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Projeto de extensão promove resgate histórico da cultura quilombola no sertão
Conheça a ação, realizada no Povoado Alto do Tamanduá, sertão do estado
Centenas de anos após o fim da escravidão no país, os negros ainda sofrem na pele as marcas da história. Numa rápida pesquisa à internet os casos de racismo são numerosos. Em 2013, a simples ida de uma família com boa estrutura financeira a uma concessionária na área nobre do Rio de Janeiro chocou o país, num caso denunciado pelos pais do garoto negro de 7 anos, que fora deixado na recepção enquanto sua família escolhia um carro novo de alto padrão. Nem a condição financeira foi capaz de fazer o pequeno garoto escapar do preconceito: após o fim do desenho animado, o menino foi procurar pelos pais e ao se aproximar deles escutou do gerente: “Aqui não é lugar para você. Saia da loja”. Dois anos depois a concessionária foi condenada a pagar uma indenização à família.
Em 2014, mais um caso de racismo chocou o país. Naquele que deveria ser apenas um cenário festivo, as câmeras da TV flagraram o momento em que torcedores do Grêmio insultaram o goleiro Aranha, após a vitória da rival Ponte Preta sobre o time gaúcho, na Copa do Brasil daquele ano, em Porto Alegre. O clube gaúcho foi expulso da competição naquele ano pelo comportamento preconceituoso de alguns de seus torcedores.
Ainda em 2014, Edson Lopes, um cabo da Polícia Militar, não escapou dos numerosos casos de preconceito racial. Num supermercado da grande Vitória, no Espírito Santo, foi obrigado pelos seguranças a se despir e comprovar que não havia roubado dois rótulos de vinho. Negro, o cabo usava bermuda e chinelo.
Aranha, Edson e o garoto da concessionária carioca não são casos isolados e representam o cenário de preconceito num país ironicamente de maioria negra. Se os casos já refletem o racismo no Brasil, o que dizer das populações quilombolas, historicamente marginalizadas em nossas terras. Dados do Governo Federal, divulgados em 2013, apontam quem 75% deles vivem em situação de extrema pobreza.
Boas iniciativas
A melhor arma no combate ao preconceito é a informação e o conhecimento. Nossa especial sobre os projetos de extensão do Campus Santana nos leva a uma iniciativa que que tem transformado a realidade da comunidade quilombola do Alto do Tamanduá, no município de Poço das Trincheiras, que ainda sofre com a ausência de políticas públicas capazes de reconhecer o seu papel de protagonismo na história brasileira.
O projeto “História e cidadania: diálogos com a identidade negra” é orientado pelo Professor Flávio Veiga, fruto de sua passagem destacada no campus. A ação acontece em parceria com a Associação dos Moradores do Alto do Tamanduá e contempla um conjunto de ações culturais e educativas, promovendo um encontro de gerações. A ideia é colocar frente a frente crianças, jovens e idosos, na procura pelo resgate histórico da comunidade, reconhecida em 2005 pelo Ministério da Cultura.
Outra importante ação do projeto se dá com a conscientização do poder cidadão junto aos quilombolas. Nesta etapa, o palco da iniciativa é a Escola Municipal Muniz Falcão, localizada no povoado, localizado na zona rural, próximo a Santana do Ipanema. Lá foram realizadas palestras e oficinas culturais, colocando os moradores em contato com informações acerca de direitos humanos e da construção da própria cidadania. "Busca-se na verdade despertar nos quilombolas um olhar proativo frente as adversidades, onde exerçam cada vez mais cidadania, exigindo as politicas públicas afirmativas ofertados pelo Estado brasileiro”, destacou Flávio Veiga, hoje atuando no Campus Murici. Mestre em Ciências da Religião, o docente é um entusiasta da causas sociais, especialmente quando se trata do resgate da cultura negra no país.
A luta da comunidade é para afirmar-se frente à exclusão social e ao racismo a que são cotidianamente submetidos. Segundo informações mapeadas pela Associação Comunitária, 285 pessoas moram na região. Esse público conheceu com o projeto os caminhos para o ensino gratuito ofertado por instituições respeitadas no cenário educacional, como o Instituto Federal de Alagoas, e a importância dos serviços da Promotoria Estadual, da OAB e da Defensoria Pública, conceitos que passaram despercebidos durante anos.
A iniciativa está alinhada com outras ações educacionais que visam diminuir a desigualdade entre negros, cumprindo, inclusive, uma das estratégias previstas no Plano Nacional de Educação, o PNE (2011-2020). No Campus Santana o amplo debate sobre o tema ganha força a cada nova prática, como as Mostras da Consciência Negra, já tradicionais no calendário de eventos da instituição.
Fazem parte do projeto os bolsistas Pedro Fernando Brandão Alcântara Sobrinho e Gabrielly Rodrigues dos Santos, além do voluntário Emanuel Davi Medeiros. A ação foi encerrada no último dia 02 de dezembro, com discussões, palestras, oficinas, exibição de documentário e apresentações culturais. Ao longo de 2017, trouxemos nessa série importantes ações extensionistas, que revelam a importância da politica educacional do Ifal, no desenvolvimento da região, para além da formação técnica. O olhar humano e formação de cidadãos críticos é mais uma marca da nossa atuação no sertão e o projeto em pauta é uma exuberante prova. Em 2018 mais ações serão desenvolvidas e convertidas em melhorias para a região.