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Além do ensino técnico: os mestrados do Ifal e a pesquisa que transforma
Quando se fala no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), é comum pensar logo nos cursos técnicos. E não por acaso: desde 1909, quando nasceu como Escola de Aprendizes e Artífices, a instituição vem formando gerações com base sólida na educação profissional. Mas o que muita gente ainda não sabe é que os Institutos Federais também ofertam graduações bem avaliadas e programas de pós-graduação stricto sensu.
Três programas de mestrado stricto sensu estão em atividade no Instituto Federal de Alagoas, refletindo diferentes formatos de oferta e parcerias institucionais. São eles:
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PPGTEC – Mestrado Profissional em Tecnologias Ambientais, sediado no Campus Marechal Deodoro
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ProfEPT – Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica, ofertado no Campus Benedito Bentes. Embora a turma esteja vinculada ao Ifal, o programa é uma iniciativa nacional da Rede Federal, com currículo unificado e atuação em rede.
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MINTER/UFS – Mestrado Acadêmico em Administração, fruto de parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), voltado exclusivamente à qualificação de servidores do Ifal.
Mestrado em Tecnologias Ambientais
No litoral sul do estado, o Mestrado Profissional em Tecnologias Ambientais (PPGTEC), com sede no Campus Marechal Deodoro, integra ciência, sustentabilidade e um forte vínculo com a realidade local. Com caráter multidisciplinar e oferecido gratuitamente, o programa disponibiliza 20 vagas por ano para membros da comunidade externa e servidores do Ifal. Suas atividades são desenvolvidas em duas linhas de pesquisa: Manejo e Monitoramento Ambiental, e Tecnologias e Inovações Ambientais.
Desde 2017, o PPGTEC já formou 89 alunos, distribuídos em oito turmas concluídas, e se prepara para receber a nona turma. Os projetos desenvolvidos ao longo dos anos abordam temas urgentes, como saneamento básico, reaproveitamento de resíduos, energias renováveis, gestão costeira e educação ambiental.
Em 2024, os alunos Elice Lira Silva e Adriano Alves de Andrade foram reconhecidos com o Prêmio Fapeal de Excelência Científica, por artigos publicados em periódicos de alto nível (Qualis A1 a A4).
A aluna Elice Lira Silva foi premiada pela pesquisa “Análise ambiental do antigo lixão, no Povoado Algodãozinho, em Palmeira dos Índios-AL”, publicada na Revista Geoambiente (Qualis A3). O trabalho foi orientado pelos professores Ronny Marques (Campus Piranhas) e Sheyla Marques (Campus Palmeira dos Índios).
Já o aluno Adriano Alves de Andrade recebeu o prêmio pela pesquisa “Viabilidade técnica do uso de topsoil na composição de substratos de espécies florestais da caatinga”, publicada na Revista Observatorio de La Economía Latinoamericana (Qualis A4). O estudo foi orientado pelos docentes Marcelo Cavalcante (Campus Maragogi), Rodrigo Pereira (Ufape) e Cícero dos Santos (Ufal).
Mestrado em Educação Profissional
O Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), oferecido no Campus Benedito Bentes, faz parte de uma rede nacional de formação que busca transformar a educação com base nas realidades locais. Desde sua implantação em 2018, o programa já formou 84 mestres em Alagoas e atualmente está com sua oitava turma. O ProfEPT valoriza a experiência concreta como ponto de partida para repensar e inovar a educação profissional e tecnológica. Assim como o PPGTEC, o ProfEPT tem vagas para a sociedade civil e para servidores da Rede Federal.
Entre os egressos, destaca-se o pedagogo Jeorge Venâncio Santos Lima, que investigou o papel do pedagogo na Rede Federal. Seu trabalho resultou no produto educacional “Caderno (Auto)Reflexivo do(a) Pedagogo(a)” e na publicação do livro “O(a) pedagogo(a) em ação no ensino médio integrado à Educação Profissional e Tecnológica”, pela Editora Diálogo Freiriano.
“O ProfEPT foi uma virada de chave na minha vida. Me reconectei com meus sonhos, entrei no doutorado e agora lanço meu primeiro livro”, celebra Jeorge, que também recebeu o Prêmio de Excelência Acadêmica da Fapeal (2025) por artigo publicado em revista Qualis A.
