruripe; “Quilombos de ontem e hoje”, por meio do núcleo da unidade de Penedo; “Consciência negra: representatividade e resistência”, em Piranhas; “Quilombo das Artes”, em Santana do Ipanema; "De Palmares à Palmares: a tentativa de desmonte dos movimentos afro-brasileiros", em Satuba; “Negritude em Foco”, no Campus Palmeira dos Índios; "Semana Afro-Sertão", em Batalha e “Africanidades em Movimento”, iniciativa do Campus Murici.

Mas o coordenador do Neabi do Campus Maceió, Amaro Hélio Leite, destaca que as atividades realizadas nos núcleos abordam questões atuais não só da comunidade negra como de toda a população indígena no país.

“A gente fez essas atividades chamando a atenção, sobretudo, para problemáticas de hoje, questões que a gente considera sérias e estão na tensão das relações políticas, sociais de Alagoas e do Brasil, como por exemplo, a violência contra o negro, a política de genocídio contra o indígena. Então a gente pensou essas atividades a partir destes problemas, que são extremamente sérios e complicados para o Brasil de hoje”, relata Amaro.Neabi de Santana do Ipanema reuniu artistas e pesquisadores do cinema, literatura e música para debater o mês da Consciência Negra.jpg

Além de servir de setores consultivos e propositivos do debate de temáticas étnico-raciais, os núcleos acabam realizando a formação de alunos e de toda a comunidade para as questões envolvidas.

“Essas atividades dão uma continuidade a uma série de formações que a gente já vinha fazendo sobre as temáticas afro-brasileira e indígena no Ifal. A gente considera que é fundamental formar a comunidade acadêmica do Ifal e a comunidade externa alagoana”, comenta o docente.Negritude em Foco do Campus Palmeira reuniu a participação de professores de outros campi do Ifal, da Universidade Estadual de Alagoas e do Instituto Federal de Maranhão, além de artistas alagoanos.jpeg

Formação da consciência a partir das lives

Com o afastamento físico dos alunos, as unidades tiveram que repensar no formato de como seriam realizadas essas atividades de formação. A partir de então, pesquisadores e acadêmicos foram convidados a participar de lives que abordaram a questão indígena e o movimento negro. O núcleo do Campus Maceió, por exemplo, realizou, ao longo do 2020, diálogos com foco na resistência indígena em tempo de pandemia; no empoderamento negro e feminino na fotografia; na resistência da mulher negra da periferia e no desenvolvimento da consciência negra no Ifal.

“A ideia era fazer presencial, discutindo com os alunos, debatendo, refletindo com eles presencialmente, mas a pandemia mudou tudo. Então a gente teve que readequar a formação à nossa proposta, aos nossos objetivos e desde então a gente passou a usar as redes sociais, o Instagram, para fazer as lives; o Facebook, o Whatsapp, para divulgar e convidar os palestrantes”.Os quatro webnários exibidos pelo canal da Unidade Penedo estão disponíveis no Canal Oficial do Campus, no Youtube.jpg

Com os editais de extensão publicados no segundo semestre, vários daqueles núcleos puderam submeter projetos que buscam trazer a comunidade externa para as discussões e o desenvolvimento do conhecimento nos temas trabalhados. O Campus Maceió teve algumas de suas propostas contempladas.

“São três projetos que a gente está desenvolvendo sobre as cotas indígenas nas universidades e institutos federais; sobre as plantas medicinais, junto às comunidades indígenas, para que eles possam definir que plantas são essas e como ajudá-los a trabalhar melhor com as plantas e ervas; finalmente a questão do turismo étnico, com os indígenas também, sobretudo com os Xucurus-Kariris. Pretendemos criar alternativas de fonte de renda e segundo a perspectiva deles, a partir do olhar e da coordenação deles”, explica Amaro.

Institucionalização do NeabiNeabi de Piranhas realizou dezenas de debates remotos em seu primeiro ano de exitência.jpg

A constituição de um Neabi em cada campus do Ifal foi regulamentada pela resolução 29/2018, publicada em dezembro de 2018. Eles foram institucionalizados na instituição como forma de se transformarem em promotores de ações de Ensino, Pesquisa e Extensão, orientadas à temática das identidades e relações étnico-raciais, especialmente quanto às populações afro-brasileiras e indígenas, no âmbito da instituição e em suas relações com a comunidade externa.

No Campus Piranhas, o Neabi nasceu apenas este ano, o que dificultou a inscrição de projetos de extensão, já que as atividades foram essencialmente realizadas de forma on-line. Mas o distanciamento não restringiu o debate promovido entre professores, alunos e a comunidade. Em agosto, por exemplo, foi realizada o “Toré Calado: identidade, resistência e a condição dos povos indígenas em tempo de pandemia”, uma ação que contou com a participação da enfermeira e índia Xucuru Kariri, Itajaciara Barbosa, do professor da Ufal, Lucas Lima, além do coordenador do Neabi, em Maceió, Amaro Leite.

Professor Zezito Araújo participa de atividade do Dezembro Negro, nesta quinta-feira, 10.jpegNaquele mesmo mês, o Campus Piranhas realizou o webinário “Etnias, histórias e culturas: educando para a valorização da diversidade e a construção da igualdade”, que contou com mais de 400 participantes, entre professores de várias redes de ensino, militantes dos movimentos negros e indígenas. O evento buscou destacar a necessidade da construção de uma sociedade democrática e inclusiva que reconhecesse e valorizasse a diversidade étnica e cultural brasileira.

“É preciso desconstruir a perspectiva etnocêntrica do colonizador que permeia nosso imaginário e currículo escolar, descolonizando nossos saberes e nossa história. Atualmente impera um discurso político de negação da diversidade e dos direitos dos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, o que exige a construção de espaços de diálogo, resistência, luta pela garantia de direitos e da territorialidade, da valorização das identidades étnico-raciais”, defendeu o professor e membro do Neabi do Campus Piranhas, Thyago Ruzemberg,  em postagem no Instagram @neabi_ifal_piranhas.