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3º Encontro Nacional da EJA-EPT tem edição inédita, com participação on-line
Cerimônia de abertura contou com Miguel Arroyo abordando a conjuntura atual da EJA
Foi com a história de um ex-aluno do Campus Palmeira dos Índios, que o reitor do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Carlos Guedes, deu o pontapé ao 3º Encontro Nacional da EJA-EPT (Proeja) da Rede Federal, iniciado na noite desta quinta-feira, 1º de outubro.
“‘Mais um dia de glória. Obrigado, meu Deus’. Essa frase não é de nenhum filósofo, palestrante renomado, pesquisador, professor, ou estudioso. Essa frase é de Erasmo Tenório, ex-aluno do curso técnico em Eletrotécnica da modalidade de Jovens e Adultos do Campus Palmeira dos Índios, da nossa instituição. O Erasmo trabalhava numa panificadora, tinha a função de ser chapeiro. Ele estudava a noite e trabalhava o dia inteiro, sem carteira assinada e chegava a cochilar nas aulas, de tão cansado. Tinha as mãos tão grossas, que ele tinha dificuldade de manusear o mouse nas minhas aulas de Informática. Um dia em que o seu empregador da padaria, chateado, porque ele saia para assistir às aulas, perguntou: “Erasmo, você quer trabalhar, ou estudar?” Erasmo respondeu, quero estudar para ser livre’”, recordou o reitor para enfatizar o quanto a educação pode ser libertadora.
A história contada pelo reitor foi um elemento-base para a conferência de abertura do evento, pelo professor convidado, Miguel Arroyo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao longo da noite, ele pontuou a necessidade de se levar em consideração as trajetórias de vida dos sujeitos que compõem as salas de aulas da EJA e de buscar compreendê-los como seres em sua totalidade.
“Os referentes na Educação de Jovens e Adultos sempre foram os sujeitos. Nós temos que cuidar do outro, para que o indivíduo se realize enquanto ser humano. Precisamos nos perguntar o que vamos destacar na formação desses sujeitos e devemos ajudá-los a ser gente”, pontou Arroyo.
Para o palestrante, é necessário enxergar os estudantes da modalidade, não de forma romântica, mas levando em consideração as opressões vivenciadas por eles, ao longo de toda a sua formação humana.
“Eu quero adentrar em um primeiro ponto: que os adultos e jovens sejam vistos como humanos em sua totalidade, de sujeitos com direitos e que o tempo todo dividem seu tempo entre o trabalho e estudo, sempre em busca de sua liberdade”, sugeriu.
Ao longo da palestra, Arroyo ainda falou sobre as dificuldades impostas pela atual conjuntura política para que educadores assumam a missão de uma formação humana.
“Quando me convidaram para participar desse evento, eu perguntei para a organização: ‘vocês ainda estão acreditando que há espaço para a educação de jovens e adultos?’. Estamos em tempos em que já não é mais de ‘esperançar’, como Paulo Freire dizia, mas sim, de esperar sentado”, enfatizou o convidado.
Primeira edição realizada de forma remota
Essa foi a primeira vez que o encontro foi realizado completamente do modo on-line, mas a mediadora da conferência de abertura e uma das organizadoras do evento, Ana Cristina Limeira, comentou que as dificuldades para sua realização estão presentes desde o primeiro encontro, realizado em 2018. Ela lembrou que naquele momento, os obstáculos vinham do contingenciamento de recursos das instituições públicas federais de ensino. Atualmente, foi a necessidade de distanciamento que fez com que os planos iniciais fossem alterados, mas o encontro pôde acontecer com o apoio do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).
“O desejo de acolher a todos em Maceió, como fora planejado, foi desfeito. Procuramos outro caminho e com o apoio do professor Carlos Guedes e da pró-reitora de Ensino para realizar o evento em formato virtual e aqui estamos construindo virtualmente, em tela e ao vivo. Somos 1402 participantes inscritos, um recorde de participação no evento, nas cinco regiões desse país, na formação de jovens e adultos. São 132 trabalhos submetidos e seremos mediados por uma equipe de mediadores e mediadoras, além de uma grande logística, articulados e fortalecidos”, enfatizou Ana Cristina.
A mediadora comentou sobre as atividades que serão desenvolvidas ao longo dos dias 1 a 4 de outubro. “Apresentaremos a produção de pesquisas acadêmicas desenvolvidas sobre a Educação de Jovens e Adultos, as vivências e experiências das práticas desenvolvidas em sala de aula, as produções culturais dos estudantes, o lançamento de histórias que merecem ser contadas e reafirmadas pelos nossos docentes. Teremos mesas temáticas com palestrantes renomados e uma linda mesa, preparada pelos nossos estudantes, debatendo os desafios impostos pela pandemia”, detalhou.
Também Fizeram parte da mesa de abertura o presidente nacional do Conif, José Jadir e a pró-reitora de Ensino do Ifal, Cledilma Costa, que comentou a importância de sediar o terceiro encontro.
“Nosso evento é uma mostra do levar adiante, de fazer com o outro. Em março, nós nos preparávamos para receber convidados, mas presencialmente. A pandemia não foi obstáculo para levarmos adiante o diálogo entre as instituições, para a sua concretização. Resta-nos agradecer o apoio de todas as comissões, a nível nacional e local; de nossos tradutores de Libras, dos nossos operadores de TI e dos nossos alunos. Nosso evento é uma realidade porque homens e mulheres esperançaram e foram atrás”.
Informações sobre a programação do evento estão disponíveis no Doity. Confira a acerimônia de abertura abaixo: