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Neabis encaram pandemia com novos projetos desenvolvidos de forma remota
Lives aproximaram pesquisadores à comunidade alagoana
O Dezembro Negro, a ser realizado pelo Campus Marechal Deodoro, nos dias 10 e 16 deste mês, encerram as atividades dos núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em 2020, (confira aqui). Apesar da pandemia da Covid-19, neste ano a comunidade alagoana contou com dezenas de atividades de forma remota, voltadas à temática das identidades e relações étnico-raciais .
Só em novembro passado, mês tradicionalmente escolhido pelo Movimento Negro para comemorar os símbolos de resistência da população que fora escravizada no país, foram realizados o "Falas Malungas", pelo Campus Coruripe; “Quilombos de ontem e hoje”, por meio do núcleo da unidade de Penedo; “Consciência negra: representatividade e resistência”, em Piranhas; “Quilombo das Artes”, em Santana do Ipanema; "De Palmares à Palmares: a tentativa de desmonte dos movimentos afro-brasileiros", em Satuba; “Negritude em Foco”, no Campus Palmeira dos Índios; "Semana Afro-Sertão", em Batalha e “Africanidades em Movimento”, iniciativa do Campus Murici.
Mas o coordenador do Neabi do Campus Maceió, Amaro Hélio Leite, destaca que as atividades realizadas nos núcleos abordam questões atuais não só da comunidade negra como de toda a população indígena no país.
“A gente fez essas atividades chamando a atenção, sobretudo, para problemáticas de hoje, questões que a gente considera sérias e estão na tensão das relações políticas, sociais de Alagoas e do Brasil, como por exemplo, a violência contra o negro, a política de genocídio contra o indígena. Então a gente pensou essas atividades a partir destes problemas, que são extremamente sérios e complicados para o Brasil de hoje”, relata Amaro.
Além de servir de setores consultivos e propositivos do debate de temáticas étnico-raciais, os núcleos acabam realizando a formação de alunos e de toda a comunidade para as questões envolvidas.
“Essas atividades dão uma continuidade a uma série de formações que a gente já vinha fazendo sobre as temáticas afro-brasileira e indígena no Ifal. A gente considera que é fundamental formar a comunidade acadêmica do Ifal e a comunidade externa alagoana”, comenta o docente.
Formação da consciência a partir das lives
Com o afastamento físico dos alunos, as unidades tiveram que repensar no formato de como seriam realizadas essas atividades de formação. A partir de então, pesquisadores e acadêmicos foram convidados a participar de lives que abordaram a questão indígena e o movimento negro. O núcleo do Campus Maceió, por exemplo, realizou, ao longo do 2020, diálogos com foco na resistência indígena em tempo de pandemia; no empoderamento negro e feminino na fotografia; na resistência da mulher negra da periferia e no desenvolvimento da consciência negra no Ifal.
“A ideia era fazer presencial, discutindo com os alunos, debatendo, refletindo com eles presencialmente, mas a pandemia mudou tudo. Então a gente teve que readequar a formação à nossa proposta, aos nossos objetivos e desde então a gente passou a usar as redes sociais, o Instagram, para fazer as lives; o Facebook, o Whatsapp, para divulgar e convidar os palestrantes”.
Com os editais de extensão publicados no segundo semestre, vários daqueles núcleos puderam submeter projetos que buscam trazer a comunidade externa para as discussões e o desenvolvimento do conhecimento nos temas trabalhados. O Campus Maceió teve algumas de suas propostas contempladas.
“São três projetos que a gente está desenvolvendo sobre as cotas indígenas nas universidades e institutos federais; sobre as plantas medicinais, junto às comunidades indígenas, para que eles possam definir que plantas são essas e como ajudá-los a trabalhar melhor com as plantas e ervas; finalmente a questão do turismo étnico, com os indígenas também, sobretudo com os Xucurus-Kariris. Pretendemos criar alternativas de fonte de renda e segundo a perspectiva deles, a partir do olhar e da coordenação deles”, explica Amaro.
Institucionalização do Neabi
A constituição de um Neabi em cada campus do Ifal foi regulamentada pela resolução 29/2018, publicada em dezembro de 2018. Eles foram institucionalizados na instituição como forma de se transformarem em promotores de ações de Ensino, Pesquisa e Extensão, orientadas à temática das identidades e relações étnico-raciais, especialmente quanto às populações afro-brasileiras e indígenas, no âmbito da instituição e em suas relações com a comunidade externa.
No Campus Piranhas, o Neabi nasceu apenas este ano, o que dificultou a inscrição de projetos de extensão, já que as atividades foram essencialmente realizadas de forma on-line. Mas o distanciamento não restringiu o debate promovido entre professores, alunos e a comunidade. Em agosto, por exemplo, foi realizada o “Toré Calado: identidade, resistência e a condição dos povos indígenas em tempo de pandemia”, uma ação que contou com a participação da enfermeira e índia Xucuru Kariri, Itajaciara Barbosa, do professor da Ufal, Lucas Lima, além do coordenador do Neabi, em Maceió, Amaro Leite.
Naquele mesmo mês, o Campus Piranhas realizou o webinário “Etnias, histórias e culturas: educando para a valorização da diversidade e a construção da igualdade”, que contou com mais de 400 participantes, entre professores de várias redes de ensino, militantes dos movimentos negros e indígenas. O evento buscou destacar a necessidade da construção de uma sociedade democrática e inclusiva que reconhecesse e valorizasse a diversidade étnica e cultural brasileira.
“É preciso desconstruir a perspectiva etnocêntrica do colonizador que permeia nosso imaginário e currículo escolar, descolonizando nossos saberes e nossa história. Atualmente impera um discurso político de negação da diversidade e dos direitos dos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, o que exige a construção de espaços de diálogo, resistência, luta pela garantia de direitos e da territorialidade, da valorização das identidades étnico-raciais”, defendeu o professor e membro do Neabi do Campus Piranhas, Thyago Ruzemberg, em postagem no Instagram @neabi_ifal_piranhas.