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Docentes debatem a educação e suas relações com gênero, religião e mercado em Bienal

publicado: 07/10/2017 18h48, última modificação: 07/10/2017 18h48

Em uma roda de conversa entre professores do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), o público da 8ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas (Ifal) pôde acompanhar a discussão sobre os efeitos que as alterações normativas e reformas que a educação brasileira vem sofrendo nos últimos quatro anos. A atividade deste sábado, 7, colocou lado a lado docentes de Geografia, História, Filosofia e Sociologia, dos campi Maceió e Penedo.

Em um primeiro momento, os integrantes do Grupo de Estudos de Humanas do Brasil Contemporâneo, Gisele Oliveira, Jarbas Gomes, Márcio Abreu, Marcelo Oliveira e Gabriel concordaram que a Escola Sem Partido e a Lei 13.415/2017 são parte estratégica de um projeto político partidário que visa colocar a educação sob os parâmetros do mercado.

Para eles, toda e qualquer forma de ensino, apresenta posicionamento ideológico e desconsiderar isso, utilizando como argumento a neutralidade seria apenas a escamoteação da defesa de uma ideologia de um grupo único. “Ninguém faz uma reflexão sem se posicionar metodologicamente. Em qualquer situação, o indivíduo reproduz um ponto de vista já existente”, pontuou Jarbas. Para ele, a educação ganha quando tenta ver as contradições entre duas ou mais partes, e não quando as evita.

“A educação nunca foi apartidária. Mesmo na Grécia, ou na Sociedade Romana, ou na Idade Média, ali existiram concepções de mundo e as pessoas eram formadas conforme a visão de mundo vigente. Sempre que alguém se propõe a ensinar alguma coisa ao outro, traz por trás de si sua própria história, suas origens e os pontos de vista da região de onde ele saiu”, argumentou Jarbas.

Uma preocupação comum entre os docentes seria a condenação de parte da sociedade da disseminação uma suposta “Ideologia de gênero”. Para Gisela, diante de um quadro social que têm entre suas estatísticas mais de 100 mil mulheres mortas nos últimos dez anos, em situações em que seu gênero foi o ocasionador da violência, e a morte de mais de 340 LGBTs no Brasil, apenas em 2016, é fruto de uma formação que tradicionalmente desconsidera as peculiaridades e necessidades dos indivíduos.

“Eu não estou falando de trans, gays, homossexuais, eu estou falando de pessoas que, conforme os dados mostrados, estão sendo mortas pela sexualidade, ou por seus gêneros. Se você não discernir gênero, você não está querendo entender o ser humano, porque os gêneros fazem parte da humanidade”.

Para Nadja Rocha, professora do Campus Maceió que esteve em um segundo momento do debate com os docentes Joalham Cardim, Ana Luíza Araújo e Tiago Rosário, parte dessas leis em formulação rompem com a ordem democrática do país. “Esses projetos criminalizam a pluralidade, a cientificidade e a postura crítica, mas quem apoia esses projetos criminaliza os professores com a delação, pelo arcabouço que possuem, está apoiado e tem um projeto ideológico partidário e político próprio”, opinou.

A docente ainda lembrou que esse projeto de educação tem origens e preceitos mercadológicos. “Ao se inspirar no código de consumidor, a Lei 13.415 reduz o papel de educador a reprodutor do mercado e a educação é colocada como apenas um serviço cuja formação é voltada para a criação de mão de obra”, concluiu.

Para eles, outras questões que estão sendo levantadas pelas reformas são o lugar das Ciências Humanas no Ensino Médio e a influência da religião na reprodução de conhecimento. Nesse quesito, Márcio Abreu pontuou que a tendência dessas novas normas é de cercear o conhecimento científico, em prol de convicções religiosas e do censo comum.

“Nesses quesitos, um professor de Física, ou Geografia, que falar sobre o formato esférico da Terra, conforme as leis científicas, pode entrar em conflito com alguma crença religiosa que prega a planicidade da Terra, o que o colocaria em uma situação difícil, caso os valores familiares viessem a ser tomados como guia para a educação escolar”, colocou o docente de Sociologia do Campus Penedo.

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