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Projeto de ensino mergulha no universo das artes para recontar história dos povos indígenas no Brasil

História e arte se unem para apresentar traços e costumes dos índios no Brasil Colônia

publicado: 02/10/2018 12h05, última modificação: 02/10/2018 12h05
Exibir carrossel de imagens Alunos exibem reprodução de tela do artista Albert Eckhout

Alunos exibem reprodução de tela do artista Albert Eckhout

Os amantes do samba podem nem saber, mas um dos projetos desenvolvidos no campus do Ifal em Santana do Ipanema tem tudo a ver com o carnaval campeão da Imperatriz Leopoldinense em 1999 no Rio de Janeiro, intitulado "Brasil mostra a sua cara em… Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae", da carnavalesca Rosa Magalhães, primeiro título do tricampeonato da verde e branco do bairro de Ramos. Traduzido para o português, "O Teatro das coisas naturais do Brasil" é também o título do projeto de ensino do docente Jonatas Xavier, que mergulha dentro da obra do desenhista, pintor, botânico e artista plástico europeu, que viveu no século XVII para recontar a história do Brasil Colônia.

Imagem 5Albert Eckhout veio ao Brasil acompanhando a comitiva do príncipe holandês Maurício de Nassau, no auge da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, se destacando como grande documentarista dos tipos humanos, além da fauna e flora. A ideia do projeto de ensino teve como proposta principal investigar hábitos e costumes dos povos indígenas no Brasil Colônia a partir dos desenhos e aquarelas produzidos por Eckhout durante a quase uma década em que o artista viveu em Pernambuco. "A obra de arte, ou seja, o discurso imagético se coloca no rol de fontes históricas de suma importância para o historiador do contemporâneo, ensejando diversos Imagem 2deslocamentos analíticos que nos ajudam a problematizar o presente e o passado", destacou o docente, doutorando em História pela Universidade Federal de Pernambuco e amante da história brasileira.

Desde 2008 a legislação tornou obrigatório o ensino da história e cultura dos povos indígenas em todas as instituições de ensino público e privado no Brasil. A iniciativa do Campus Santana além de atender à lei nº  11.645 de 2008, reconta a história do período colonial brasileiro a partir de um recorte do legado do artista holandês, menos reconhecido que seus conterrâneos à sua época. Após 300 anos guardada na Alemanha, a obra em questão só ficou conhecida do grande público em 1977, quando o pesquisador aquático Whitehead localizou-os em meio aos manuscritos originais de músicas, partituras de Mozart, além de manuscritos de Beethoven, Bach, Brahms e outros, na cidade de Cracóvia, na Polônia, onde hoje estão expostos na Biblioteca Jagiellonska.


Arte, história e as produções no projeto


Imagem 3Nas últimas semanas, os participantes do projeto foram desafiados a reproduzir um recorte sobre as obras clássicas de Eckhout, que revelam o olhar do artista sobre a mulher africana, o homem mestiço e a mulher tupi. "A metodologia proposta teve como base uma provocação antropofágica, típica do movimento modernista de Oswaldo de Andrade, e o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, misturando elementos de pinturas diferentes e dando visibilidade minuciosa a alguns signos imagéticos de suma importância nas telas de Eckhout, pois revelam o contato entre europeus, indígenas e negros no Brasil Colônia", explicou Jonatas.

A iniciativa também reforça sua abordagem dentro da história cultural, que volta seu olhar para as tradições da cultura popular como ponto central do estudo histórico. Albert Eckhout deixou um rico legado pela sua passagem no Brasil, iniciada em 1637, tendo produzido um conjunto de cerca de 400 desenhos e esboços à óleo. O projeto segue analisando o recorte artístico do holandês até o final do ano, misturando história, antropologia e arte.