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“Chegou a hora da mulher negra brilhar”, destaca evento do Ifal Santana

Vozes da Liberdade foi organizado pelo Neabi do campus no dia 25 de novembro

por Roberta Rocha publicado: 29/11/2022 21h07, última modificação: 29/11/2022 21h09
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Estudante Andreza interpretou poema sobre atriz negra pioneira nos palcos e na tela

Quem compareceu, na última sexta-feira (25), ao campus do Instituto Federal de Alagoas – Ifal em Santana do Ipanema teve a oportunidade de se emocionar com a estudante Andreza de Barros declamando que “chegou a hora da mulher negra brilhar”. O verso faz parte da poesia criada pela professora Poliane Santos para falar de Ruth de Souza, uma das personalidades homenageadas pelo evento “Vozes da Liberdade: entre histórias e memórias negras”, ocorrido no local.

A iniciativa foi articulada pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – Neabi da unidade de ensino e contou com a participação de estudantes, servidores da instituição e visitantes de escolas da rede pública da região. Ao longo do dia, 11 salas temáticas estiveram abertas possibilitando a imersão na trajetória de referências negras da literatura, da música, do esporte, do ativismo etc, a exemplo da sala que tratou da atriz Ruth de Souza.

Vozes da LiberdadeCom o tema “A mulher e o protagonismo negro”, a palestra de abertura do Vozes da Liberdade reforçou a mensagem contida no verso mencionado: é tempo de trazer à tona o legado de pessoas negras invisibilizadas, especialmente mulheres. Foi o que defendeu a palestrante e estudiosa do assunto, Tâmara Silva, ao apontar “o respeito e o reconhecimento como forma de combate à invisibilização e subalternização dos nossos povos [negros]”.

Tâmara coordena o Neabi do Ifal - Campus Satuba e, em sua explanação, indagou como, apesar de tantos cultivos, hábitos e saberes trazidos pelos povos africanos terem sido incorporados à realidade brasileira, essa influência não encontra respaldo no currículo tradicional escolar.

“A gente foi cerceado da nossa história verdadeira. (...) Em todas as áreas, tem uma ciência que pode ser pautada na ancestralidade. A gente tem muitas referências de mulheres fortes, que tiveram que lutar, que se impor, mas isso não aparece nos livros, não está no currículo escolar. (...) Apagamento é isso: eu não sei da minha história. Quando a gente fala de racismo estrutural, isso também faz parte”, explicou.

A profissional apontou equipamentos utilizados na atualidade que tiveram origem em tecnologias africanas, tais como elevador, forno, absorvente higiênico, camisinha e teste de gravidez. E apresentou dezenas de mulheres negras que marcaram a história da Medicina, da Química, da Matemática, da Política e da Arte, mas não obtiveram o reconhecimento merecido, conforme ela.

Tâmara mencionou passagens das biografias de Tereza de Banguela, Maria Felipa, Sônia Guimarães, Laudelina de Campos Melo, Bárbara Karine, Antonieta de Barros, Lélia Gonzales, Sueli Carneiro, Luane Bento dos Santos, entre outras.

Na sua fala, a docente lembrou ainda a importância da implantação da Neabi no Ifal, em 19 de dezembro de 2018. Ao final, ela indicou à plateia os livros “Resistência e (Re) existências”, “Descolonizando saberes” e “Mulheres negras do Brasil, no intuito de aprofundar as reflexões trazidas pela palestra.

Autoridades em defesa da relevância do evento

Anterior à apresentação da docente, a mesa de honra do evento fez apontamentos sobre a necessidade de promover momentos educativos voltados ao protagonismo negro.  O coordenador do Neabi do Ifal Santana e do evento, Diego Alves, destacou ser um momento histórico aquela ocasião onde o Neabi utilizou, pela primeira vez, seu percentual do orçamento do campus. “Nós não gastamos, nós investimos. Investimos em uma política de combate ao racismo, investimos na valorização das culturas, das trajetórias afro-brasileiras e africanas”, afirmou, sob aplausos.

O representante dos parceiros do evento, Décio Lira, e o chefe do Departamento de Ensino do Campus Santana, Petrúcio Alexandre Rios, compartilharam suas considerações sobre a necessidade de representatividade quando se fala da população negra.

Já a diretora-geral substituta, Anna Sofia Neri, pontuou que os participantes do evento deveriam “aproveitar o dia para conhecer e se reconhecer nessa pauta tão importante. O nome [do evento] é Vozes da Liberdade, mas poderia ser vozes da luta, da força, da integridade e da beleza”, discursou a gestora.

Além do pronunciamento de autoridades e da palestra, a programação de abertura contou com demonstração de capoeira, realizada pelo estudante de Agropecuária Vinícius, o servidor Erivaldo Amâncio e convidados entre o público presente.

Salas temáticas

Outro destaque do Vozes da liberdade foi a instalação das 11 salas temáticas dedicadas a personalidades negras. A escolha de cada uma delas foi feita pelos docentes orientadores das respectivas turmas, a partir da identificação de suas áreas de atuação no Ifal com esses personagens.

Os estudantes se empenharam em decorar os espaços e proporcionar uma imersão na vida e obra das pessoas retratadas. Na sala Carolina Maria de Jesus, houve encenação ao som da leitura de trechos de “Quarto de despejo”, obra principal da escritora.

Já na sala Moacir Santos, os visitantes puderam acompanhar a trajetória de vida do músico por meio da linha do tempo construída nas paredes. Para homenagear aquele que foi o primeiro brasileiro a apresentar em um musical na Broadway e reconhecido como um dos músicos mais influentes do planeta, integrantes do grupo tocaram composições do artista ao vivo.

A sala sobre Margarida Alves, líder sindical que articulou a luta de mulheres do campo e foi assassinada por latifundiários, abordou o surgimento e a importância da Marcha das Margaridas. Na sala Zumbi dos Palmares, além de apresentar a biografia do líder quilombola, os estudantes compuseram um mosaico com fotos de personalidades negras e de seus próprios familiares com histórias de resistência.

Para quem desejava conhecer mais do universo futebolístico, a sala temática sobre Pelé contou a história do jogador, considerado o rei do futebol. Já na sala Tia Ciata, foi ambientado um espaço simulando a Praça Onze, no Rio de Janeiro, também conhecida como Pequena África, onde a sambista e mãe de santo abria sua casa para festejos e se tornou referência histórica para o samba e o candomblé.

Na sala de Maria Firmino Reis, primeira romancista brasileira, não faltou recital de trechos de sua obra, apresentada por uma das estudantes como  “um canto de luta, mas também de libertação”. Na sala da também escritora Conceição Evaristo, além da leitura de trechos de seus livros, o grupo responsável ainda fez perguntas premiadas e disponibilizou o Cantinho da Leitura para o público.

Mamie Phipps Clark foi um grande nome da psicologia social e também teve uma sala em sua homenagem. Responsável pelo teste das bonecas, que comparava a reação de crianças às bonecas negras e brancas, a atividade influenciou, com suas pesquisas, o fim das escolas exclusivas para afro-americanos. No ambiente, estudantes organizaram o Cantinho da Representatividade, onde repassaram dicas de filmes, livros e séries voltada à temática da negritude,

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