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Campus Satuba realiza a 3ª edição do Baobá Cultura e Resistência

A atividade, organizada pelo Neabi, oferece discussões sobre a a questão étnico-racial e marca a passagem do Dia da Consciência Negra
por Adriana Cirqueira publicado: 13/11/2019 16h46, última modificação: 14/11/2019 13h35
Exibir carrossel de imagens Tâmara agradece pela participação e entrega lembrança feita pelos monitores ao professor Zezito

Tâmara agradece pela participação e entrega lembrança feita pelos monitores ao professor Zezito

Organizada pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal de Alagoas Campus Satuba, a terceira edição do Baobá Cultura e Resistência foi iniciada na manhã desta quarta-feira (13), no auditório do campus, tendo como temática "Negritude Alagoana: Religião, Gênero, História, Cor e Preconceito". O evento, criado para marcar a passagem do Dia da Consciência Negra, integra o calendário acadêmico do Ifal Campus Satuba e envolve servidores, estudantes, funcionários terceirizados e convidados.

Mesa de abertura e monitores

Marcado pelo protagonismo discente, o evento teve como mestre de cerimônias o estudante João Vitor Balbino da Silva, que deu as boas vindas aos participantes, organizou a formação da mesa de abertura e apresentou as atividades da manhã no auditório. Também o apoio do audiovisual foi realizado pelos monitores, que realizaram o credenciamento dos participantes, organizaram as assinaturas de listas de frequência, distribuíram a degustação de produtos alimentícios produzidos no campus, entre outras atividades essenciais para o bom andamento das atividades.

A mesa foi formada pelo diretor-geral do campus, Valdemir Lino Chaves Filho, pela pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPPI) do Ifal, Eunice Palmeira da Silva, por Táscya Morganna de Morais, diretora de ensino (DE) do campus e por Tâmara Lúcia dos Santos Silva, coordenadora do Neabi Campus Satuba. Valdemir agradeceu a presença a presença de todos e o empenho de servidores e estudantes para a realização do evento. Lembrou que a atuação de Tâmara frente as demandas de fortalecimento da identidade negra é anterior a constituição no Neabi e que o sucesso do Enneabi acontecido no mês de outubro se deve a ela e ao grupo que conseguiu, com muito trabalho e dedicação, incluir uma discussão importante e contemporânea no campus Satuba.

Boas vindas de Valdemir, diretor-geral do campus Satuba

“Nossos estudantes precisam conhecer e compreender o mundo em que estão inseridos, sendo críticos e conscientes dos lugares que ocupam na sociedade. Precisam refletir sobre a realidade e ser protagonistas. E hoje vemos esse protagonismo no campus Satuba” afirmou o diretor, ao confessar que seria impossível traduzir em palavras sua satisfação em enxergar a educação que se oferta no campus, na instituição e na rede federal, como sendo um patrimônio do povo brasileiro.

A pro-reitora Eunice Palmeira lembrou de sua passagem no campus na edição de 2018 do evento - e a curiosidade que a visão do auditório lotado suscitou - e em como ficou feliz com o convite para participar e contribuir com os trabalhos da edição 2019. “A representatividade de uma mulher, uma mulher negra, em posições de destaque e liderança precisa ser sempre destacada, principalmente em espaços historicamente ocupados por homens brancos. Queremos igualdade e equidade”, afirmou. Ao se dirigir à audiência, Tascya Morgana, diretora de ensino, frisou a presença das mulheres na mesa e falou da alegria em ver a atuação no Neabi, dos eventos realizados no campus Satuba e do trabalho e da dedicação dos envolvidos para que fossem um sucesso. “O evento de hoje está no calendário do campus e a DE faz o que está ao seu alcance para apoiar e prestigiar. Também gostaria de agradecer aos monitores que tem nos ajudado a fazer o sucesso dos eventos e à professora Tâmara que os liderou”. Tascya ponderou ainda que esses eventos são uma prova de resistência frente as dificuldades ampliadas pelo contingenciamento de recursos implementado pelo governo federal.

A última a falar foi a coordenadora do Neabi e organizadora do evento, a professora Tâmara Lúcia. Agradecendo a todxs que se dedicaram para que o evento acontecesse da melhor forma possível, Tâmara ratificou as palavras de Valdemir e Tascya quanto a importância e o papel fundamental dos monitores nos últimos eventos do campus. A coordenadora pontuou que os estudantes foram capacitados e, de forma colaborativa, participaram de diversos momentos da organização, atuando em várias frentes. Após os agradecimentos tratou de pontuar a situação da população negra alagoana e dos problemas e discriminações cotidianamente enfrentados, principalmente pela juventude. “Alagoas é o estado que mais mata jovens negros. Olhem para os lados. Se reconheçam. Trouxemos para cá os melhores profissionais para conversar com vocês sobre tudo o que acontece lá fora. E até aqui dentro. O preconceito, as piadinhas, o desrespeito. Eu espero que vocês acordem, que não mais aceitem isso. Ser negro é ser gente, ser belo, ser forte e resistente. Nossa porta está e estará sempre aberta para todxs vocês, porque o Neabi é um núcleo de vidas”, finalizou.

