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De pretensos espectadores a atores teatrais
Estudantes do Ifal Rio Largo que nunca assistiram a um espetáculo teatral se inserem na artecênica das tragédias gregas
Alunos do primeiro ano do curso técnico em Informática em peças teatrais
Localizado na região metropolitana de Maceió, o Ifal - Campus Rio Largo tem na composição de seu alunado estudantes moradores das cidades de Rio Largo, Messias, Flexeiras e demais municípios da Zona da Mata alagoana. Boa parte dos discentes nunca foi ao teatro assistir a um espetáculo teatral e pouco ouviu falar sobre tragédia grega, antes de ingressar na instituição federal de ensino. As casas de espetáculos teatrais mais próximas estão localizadas em Maceió, a mais de 20 quilômetros do campus e ainda mais distantes de seus municípios de origem, fato que dificulta, ainda mais, o acesso à arte cênica por esses estudantes. Mas se a maioria não vai ao teatro, o teatro veio até eles. E mais: de pretensos espectadores, estudantes dos primeiros anos passaram a desempenhar as funções de atores e atrizes, assistentes de palco, sonoplastas, contrarregras e demais ocupações teatrais para demonstrarem o desempenho..
Uma iniciativa do professor de Artes, Caio Ricardo, não só trouxe o teatro ao Ifal Rio Largo como inseriu esses alunos na encenação de duas tragédias gregas (Édipo Rei, de Sófocles e Medeia,de Eurípedes), mesmo sem que eles tivessem experiência de palco. As apresentações ocorreram durante a 3ª edição da Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão (JEPE) do campus, ocorrida nos dias 12 e 13 de setembro.O desempenho dos estudantes participantes, a apresentação dos figurinos, dos cenários e a interpretação causaram surpresa a quem assistiu às duas peças.
“A ideia surgiu depois que eu abri mão do projeto Artifal por falta de espaço no campus e resolvi colocar em prática temas da sala de aula com abordagem para as tragédias e comédias gregas que, como reza a lenda, teve como inspirador o Deus Dionísio. Começamos a ensaiar as turmas do primeiro ano da manhã com o Édipo Rei e da tarde com Media”, explicou o professor Caio Ricardo.
Segundo o docente de Artes, a colaboração dos colegas professores foi fundamental para o êxito do projeto. Caio destaca a participação dos professores Miguel (História), Hugo Brandão (Filosofia) e OsvaldoEpifânio (Português) que se comprometeram a pontuar os alunos participantes. Os ensaios ocorreram na própria sala de aula para definir os personagens e também os estudantes que atuariam nos bastidores como figurantes,sonoplasta, cenário e mídia. ”Foi muito legal o empenho dos alunos para que as peças saíssem do papel”, disse o professor.
Montagem
Nas exibições das peças teatrais, o cenário e os figurinos chamam a atenção por se destacarem como bem próximos da realidade da tragédia grega.Caio Ricardo afirmou que comprou tecidos com recursos financeiros próprios, aproveitou uma sobra de outras apresentações e teve a contribuição financeira do diretor-geral do Campus Edel Alexandre.
“Para a costura recorri à minha irmã que conhece algumas costureiras e pedi uma contribuição financeira simbólica aos estudantes para pagar o trabalho de costura.Conseguimos montar todo o figurino das duas peças que foram exibidas para nossa comunidade interna e para os alunos das escolas municipais e estaduais da região, a maioria deles, assim como os nossos discentes, nunca havia assistido a uma peça teatral”, afirmou o professor.

Na avaliação de Caio Ricardo, o acesso ao conhecimento sobre a tragédia grega, através da prática, a beleza do espetáculo e a experiência, fez com que essas turmas se envolvessem na proposta cultural.
Avaliação dos "atores"
O estudante Erick Bernardo Oliveira da Silva, 16 anos, que fez o personagem Édipo declarou que teve apenas uma rápida uma experiência na Escola Gastão Oiticica, em Rio Largo.”Eu nunca fui assistir a peças de teatro, mas depois que fiz o Édipo, o personagem me impulsionou a mudar essa realidade. Infelizmente, na minha cidade não há teatro.Sobre o personagem que fiz, achei muito bom porque tive tempo para decorar e aprender todas as falas. Acho que me saí bem”, disse o aluno.

