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No Dia Internacional da Mulher, conheça histórias de vidas transformadas pela educação

08 de março é dia de festa, mas também de luta e resistência feminina

publicado: 07/03/2019 21h26, última modificação: 07/03/2019 21h26
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A força da educação enquanto elemento de inclusão social

“Aprendi que ensinar é um ato político e de resistência à opressão que os mais pobres sofrem”. A frase é da professora Fabiana Menezes e diz muito sobre o papel transformador que a educação têm na vida das pessoas. Na dela, inclusive. Nascida numa família de origem humilde, a agora docente do Ifal Campus Santana do Ipanema, dividiu a difícil infância com três irmãos trancados em casa, na periferia de Natal, no Rio Grande do Norte, enquanto sua mãe saia todos os dias para buscar o sustento da família: “Minha mãe sempre foi batalhadora. Nunca teve acesso à educação formal e não conseguiu sequer terminar o ensino fundamental. Trabalhou como vendedora de loja até se aposentar e sua vida corrida não deixava tempo para acompanhar meus estudos”, destaca. Com os irmãos, Fabiana dividiu também a ausência do pai, mas fez disso um trampolim para fazer seu futuro, que dependia dos estudos, sempre lembrado pela sua mãe: “Nossa vida se resumia à escola e minha mãe sempre nos dizia que quem não tem herança precisava estudar”, conta a potiguar.

“Aprendi que ensinar é um ato político e de resistência à opressão que os mais pobres sofrem”.   Fabiana Menezes

Fosse pela influência cultivada pela sua mãe, fosse por uma característica nata, desde cedo a paixão pela docência se revelara: “Um dia estava com minha avó em casa, quando um vendedor ambulante chamou no portão. Eu devia ter uns sete anos. Enquanto eles conversavam, me meti na conversa. Ele se aproximou, me fez perguntas e eu o respondi. Lembro dele se inclinando, olhando pra mim e dizendo: 'você fala tão explicadinho, parece uma professorinha’. Ali meu caminho se fez”, recorda, emocionada, Fabiana. 

O caminho de sucesso passou pela rede de educação profissional e tecnológica. Na antiga Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, a então estudante concluiu o curso técnico em Geologia. Curiosamente, a vocação para a docência se mostrou ainda mais forte com sua aprovação para o curso superior de Jornalismo, na UFRN. Infeliz com os estudos, Fabiana abandonou o curso e tentou uma vaga no vestibular do Cefet-RN para a licenciatura em Geografia, concluída em 2005. 


O futuro repetindo o passado


O sorriso no rosto no dia da posse no IfalDurante seus estudos no Cefet-RN, Fabiana temeu repetir o caminho da sua mãe, mas o amor pelo que ela chama de curso da sua vida, foi o combustível para superar as dificuldades. “Naquele momento não tinha dinheiro e já era mãe. Durante a faculdade repeti o trajeto da minha mãe. Fui vendedora de loja por três anos, trabalhando durante o dia e estudando a noite. Abdiquei noites de sono, divindindo minhas madrugadas entre o cuidado com minha filha e a preparação para concursos”, conta. 

A obstinação valeu a pena. Antes mesmo de se formar em Geografia, Fabiana foi aprovada no concurso, atuando mais de uma década em escolas da rede pública estadual do Rio Grande do Norte. “Dei aulas em salas onde não existia nem mesmo um ventilador para aplacar o calor insuportável. Convivi de perto com a fome das crianças e a falta de estrutura. Acredito que aquilo me refez hoje. Sigo pensando em contribuir com a vida dos meninos e meninas que, como eu, não têm herança para receber”, salienta a docente.

A professora é declaradamente uma franca defensora da educação pública, onde sempre atuou. Sua relação de amor com a rede de educação profissional e tecnológica ainda reservava o capítulo mais impactante. “Prossegui meus estudos e conclui meu Mestrado. Depois, passei a buscar uma vaga como professora nos Institutos Federais”, lembra. Em 2016, Fabiana foi aprovada no concurso púbico para docente no Instituto Federal de Alagoas, nomeada para o campus do Ifal em Santana do Ipanema, sertão do estado, onde continua sua missão de defender a educação enquanto ato político.