Tâmara e Richard prestam homenagem do Neabi aos servidores e colaboradores terceirizados

Após o desfazimento da mesa houve um momento de homenagem a alguns servidores e colaboradores: Maria Patricia dos Santos, Eraldo M. dos Santos, José Edemilson dos Santos, Marineide Godoi e Ivani dos Santos. Richard explicou que essa homenagem faz parte da programação e tem por objetivo agradecer e reconhecer a dedicação desses colaboradores que muitas vezes não é devidamente reconhecida.

Mateus canta um rap composto por ele com ajuda de colegas sobre sua vidaA homenagem foi seguida por apresentações culturais. O estudante Mateus Araujo cantou um rap sobre sua vida e os problemas e superações que já viveu. Depois Richard Plácido Pereira da Silva, chefe do Departamento de Assistência Estudantil (DAE) realizou a leitura dramatizada de um poema, seguido pelo estudante Dan Mikael e pela estudante Maieli, que declamou uma poesia autoral.

A palestra de abertura do III Baobá Cultura e Resistência foi "Ambundu-bantu e afro-alagoanos construindo Alagoas", proferida por Zezito Araújo. Professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, co-fundador do Neab Ufal e da Fundação Palmares, Zezito tratou das invisibilidades históricas e das escolhas ideológicas feitas nas narrativas oficiais. Ao iniciar sua fala discorreu sobre a feliz surpresa em constatar que, aqui na mesa de abertura, as autoridades não usam a fala como a maioria: se distanciando da audiência. “Percebi que vocês se incluem, usam ‘eu’, usam ‘nós’. Aqui não teve a terceira pessoa do discurso, com palavras acadêmicas que podem afastar”, analisou Zezito.

Palestra de abertura com o professor ZezitoCom uma palestra que buscou desmistificar a condição de negro, diferenciando negro, escravo, africano e outras expressões externas e que dificultam o entendimento e a identificação da comunidade negra, Zezito buscou demonstrar toda a riqueza: econômica, cultural, linguística, entre outras, trazida pelos povos que foram trazidos à força e escravizados no Brasil. “Se muitas são ricos Há diversas gerações, isso se deve ao fato de terem explorados as pessoas, suas tecnologias e conhecimentos, sem nunca ter sido dado os devidos créditos”, afirmou o professor. Zezito falou ainda sobre a inexistência de raças humanas, das sucessivas tentativas de desumanização do negro, da invisibilidade das contribuições, da negação na ancestralidade, da filosofia e do protagonismo negro da formação da humanidade.

  

Roda de conversos sobre Gênero, Cor e Liderança com Eunice Palmeira (PRPI Ifal)

Rodas de Conversa e Oficinas


Após a palestra e o lanche começaram as rodas de conversas. Das 10h10 às 11 horas aconteceram dez (10) rodas distribuídas nas salas de aula do campus:

1. Auto-estima, negritude e escolarização: Sirleide Santana (Ifal Campus Satuba)
2. Literatura Negra em Alagoas: Lucas Litrento e Jean Albuquerque (Ufal)
3. Como você se autodeclara?: discussões sobre a política de cotas em Alagoas: Lígia Ferreira dos Santos (Ufal)
4. Maracatu: cultura de resistência: Salete Bernardes (Unicsal)
5. Questões Étnicos - Raciais: diálogos sobre o cenário, desafios e perspectivas da negritude alagoana: Luila de Paula (Fundação Anajô)
6. Vivência e Empoderamento da Jovem Negra em Alagoas: Maria Luiza Athaide
7. A Consciência Negra no contexto histórico Alagoano: Luis Antônio (Ifal Campus Maceió)
8. Gênero e Raça: Júlia Góes (Ufal)
9. Gênero, Cor e Liderança: Eunice Palmeira (PRPI Ifal)
10. Atividades de Autoidentificação étnico–racial: Mylena Rafaella de Abreu Silva – Assistente Social do Hospital Memorial Djacy Barbosa e Eunice Maria Alves -Assistente Social do Hospital Universitár

Atividade na área externa: Roda de Capoeira com o grupo de Capoeira da Ifal Satuba, formada por estudantes do campus.

Durante o intervalo de almoço, na praça em frente o refeitório, houve a apresentação da Roda de Capoeira com o grupo de Capoeira da Ifal Satuba, formada por estudantes do campus.

A programação segue no período vespertino com outras atividades. Das 13h às 14 horas serão realizadas 6 oficinas:

1. Atotô!- Saúde, cuidado e ancestralidade
2. Abebé: ressignificando a representação do sujeito negro nas mídias.
3. Atividades de Autoidentificação étnico - racial
4. Hip Hop como movimento sociocultural e pedagógico
5. O negro na iconografia brasileira: registros de escravização e resistência.
6. Capoeira

No horário das 14h10 às 15h40 haverá a Mostra Quilombo de Cinema Negro e, no encerramento, a apresentação de Mel Nascimento, Gustavo Gomes e Gustavo Barbosa.

No período noturno haverá, no auditório, o Cine Debate com a exibição do filme "Que horas ela volta". A discussão será facilitada por Tâmara Lúcia,  Diego Calixto e Wilson Ceciliano. Finalizando as atividades será feito o anúncio de um concurso para a escolha da logomarca do Neabi Ifal Campus Satuba.

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