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Do artesanato à culinária: habilidades são fontes de lazer e aprendizagem
Série Talentos de Casa apresenta hobbies que são a marca de servidores
Acássia Deliê, Lidiane Neves e Pedro Barros - jornalistas
Última reportagem da Série Talentos de Casa apresenta os hobbies que viraram fonte de prazer e marcas entre servidores dos campi Marechal Deodoro, Penedo e Satuba. São artesãos, costureira e youtuber da culinária que aproveitam seus interesses para o descanso e a transformação de si mesmos.
Quando a pandemia da Covid-19 atingiu o Brasil e as atividades presenciais foram suspensas por medida de segurança, o Campus Marechal Deodoro buscou formas de manter suas equipes de trabalhos integradas e em harmonia. De forma online, em maio de 2020, realizou o Encontro Virtual de Talentos, um jeito descontraído de reunir todos os servidores da escola e estimular os cuidados com a saúde mental no período de isolamento social.
Duas apresentações daquele evento chamaram a atenção dos colegas, uma técnica administrativa e um docente, que expuseram os trabalhos artesanais produzidos nas horas livres.
Os panos de prato da Sil
Uma das servidoras mais antigas do campus, a servente de limpeza Silvânia de Albuquerque, de 60 anos, se apaixonou pelo artesanato em tecido, após trabalhar em uma das edições do Pronatec no Ifal, anos atrás. Sil, como é chamada carinhosamente pelos colegas, aprendeu com a mãe de uma das professoras do programa a técnica do patchwork, trabalho de costura e montagem artesanal de retalhos.
Desde então, sua casa vive cheia de tecidos, tintas, colas e linhas para bordar. Sil incrementa a técnica com bordados e pinturas feitos à mão para produzir, principalmente, peças para bebês e para cozinha. Mas foi pelos panos de prato coloridos que ela ganhou fama. Falou em pano de prato, é com a Sil! As peças feitas em casa levam alegria às casas de amigos, familiares e vizinhos.
“Eu me apaixonei pela arte. O artesanato me renova em cada peça que produzo. É como um filho pra mim, uma obra a qual eu dei vida. Acho o que faço lindo”, diz a servidora.
Para ela, a costura feita nas horas vagas, em casa, ajuda na saúde mental e contribui no trabalho que realiza na escola. “A arte ajuda, me deixando mais relaxada. Hoje também tem me ajudado a passar o tempo na pandemia e melhorado minha forma de vida”.
Os animais que nascem do papel
Se você passar a vista rapidamente pelo objeto, é capaz de imaginar ter visto um cachorro de verdade à sua frente. Ou será que acabou de pousar uma coruja na sala? Nada disso. As esculturas de papel feitas pelo professor de Física Dário Nicácio, de 55 anos, podem ter uma aparência tão realista que espanta. Docente dos cursos técnicos e superior do Campus Marechal Deodoro, desde 1998, há pouco mais de um ano ele se dedica a um hobby especial: construir objetos tridimensionais em papel com poucos polígonos, uma técnica conhecida como Papercraft Low Poly.
A maior parte das peças são animais, como felinos, aves e répteis. Mas há outros objetos também, como símbolos religiosos e escudos de times.
Dário conta que a escolha das peças é aleatória, a maior parte feita para presentear pessoas próximas. “Construir um modelo em papercraft requer muita concentração e paciência. É preciso acreditar que aquelas peças impressas e planas podem se encaixar, se transformando em um objeto tridimensional de papel com formas que imitam a realidade, um animal, uma pessoa ou um objeto”, ele diz.
Além disso, como explica o docente, o uso do papel é frequentemente a etapa inicial da construção de protótipos em engenharia, arquitetura, mecânica ou robótica. Como professor de física, Dário costuma construir experimentos e estimular a construção de protótipos pelos alunos. Assim, as esculturas são mais uma forma que ele encontrou de se dedicar ao ensino no Ifal.
“É um hobby para mim. Durante o desenvolvimento das peças, estou totalmente concentrado no desafio e na construção mental das peças. Consigo ver como vai ficar, antes de dobrar e colar. Esse exercício mental e manual me dá agilidade para resolver problemas típicos da minha atividade profissional como professor”, afirma Dário.
Hobby e solidariedade
Da avó que a ensinava a bordar quando criança, foi que a assistente de aluno do Campus Penedo, Flávia Seixas, herdou o interesse pela costura, atividade exercida com mais dedicação neste período de pandemia.