Caminhos que se entrecruzam


Numa rápida visita à turma do 1º ano do Curso Técnico em Administração, ofertado no campus do Ifal em Santana do Ipanema, a presença da estudante Florisvalda Ramalho salta aos olhos. Aos 45 anos, a santanense resolveu tentar uma vaga no Exame de Seleção 2019 e conseguiu essa vitória, mais uma em sua marcante história de vida.

Florisvalda e o reencontro com os estudosFilha de funcionário público e de lavadeira, Flores, como é carinhosamente chamada pelos colegas de sala, precisava cuidar da casa e de seus irmãos mais novos, enquanto seus pais trabalhavam. “Não posso nem falar sobre minha infância, porque não tenho referência desse período como as crianças de hoje têm”, destaca. A lembrança da infância difícil não tira o sorriso da discente, que nos conta seu primeiro contato com uma boneca, aos 15 anos. A brincadeira de Flores, porém, era séria: ainda muito jovem a boneca era, na verdade, sua primeira filha. Frente à precoce e desafiadora tarefa de ser mãe, os caminhos precisaram ser desviados.

“Logo depois da maternidade, decidi casar. Com o casamento veio a proibição do meu esposo, à época, para que eu desse continuidade aos meus estudos. Assim, decidi desistir da minha formação”, recorda a discente. Para garantir uma vida digna aos seus filhos, Florisvalda começou a trabalhar como doméstica, numa rotina cansativa, dividida entre a sua família e seu trabalho.

Em um desses dias normais de sua rotina, a estudante arrumava a casa em que trabalhava, quando foi questionada por um casal de hóspedes da residência sobre retomar os estudos. “Respondi que não tinha mais futuro e que já estava velha pra estudar”, lembra. Ao defender a máxima do “nunca é tarde para estudar” é possível que aquele casal não tivesse dimensão do impacto que aquela provocação teria na vida da doméstica. “O incentivo deles me acordou. Fiz a prova, Deus abriu as portas e eu tenho agora a oportunidade de voltar a estudar, que me faltou na adolescência”, conta, orgulhosa.

"Hoje eu sei que nunca é tarde aprender e que na altura da minha idade será mais difícil encontrar uma vaga no mercado, mas sonho em um dia conquistar meu espaço pelos meus estudos. O que eu quero é conhecimento".                                       Florisvalda Ramalho

Agora, assim como Fabiana, Flores se divide entre trabalho, escola e família. Elas são duas das milhões de mulheres que comandam os lares brasileiros. Dados do IBGE (2010) revelam que 40% das famílias brasileiras tem as mulheres como provedoras. A luta diária não esmorece a vontade da estudante de sair do Ifal com seu diploma na mão: “A rotina não é fácil. Faço faxinas no primeiro horário e vou às pressas para a escolas. Faço tudo pra não perder as aulas. Hoje eu sei que nunca é tarde aprender e que na altura da minha idade será mais difícil encontrar uma vaga no mercado, mas sonho em um dia conquistar meu espaço pelos meus estudos. O que eu quero é conhecimento”, revela a aluna. 

As lutas de mulheres como Fabiana e Florisvalda vêm, ao longo da história, diminuindo as diferenças em relação aos homens, mas estão longe de acabar. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, em 2015 o rendimento das mulheres equivalia a 76% do dos homens, número ampliado quando se levam em consideração os cargos de gerência, em que os salários femininos equivalem a 68% do dos masculinos. A jornada de trabalho das mulheres, segundo o IBGE, também são maiores que a dos homens, considerando a dupla jornada entre emprego e afazeres domésticos. O dia 08 é de março é um marco na luta e momento importante para afirmar a igualdade entre homens e mulheres na sociedade contemporânea.