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Ifal Ecosol: incubadora impulsiona economia solidária em Alagoas

Instituição foi aprovada em edital para ofertar 160 vagas, em cursos voltados para trabalhadores da economia solidária
por Elaine Rodrigues publicado: 18/03/2024 17h09, última modificação: 18/03/2024 17h09

A Cooperativa dos Catadores do município de Marechal Deodoro coleta materiais recicláveis há sete anos. A cada mês, os 20 associados recolhem, em média, 50 toneladas de papeis, metais, plásticos e vidros que serão reaproveitados. Desde o ano passado, o grupo ganhou o reforço da incubadora tecnológica de economia solidária Ifal Ecosol, do Instituto Federal de Alagoas. Em duas ações, em parceria com duas escolas do município, a Ecosol conseguiu arrecadar cerca de 25 toneladas de materiais recicláveis. 

Núcleo da Ecosol do Campus Marechal DeodoroO professor Rodrigo Lucena, que coordena o núcleo no Campus Marechal, conta que começou fazendo o mapeamento de cooperativas e associações “para entender como é que funcionava e se distribuía os empreendimentos populares de economia solidária no município de Marechal Deodoro”. Depois, vieram ações por meio do edital de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). O projeto de solução tecnológica para a Cooperativa dos Catadores, a Coopmar, tem o objetivo de otimizar a coleta envolvendo escolas do município, trabalhando com os estudantes, ao mesmo tempo em que promove educação ambiental, aumentando os níveis de consciência ambiental dos moradores do município.

Núcleo da Ecosol em visita à cooperativa de Marechal DeodoroAinda este ano, outras atividades devem ser implementadas em Marechal Deodoro. “Nós alinhamos com a Secretaria de Educação do município para executar [o projeto] em mais dez escolas que têm o ensino fundamental dois. O cronograma vai até o final de novembro”, explicou Rodrigo, complementando que o grupo também está finalizando uma versão mais robusta do aplicativo. Para Roberto José da Silva, presidente da Coopmar, a parceria com o Ifal trouxe mais qualidade de trabalho aos associados. “A gente fez gincanas e veio bastante material. É bom também porque divulga o nosso trabalho, pelas palestras. Muda o modo de vista da coleta seletiva e como as pessoas devem fazer a separação dos materiais”, destacou o presidente da associação.

Ecosol em Alagoas

"A economia solidária tem o papel de organizar iniciativas coletivas, baseadas na ideia de justiça social, de sustentabilidade, de trabalho coletivo e de uma distribuição justa dos resultados de trabalho", explica a professora Beatriz de Melo,  do Campus Viçosa

Além da Ecosol do Campus Marechal Deodoro, o Ifal conta com outros cinco núcleos da Ecosol, nos campi Arapiraca, Batalha, Maceió, Satuba e Viçosa, que integram uma rede nacional, a Rede IF Ecosol. As atividades começaram no ano passado e, de acordo com o coordenador-geral da incubadora tecnológica, o professor Diogo Rego, nos seis primeiros meses os núcleos atuaram com cerca de 35 participantes, acompanharam sete empreendimentos incubados e beneficiaram, em média, 120 pessoas diretamente. As ações também propiciaram o envolvimento de 55 estudantes do Ifal e resultaram em três atividades de ensino, cinco pesquisas, quatro cursos e nove projetos de extensão. “As expectativas para esse ano são grandes: aumentar o número de servidores, de núcleos e o impacto da incubadora, com mais empreendimentos assessorados”, espera Diogo Rego.

Economia solidária e agricultura familiar

A professora Beatriz de Melo, do Campus Viçosa, contou que as ações da incubadora começaram com a mobilização de alguns campi que trabalhavam com grupos em maior situação de vulnerabilidade e maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho. “A economia solidária tem o papel de organizar iniciativas coletivas, baseadas na ideia de justiça social, de sustentabilidade, de trabalho coletivo e de uma distribuição justa dos resultados de trabalho”, explicou.

De acordo com a professora, os municípios de Viçosa, Arapiraca, Batalha e Satuba têm uma vocação para a agricultura familiar. Assim, Beatriz de Melo contou que a incubadora contribui com os trabalhos de produção, comercialização, gestão e administração dos empreendimentos, por meio de formação, projetos de ensino, de pesquisa, entre outras atividades, “dando uma espécie de assessoria, acompanhando e impulsionando os empreendimentos”. Em Viçosa, a Ecosol acompanha quatro associações que fornecem alimentos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar. “Outro trabalho que a gente fez ano passado foi contribuir para a reativação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, de Viçosa, e assessorar o Conselho, que é um espaço democrático de decisão coletiva, de reconhecimento e acompanhamento das ações públicas na área da agricultura e da sustentabilidade”, detalhou a professora.