O professor e orientador Ricardo Jorge de Sousa Cavalcanti destaca o impacto transformador do ProfEPT na vida de Jeorge Venâncio:
“Jeorge chegou ao mestrado em um momento delicado, enfrentando inclusive fragilidades de saúde. O ProfEPT foi mais do que uma formação acadêmica — foi um espaço de reconstrução pessoal e profissional. Ele teve contato com novas teorias, abordagens e metodologias ligadas à educação profissional e tecnológica, o que permitiu refletir sobre sua prática na rede estadual e na Rede Federal. Esse processo não apenas fortaleceu sua pesquisa, mas transformou sua trajetória. Hoje, Jeorge está no doutorado, produzindo, publicando e atuando como um educador-pesquisador engajado.”
O docente também enfatiza o papel do programa como alternativa real de acesso à pós-graduação:
“Ele já havia tentado outros processos seletivos em instituições públicas, mas foi no ProfEPT que encontrou um ambiente que o acolheu e o incentivou. O ProfEPT, sendo um mestrado profissional com base local e inserção nacional — por meio de uma rede com mais de 40 instituições — permite que histórias como a dele sejam ressignificadas. Ver essa transformação é uma das maiores contribuições do programa.”
Mestrado em Administração
Mais recente entre os programas stricto sensu, o Mestrado em Administração é fruto de uma parceria entre o Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Voltado exclusivamente para servidores do Ifal, o curso representa um importante incentivo à qualificação do corpo técnico e docente. Com aulas presenciais em Maceió, sua primeira turma teve início em 2025, reunindo 20 profissionais de diversas áreas da instituição.
Entre os alunos do Minter está o servidor Jéferson Tenório da Silva, técnico-administrativo que atua na Reitoria do Ifal e já passou pelo Campus Viçosa. Ele destaca como essa formação tem impactado sua trajetória profissional:
“O mestrado tem ampliado minha visão sobre a instituição e despertado em mim um novo interesse: o desejo de atuar na docência. É uma experiência intensa, desafiadora e profundamente transformadora. Tenho me reconhecido, cada vez mais, como alguém capaz de contribuir não só com a gestão, mas também com a formação de outras pessoas dentro do serviço público.”
Para o reitor do Ifal, Carlos Guedes, o Minter é parte estratégica de um novo momento institucional:
“Reformulamos nossa política de qualificação para ampliar as oportunidades de formação dos nossos servidores. O Minter é resultado de um esforço coletivo para diversificar a oferta de mestrados no Ifal. Ver nossos profissionais conduzindo pesquisas e participando de atividades comprometidas com a educação, a gestão e o desenvolvimento local é motivo de grande orgulho. Esses programas — assim como o ProfEPT, no Benedito Bentes, e o PPGTEC, em Marechal Deodoro — valorizam nossos servidores, beneficiam a comunidade e consolidam o Instituto como um polo de formação, gestão e pesquisa de excelência.”
Educação pública que transforma vidas
A professora Eunice Palmeira, pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Ifal, destacou o compromisso da instituição com o fortalecimento e a expansão da pós-graduação stricto sensu. Segundo ela, os avanços conquistados com os mestrados são apenas o começo de um projeto mais amplo e em amadurecimento:
“Estamos trabalhando para dar um novo passo: oferecer o doutorado. A proposta do Doutorado Interinstitucional (Dinter) está em construção e representa mais uma etapa no processo de consolidação do Ifal como instituição formadora em todos os níveis. Seguiremos investindo na construção de uma rede sólida de formação, pesquisa e impacto social, que valorize nossos servidores e contribua diretamente para o desenvolvimento do nosso estado.”
Na avaliação da pró-reitora, os programas de mestrado já em andamento evidenciam o compromisso do Ifal com a realidade vivida pela população. Ela observa que as pesquisas desenvolvidas nesses cursos partem de experiências concretas e retornam à sociedade em forma de soluções aplicáveis. Os projetos dialogam com as atividades cotidianas e com os desafios enfrentados em escolas, serviços públicos, economias locais e nas diversas comunidades atendidas pela instituição — rurais, urbanas, quilombolas, ribeirinhas e periféricas. Também contemplam temas ambientais urgentes, como o uso sustentável dos recursos naturais, o manejo de resíduos e a preservação dos ecossistemas.
Para Eunice, é dessa conexão entre ciência, prática social e compromisso institucional que emerge o potencial transformador da pós-graduação no Ifal. Com mais de cem anos de trajetória e presença em todas as regiões de Alagoas, a instituição reforça que sua missão vai além da capacitação técnica: ela propõe caminhos, forma lideranças e contribui para a construção de futuros possíveis — agora, com mestres formados dentro da própria casa.