“Minha avó era uma bordadeira de mão cheia e, desde uns 7 anos de idade, que eu ia para a casa dela com minhas primas. Ela dava para cada neta uma sacolinha com os itens de bordar e sentávamos para aprender”, lembra a servidora, que na fase adulta não avançou na técnica, mas adquiriu afinidade com linhas e agulhas.
Hoje, com 30 anos, há três, Flávia decidiu comprar uma máquina de costura de pequeno porte para se aventurar nesse campo. A intenção inicial era fazer ajustes em roupas que comprava, mas atualmente ela já confecciona peças para uso próprio.
“Ainda não cheguei a fazer algum curso de corte e costura para me profissionalizar. Faço tudo de maneira intuitiva e assistindo a vídeos na internet. Além de peças de roupa, também já fiz algumas caminhas para cachorros e gatos da família”, conta.
Embora tenha uma produção ainda tímida, apenas voltada para família e amigos próximos, o espírito solidário da assistente de aluno a fez investir em tecidos para a confecção de máscaras doadas a pessoas em condição de vulnerabilidade socioeconômica em Penedo, cidade onde nasceu, reside e trabalha.
A servidora não sabe precisar o número de máscaras doadas, por ter tomado a iniciativa de forma espontânea, sem se preocupar com metas.
“Logo nos primeiros meses da pandemia, havia uma preocupação muito grande com o acesso das pessoas a máscaras, e eu via algumas que passavam pedindo alimentos pela porta de minha casa, sem o uso desse importante item que reduz a exposição ao novo coronavírus. Não foi uma produção de grande escala, mas perdi as contas de quantas fiz e doei”, diz.
Melhor hora do dia
Não é pouca responsabilidade ser coordenadora de Planejamento e Orçamento de um campus com aproximadamente 800 alunos, mais de 150 hectares e quase 110 anos de história. Foi no artesanato que a técnica administrativa da unidade de Satuba, Elisângela Barbosa encontrou uma forma de descansar sua mente.
“Desde os tempos escolares, sempre tive certa habilidade para trabalhos manuais, como fazíamos antigamente: desde o cartaz, até a própria capa do trabalho. Depois, fiz magistério e a habilidade sempre se mostrou nos trabalhos da Educação Infantil”, recorda.
Elisângela conta que, com o tempo, foi aprimorando suas técnicas e passou a se dedicar com mais afinco a elas em 2016. “Foram somadas a essa tal habilidade muitas videoaulas, lives de artesãs e grupos online de artesanato. Sou muito grata a artesã Lívia Fiorelli, que nunca mediu esforços em responder minhas dúvidas iniciais, quando comecei”, ressalta.
A servidora produz diversos tipos de itens, divulgando-os em seu Instagram, @artesbelica. São trabalho com MDF, caixas personalizadas, porta-chaves, escapulários de porta, chaveiros, escapulário para carro, cadernos personalizados etc, conta. “Hoje, o artesanato significa complemento de renda, compromisso e cuidados com a mente. É a melhor hora do dia!”, comemora.
A química dos alimentos
Quem também utiliza a rede como forma de compartilhar seu talento é a professora do Curso Técnico de Agroindústria e no Curso Superior de Tecnologia em Laticínios do Campus Satuba, Ângela Matilde. Antes mesmo da pandemia obrigar a utilização de recursos de ensino remoto, ela já gravava alguns vídeos de suas aulas práticas para ajudar os alunos a reproduzirem as etapas de produção, mas o isolamento social lhe deu mais gana para produzir vídeos de receitas na internet, prática que já fazia desde abril de 2019, no seu canal do YouTube. Atualmente, ele já conta com mais de 100 vídeos e quase 800 inscritos.
“Tudo começou quando eu pensei em fazer uma viagem internacional e passei a pesquisar canais sobre isso. Comecei a gostar dos vídeos e resolvi fazer um canal para mim também. A princípio seria bem diversificado, mas, com a pandemia, comecei a colocar as coisas que eu estava fazendo em casa. E o que mais fiz foi comer [risos]”, explica, bem-humorada.
Técnica em Química pelo Campus Maceió e graduada pelo curso onde hoje ensina, a servidora conta que, até se graduar na área de alimentos, não tinha a menor afinidade com culinária. “Mas depois que aprendi sobre tecnologia de alimentos, comecei a me apaixonar sobre esse assunto, nutrição e gastronomia. Hoje a culinária significa um cano de escape para estresse do dia a dia”, conclui.