Erick Bernardo acrescentou que nunca, antes do Ifal, teve a curiosidade de pesquisar sobre a tragédia grega, embora já tivesse escutado várias histórias gregas, mas não essa do Édipo Rei.
Maria Carolina, de 15 anos, disse que teve no Ifal Rio Largo a primeira oportunidade de participar de uma peça
teatral.”Eu gosto muito de assistir a peças teatrais, mas somente tenho essa oportunidade por ocasião de viagem a Pernambuco, porque na minha cidade não tem teatro. Sobre meu papel, fiz uma das Medeias e não foi só interpretar, mas senti também como se eu transmitisse aquela mulher empoderada, imponente e, por isso, entrei de cabeça e tentei trazer tudo aquilo que ela carregava, vamos dizer assim”, opinou Carolina.
A estudante conta que ficou admirada, antes mesmo de participar da peça, pela expressão artística que o teatro passa e como os atores fazem para expressar de uma maneira que não se pareça uma história e sim uma realidade. A aluna afirmou que somente soube o que é a tragédia grega a partir das aulas dadas pelo professor Caio Ricardo. “Desde os primeiros ensaios que eu sentia que o teatro para mim passou a ser uma chama ardente, mas que não arde, nos envolve. E depois que me apresentei, foi algo melhor e se houver outras oportunidades, eu gostaria de participar por me inspirar nas técnicas de interpretação e ter me ajudado a comunicar melhor”, ressaltou Maria Carolina.
O estudante Matheus Tenório, que fez o papel de Jasão, também nunca teve experiência em peça teatral, antes dessa peça, mas agora pretende continuar. “Atuando como o Jasão, eu diria que eu consegui me sobressair. Não tinha experiência alguma com o teatro antes disso. Não tinha a mínima ideia de que seria tragédia grega”, acrescentou.
Os estudantes fizeram questão de destacar o incentivo do professor Caio Ricardo para a importância da temática, a partir das tragédias gregas e também de converter a visão deles sobre teatro.Para Erick Bernardo, Caio foi um professor incrível que o ajudou muito a decorar os textos. “Se ele não tivesse falado que eu seria um ótimo Édipo,não seria o Édipo e eu nem teria participado da cena. A peça me animou a tentar ser ator”.
Na opinião de Maria Carolina, “o Caio é um dos melhores professores que eu já tive.Ele é incrível mesmo, pois é muito dedicado e gosta do que faz.Ele transmite isso e tem cada ideia mirabolante, além de ser inspirador”. Matheus disse não ter palavras para definir o professor Caio Ricardo depois da oportunidade dada por ele, por meio da peça teatral que lhe deu ânimo para continuar atuando.



ENTENDA MELHOR
Édipo Rei é uma encenação teatral que faz referência a um rei que, sem saber, mata o próprio pai e se casa com a própria mãe, e a descoberta trágica dessa situação, que o leva à automutilação e à punição pelo destino inevitável, explorando temas como a busca pelo conhecimento, a ironia do destino e o conflito entre a vontade humana e as profecias divinas.
Medeia - conta sobre o abandono, a traição e o desejo de vingança de uma mulher que foi deixada pelo marido, Jasão, para se casar com outra mulher, a princesa Gláuce. A história é sobre a dor de Medeia, que abandonou sua pátria e família por amor a Jasão, e sua consequente vingança.
A tragédia grega é um gênero teatral antigo da Grécia, originado nas festas religiosas em honra a Dionísio, que encena histórias de deuses, reis e heróis com finais tristes, mas que provocam na plateia sentimentos de medo e compaixão, culminando na catarse (purificação emocional