Segunda edição da Feira da Agricultura Familiar no Campus SatubaEm Satuba, os integrantes da Escosol participaram de atividades para fortalecer a economia solidária e promover o desenvolvimento sustentável, como a segunda edição da Feira da Agricultura Familiar. “O evento aberto ao público reuniu servidores, estudantes, agricultores e a comunidade de Satuba em uma programação especial que envolveu oficinas, palestras, apresentações culturais e a comercialização de produtos e alimentos orgânicos, produzidos por agricultores familiares de diversos municípios de Alagoas”, contou o professor Antônio Carlos dos Santos.

Integrantes do projeto do núcleo do Ifal Ecosol no Campus BatalhaNo Campus Batalha, o professor José Ribeiro da Silva coordena um projeto, em parceria com a Fapeal, que tem o objetivo de fazer o levantamento e a divulgação do valor da cesta básica, vendida nos principais supermercados de Batalha e Major Izidoro. “A gente faz essa pesquisa semanal e faz um ranking, identificando quais são os supermercados onde a cesta básica está mais barata, avaliação de oscilação, qual seria, por exemplo, o preço de cada item em diferentes supermercados, caso a família quisesse economizar”, detalhou.

Pesquisa de preços em supermercados de Batalha e Major IzidoroA pesquisa utiliza a metodologia do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos, o Dieese, e está disponível no perfil do Instagram criado para o projeto. Além de conferir onde o produto está mais acessível, a população também foi beneficiada com a competitividade que a pesquisa tem gerado entre os supermercados. “Quando eles descobriram que tinha esse ranking, eles procuraram, de todo jeito, baixar o preço dos seus itens da cesta básica, na tentativa de ganhar na concorrência em relação aos outros”, revelou o professor.

Economia solidária e desenvolvimento científico

Reunião com representantes do Governo do EstadoNo Campus Maceió, os integrantes do núcleo da incubadora se preparam para iniciar o projeto que conquistou o primeiro lugar no edital de economia azul do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional e da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Regional e Urbano. O projeto prevê o desenvolvimento do aplicativo Rede Reciclagem, uma solução tecnológica para ajudar cooperativas de reciclagem nos municípios que fazem parte do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba. De acordo com o edital, serão liberados R$ 175 mil, que serão utilizados para recolher óleo usado, combatendo a poluição das águas do complexo lagunar.

Integrantes do núcleo do Campus Maceió“Quando o óleo se espalha no rio, na lagoa ou no mar, ele tira o oxigênio da água e mata peixes, moluscos e plantas. O óleo de cozinha usado também polui o solo e emite gás metano, que contribui para o efeito estufa, aumentando o aquecimento global”, explica a coordenadora do núcleo, Cláudia Cordeiro. De acordo com a pesquisa feita pelo núcleo, sete municípios de Alagoas são banhados pelas lagoas, que influencia a vida de pelo menos 260 mil pessoas, entre elas, cinco mil pescadores. “Alagoas, apesar dos esforços, ainda não têm uma rede de descarte correto, que previna essa degradação, principalmente na área ao redor do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba”, destacou a professora.

Qualificação em Economia solidária

Atividades do núcleo da Ecosol no Campus Marechal DeodoroE as ações da Ifal Ecosol devem impactar mais associações, cooperativas e pequenos empreendimentos esse ano. É que o Ifal foi aprovado no edital nº 02/2024 do Instituto Federal da Bahia para qualificar trabalhadores da economia solidária. Serão ofertadas 160 vagas de Qualificação em Economia Popular e Solidária pelo Programa Manuel Querino. “Os cursos serão de Agente de Desenvolvimento Cooperativista Solidário e Gestão de Empreendimentos Econômicos Solidários. Os próximos passos são: aprovar o PPC [Plano Pedagógico do Curso] e abrir seleção dos estudantes e professores. Ainda não há definição de onde serão os cursos, mas serão onde existem núcleos da Ifal Ecosol”, adiantou o coordenador Diogo Rego.

De acordo com o edital, o programa é voltado para trabalhadores em vulnerabilidade social e/ou econômica, no intuito de contribuir para o fortalecimento das iniciativas de economia popular e solidária e para a construção de redes produtivas fundamentadas nos princípios da autogestão, cooperação, sustentabilidade ambiental, organização popular e na valorização das dinâmicas territoriais.