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Em pesquisa de mestrado, técnica aponta fontes de prazer e sofrimento entre servidores do Ifal

publicado: 27/04/2018 10h04, última modificação: 02/05/2018 10h09

No final de maio, a servidora do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Nailena Maika, embarca para Brasília para apresentar o artigo “Técnico-administrativos de um Instituto Federal de Educação no Nordeste: a dimensão do sofrimento na gestão e organização do processo de trabalho”, no 6º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, a acontecer entre os dias 30 de maio e 2 de junho. O trabalho é um dos três desmembrados de sua dissertação, realizada no Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde, do Centro Universitário Cesmac, com o auxílio do Programa de Incentivo à Qualificação em Cursos de Pós-Graduação dos Servidores (PIQPG), do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).

Nos outros dois eventos, a assistente administrativa da Pró-reitoria de Administração (Proad) abordará a “Saúde do Trabalhador e o processo de trabalho dos técnico-administrativos em um Instituto Federal de Educação”, no 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, a ser realizado também em julho, no Rio de Janeiro, além de “Sentidos e Prática da Gestão do Processo de Trabalho na Reitoria de um Instituto Federal de Educação no Nordeste”, no 8º Congreso Iberoamericano de Pesquisa Cualitativa en Salud, que acontece em setembro próximo, na capital catarinense.

Nailena relatou que, apesar do foco diferenciado, todos eles se referem a uma mesma problemática: os fatores de adoecimento mental do trabalhador do Ifal, apontando especificamente os processos que causam sofrimento aos técnico-administrativos em educação (TAEs) da instituição. 

A servidora justifica seu interesse no tema porque percebeu que as pesquisas voltadas para atividades laborais dos técnico-administrativos eram escassas. “Eu, como técnica do Departamento de Compras, vivenciava as reclamações entre os servidores. Quando entrei no mestrado, resolvi aproveitar a oportunidade para entender quais são os fatores que causam prazer e sofrimento deles, aqui no Ifal”.

Prazer e sofrimento

Psicóloga por formação, em sua investigações ela procurou compreender quais tipos de sofrimento estavam presentes entre os servidores da Reitoria. Para isso, Nailena reuniu 22 técnicos que atuavam há mais de um ano nos setores, fez entrevistas com eles e os dividiu em dois grupos focais. Em conjunto com um diário de campo, a servidora fez o diagnóstico dos prazeres, sofrimentos e doenças dos membros, sob o ponto de vista de um teórico que enxerga a existência do sofrimento em quaisquer ambientes laborais. “Christophe Dejours disse que o trabalho é palco de sofrimento e a questão é porque que algumas pessoas adoecem e outras não”, pontuou Nailena.

Entre suas constatações, foi percebido que as relações interpessoais, o reconhecimento da chefia e a cooperação são fatores causadores de prazer. Por outro lado, o número de práticas que geram ao sofrimento é bem maior. “No Ifal, eu encontrei nove razões para o sofrimento e duas causas para o adoecimento. A principal delas é o estabelecimento de regras inflexíveis, como o ponto eletrônico, que gera a obrigação de permanência dos servidores nos locais de trabalho, ainda que já tenham realizado suas atividades”.

Outras fontes de sofrimento apontados pela pesquisa foram a dificuldade de participação do servidor na gestão dos processos, que não dá espaços para negociação de formas mais pessoais e eficientes; a falta de reconhecimento do trabalho pela instituição e o sexismo, “pois são poucas as mulheres que assumem funções nas direções, apenas hoje temos uma pró-reitora”, explica a servidora.

Completam essa mesma lista a ausência de planejamento e normatização das responsabilidades, além da diferenciação de tratamento existente entre técnico-administrativos e docentes. “No caso da falta de normatização, por exemplo, os servidores da Reitoria são muitas vezes vistos como improdutivos, porque ainda não existem normativos que definem até onde vai a nossa competência. A ideia de quem está de fora é que na Reitoria pouco se trabalha e muito se exige”, detalhou Nailena.

 Doenças e estratégias de defesa

Entre os fatores que levariam ao adoecimento dos técnicos seria o tamanho das equipes e as cargas de trabalho desproporcionalmente vividas por alguns dos servidores. “Em alguns locais, apesar do número de agentes ser bom, a quantidade de atividades acaba provocando a ansiedade e o adoecimento dos indivíduos”, acrescentou.

Nailena comenta que muitas das estratégias de defesa são encontradas de forma individual entre os próprios servidores, como a prática de esportes, a meditação, ou o isolamento e fuga dos problemas vividos em suas rotinas. “Essas medidas são paliativas, mas não resolvem o problema, porque ao se individualizarem, as pessoas acabam se culpabilizando. Com isso, não são tomadas medidas que resolvam isso de forma coletiva e a fonte de sofrimento persiste”, relatou Nailena.

Institucionalmente também existem medidas que dirimiriam parte desse sofrimento. Um dos casos citados foi a série da Página do Ifal, Técnicos em Ação, onde práticas exitosas dos TAEs puderam ser reconhecidas. “Ao mesmo tempo em que é interessante ter estratégias individuais, é necessário discutir formas de saná-los a partir da gestão”, defendeu a servidora.

Para ela, a atuação do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass) poderia atuar na prevenção do sofrimento dos servidores, como uma política a nível nacional, mas a retração do orçamento nos últimos anos estabeleceu como prática mais comum o simples diagnóstico das doenças.

Nailena realizou a pesquisa sob a orientação da professora Mara Ribeiro e coorientação de Renata Guerda. Os dados da pesquisa deverão ser apresentados de forma detalhada no Colégio de Dirigentes, em junho deste ano.

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