Notícias
De volta, série revela transformações promovidas pelos projetos de extensão
Na reestreia, conheça o "Minha Comunidade", programa que promove cidadania numa comunidade quilombola
Levar cidadania a uma comunidade quilombola num pequeno município do médio sertão do estado: é esse o maior objetivo do programa de extensão "Minha Comunidade", do Campus Santana. Historicamente marginalizados, os quilombos foram formados por escravos que tentavam fugir do jugo a que eram submetidos. Hoje, porém, o substantivo se refere à comunidades rurais negras, cujos componentes são descendentes de escravos.
Desde 2004, o Ministério dos Direitos Humanos aplica um selo de certificação que reconhece aquelas comunidades. Foi o que aconteceu com a do Alto do Tamanduá, no município de Poço das Trincheiras, distante 12 km de Santana do Ipanema. De lá pra cá alguma ações começaram a ser empreendidas pelo poder público, mas se depender do olhar do Ifal Santana, informação e cidadania não vão faltar para aquela população.
Histórico
Não é de agora que o raio de ação dos programas extensionistas do Campus Santana volta seu olhar para a comunidade do Alto do Tamanduá. Em 2017 o projeto “História e cidadania: diálogos com a identidade negra”, do professor Flávio Veiga, já chamava atenção para a necessidade de levar informação que fosse capaz de promover o resgate da cultura negra, enquanto protagonista da história brasileira.
As Mostras da Consciência Negra realizadas nos últimos anos reforçam esse compromisso, inclusive firmado no Plano Nacional de Educação (2011-2020), que prevê a diminuição das desigualdades entre brancos e negros. Para se ter uma ideia, um estudo do movimento Todos pela Educação revelou que os brancos detêm os melhores indicadores educacionais e são a população que mais frequenta a escola.
Uma ação renovada
Direitos Humanos e Cidadania
Cidadania, esporte e sustentabilidade: são estes os três pilares do programa "Minha Comunidade", divididos em quatro iniciativas. Com a ação "Precisamos falar sobre racismo: conscientização e combate efetivo", o projeto promete discutir esse tema de profunda relevância, que insiste em ser tão presente na nossa realidade atual. A ideia é apresentar para a comunidade o que é legalmente tipificado como racismo no ordenamento jurídico brasileiro, dotando aquela população de conhecimento capaz de prevenir e combater as variadas formas de preconceito. Nesse sentido, o Ifal assume uma posição dianteira na luta contra o crime de racismo.
Já com a medida "Direitos e cuidados – a mulher negra no centro da sociedade", o programa faz um convite às mulheres quilombolas para o engajamento na luta por uma vida melhor e por direitos equivalentes aos conquistados pelos homens. Mais que isso: a iniciativa visa garantir práticas que ajudem as mulheres na superação de problemas sociais, promovendo cidadania. Em 2017, dezenas de moradoras da comunidade já haviam sido capacitadas pelo programa Mulheres Mil, que promove grandes transformações na autoestima e dota as cidadãs para sua inserção no mercado de trabalho. As dinâmicas, rodas de conversa, vídeos curtos, filmes, palestras e leitura de livros, promovem conscientização e reforçam o compromisso com os direitos humanos.
O "Minha Comunidade" é coordenado pela professora Fabiana Menezes Machado, que conta com os bolsistas Lis Tavares, Lívia Alves, Airlianny Xavier, Palloma Darling, Kathiúcia Medeiros, Pedro Alcântara, Emanuel Medeiros e Maria Clara Marchenta.
Esporte: uma ferramenta social
Não são raros os casos de vidas resgatadas a partir do esporte. No boxe, no futebol, no vôlei ou no atletismo, uma rápida pesquisa nos leva a conhecer grandes nomes, que venceram as mazelas sociais através da prática desportiva. Mas a modalidade que será apresentada à comunidade do Alto do Tamanduá não exigirá transpiração. Em vez disso, concentração, paciência e estratégia serão as melhores ferramentas para vencer no xadrez.
A ação "Xadrez: Jogo de estratégia, concentração e sociabilidade" tem como objetivo levar às crianças e jovens da comunidade o contato lúdico com o esporte xadrez e, através deste, trabalhar algumas habilidades como o desenvolvimento do autocontrole psicofísico, criatividade, concentração, e ainda o exercício da paciência, tolerância e perseverança. Vários países mundo afora já provaram que a prática serve como ótima ferramenta para a melhoria do rendimento escolar. Mais que isso, o jogo facilita as relações interpessoais, ajudando na socialização, algo importante para aquela comunidade.
Agricultura sustentável e alimentação saudável
Quando o conhecimento se une à sabedoria popular o resultado é sempre proveitoso. É exatamente isso que a ação "Boas práticas de agricultura sustentável e alimentação saudável no Alto do Tamanduá" propõe. Disseminar práticas de agricultura sustentável, capazes de otimizar o uso dos recursos naturais e de melhor aproveitar as técnicas disponíveis na atualidade é uma das ambições do programa Minha Comunidade. Temas como reciclagem, respeito ao meio ambiente e alimentação orgânica serão inseridos com palestras, oficinas e discussões, fundadas sobre o conceito da agricultura sustentável.
A apresentação de uma alimentação saudável, livre de agrotóxicos, será outro diferencial da ação, que promete levar à cabo o conceito "da terra para a mesa". Com o uso de materiais reciclados, a ideia é criar hortas caseiras e reunir a comunidade em torno dessa proposta, levando o resultado da ação para dentro dos eventos do Campus Santana.
O legado de iniciativas como essas não se resume apenas aos benefícios sentidos pela comunidade do Alto do Tamanduá. A participação nos projetos de extensão leva os alunos a praticarem o que aprenderam na sala de aula, sendo uma ferramenta de grande poder pedagógico, acrescentando maturidade e sabedoria a eles. As ações extensionistas revelam, ainda, o compromisso social que o Ifal tem com a transformação da região. Com essa matéria, abrimos em 2018 nossa série de reportagens sobre a extensão do Campus Santana.