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No mês do professor, conheça a história do ex-feirante que teve sua vida transformada pelo Ifal
Ex-aluno do Ifal, José Carlos agora faz parte do corpo docente da instituição
Palmeira dos Índios, agreste do estado. Ali, em maio de 1986, nascia José Carlos Costa, no seio de uma família simples da zona rural, que retirava seu sustento da agricultura de subsistência e do comércio de cereais em feiras livres, nas cidades circunvizinhas. Desde pequeno, o menino superava as dificuldades mergulhando no universo dos livros. Foram os livros, aliás, que ajudaram na superação do granuloma eosinófilo, um raro tumor ósseo localizado no crânio, vencido após tratamento cirúrgico, ressecção total da lesão e sessões de quimioterapia intensiva.
Na Escola Estadual José Vicente Ferreira da Silva, em Igaci, Zé, como é carinhosamente chamado, já se destacava pelo bom desempenho no ensino fundamental. O fim da primeira etapa de sua formação marca, na verdade, o início de sua história de amor com o Instituto Federal da Alagoas, onde cursou o ensino médio. Na então Unidade Descentralizada do CEFET em Palmeira dos Índios, o docente precisou de perseverança para concluir seu curso, enfrentando 18 km de trajeto diário feito em bicicleta no último ano, em função de cortes na ajuda que recebia da Prefeitura de Igaci. Mas valeu à pena, diz o professor: "No Ifal desenvolvi o espírito de perseverança, luta, planejamento, insistência, sonho e força de vontade, essenciais para minha formação".
A rotina exaustiva de estudos nunca serviu como desculpa para José Carlos fugir dos compromissos como feirante, sempre ajudando os pais. "Passei a admirar e respeitar os momentos nas feiras livres, porque eram marcados pelo encontro e interação de gente humilde, que como nós fazia a diferença na vida das pessoas. Aprendi ali sobre relações interpessoais. Conhecimentos que são decisivos pra minha atuação como docente", explicou.
Do limão uma limonada
Da simples barraca de madeira e lona para a liderança nas salas de aulas da maior instituição de ensino técnico do estado foi um pulo. Mas antes, como bom feirante, Zé precisou fazer do limão uma limonada. No CEFET, vieram notas baixas em Física e a necessidade de aprender a lidar melhor com a matéria. "Percebi que precisava me relacionar de forma mais amigável com o estudo da disciplina. Dobrei minha dedicação e obtive resultados satisfatórios", explicou o docente. Em pouco tempo, o aluno tornara-se monitor de Física nos três anos do Ensino Médio.
Do início tumultuado de sua relação com a Física só ficaram as lembranças. Recém saído da Uned Palmeira dos Índios, a aprovação na Licenciatura em Física fez José Carlos se destacar também na Universidade Federal de Alagoas, desenvolvendo uma grande diversidade de experimentos educativos no Espaço Usina Ciência. De lá, sua história fez uma curva na Escola Estadual Professora Gilvania Ataíde, onde atuou por três anos como docente, após aprovação em concurso público do estado de Alagoas.
Ifal: uma história de amor
Não há como negar o caso de amor entre José Carlos e o Instituto Federal de Alagoas. As dificuldades vividas entre o trabalho no campo e nas feiras livres e os desafios e cobranças da formação no antigo CEFET-AL não afastaram José Carlos do caminho certo. Ao contrário, foram essenciais para que o ex-feirante chegasse ao posto de professor efetivo da instituição que o havia recebido como aluno. Em agosto de 2017, tomava posse como professor efetivo do ensino básico, técnico e tecnológico do Ifal, José Carlos da Costa, no Campus Santana do Ipanema.
Do agreste para o sertão, o agora docente de sua antiga casa, sabe da responsabilidade que tem na formação de centenas de jovens numa região carente de políticas públicas educacionais. Mas se engana quem pensa que ele foge dela. Em poucos meses no Campus Santana, o docente aceitou o desafio de gerir a Coordenação de Formação Geral, essencial para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem nos cursos técnicos ofertados na casa.
Em pouco mais de um ano de atuação, o docente conseguiu classificar estudantes para a fase final da Olimpíada Brasileira de Física da Escolas Públicas, a OBFEP, por dois anos seguidos. A história de sucesso de José Carlos serve como exemplo de superação. "Definir metas claras, acreditar em si mesmo, ter vontade de aprender, e facilidade para se adaptar, perseverar e aproveitar todas as oportunidades", define o professor como a receita para o sucesso. No dicionário do esposo da Suzianne e do pai do pequeno João Lucas, brilham os termos "planejamento, paciência e persistência". No ano em que a Rede Federal celebra 10 anos, a vida do docente se confunde com a missão do Ifal de promover educação de qualidade social, pública e gratuita, criando cidadãos críticos para o mundo do trabalho.