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De pretensos espectadores a atores teatrais

Estudantes do Ifal Rio Largo que nunca assistiram a um espetáculo teatral se inserem na artecênica das tragédias gregas

por Gerônimo Vicente Santos publicado: 02/10/2025 11h09, última modificação: 02/10/2025 13h15
Exibir carrossel de imagens Alunos do primeiro ano do curso técnico em Informática em peças teatrais

Alunos do primeiro ano do curso técnico em Informática em peças teatrais

Localizado na região metropolitana de Maceió, o Ifal - Campus Rio Largo tem na composição de seu alunado estudantes moradores das cidades de Rio Largo, Messias, Flexeiras e demais municípios da Zona da Mata alagoana. Boa parte dos discentes nunca foi ao teatro assistir a um espetáculo teatral e pouco ouviu falar sobre tragédia grega, antes de ingressar na instituição federal de ensino. As casas de espetáculos teatrais mais próximas estão localizadas em Maceió, a mais de 20 quilômetros do campus e ainda mais distantes de seus municípios de origem, fato que dificulta, ainda mais,  o acesso à arte cênica por esses estudantes. Mas se a maioria não vai ao teatro, o teatro veio até eles. E mais: de pretensos espectadores, estudantes dos primeiros anos passaram a desempenhar as funções de atores e atrizes, assistentes de palco, sonoplastas, contrarregras e demais ocupações teatrais para demonstrarem o desempenho..

Uma iniciativa do professor de Artes, Caio Ricardo, não só trouxe o teatro ao Ifal Rio Largo como inseriu esses alunos na encenação de duas tragédias gregas (Édipo Rei, de Sófocles e Medeia,de Eurípedes), mesmo sem que  eles tivessem experiência de palco. As apresentações ocorreram durante a 3ª edição da Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão (JEPE) do campus, ocorrida nos dias 12 e 13 de setembro.O desempenho dos estudantes participantes, a apresentação dos figurinos, dos cenários e  a interpretação causaram surpresa a quem assistiu às duas peças.

“A ideia surgiu depois que eu abri mão do projeto Artifal por falta de espaço no campus  e resolvi colocar em prática temas da sala de aula com abordagem para as tragédias e comédias gregas que, como reza a lenda, teve como inspirador o Deus Dionísio. Começamos a ensaiar as turmas do primeiro ano da manhã com o Édipo Rei e da tarde com Media”, explicou o professor Caio Ricardo. 

Segundo o docente de Artes, a colaboração dos colegas professores foi fundamental para  o êxito do projeto. Caio destaca a participação dos professores Miguel (História), Hugo Brandão (Filosofia) e  OsvaldoEpifânio (Português) que se comprometeram a pontuar os alunos participantes. Os ensaios ocorreram na própria sala de aula para definir os personagens  e também os estudantes que atuariam nos bastidores como figurantes,sonoplasta, cenário e mídia.  ”Foi muito legal o empenho dos alunos para que  as peças saíssem do papel”, disse  o professor.

Montagem

Nas exibições das peças teatrais, o cenário e os figurinos chamam a atenção por se destacarem como bem próximos da realidade da tragédia grega.Caio Ricardo afirmou que comprou tecidos com recursos financeiros próprios, aproveitou uma sobra de outras apresentações e teve a contribuição financeira do diretor-geral do Campus Edel Alexandre.

“Para a costura recorri à minha irmã que conhece algumas costureiras e pedi uma contribuição financeira simbólica aos estudantes para pagar o trabalho de costura.Conseguimos montar todo o figurino das duas peças que foram exibidas para nossa comunidade interna e para os alunos das escolas municipais e estaduais da região, a maioria deles,  assim como  os nossos discentes, nunca havia assistido a uma peça teatral”, afirmou o professor.

Alunos de escolas municipais e estaduais assistem à performance  dos  estudantes do Ifal Rio Largo nas peças sobre tragédias gregas

Na avaliação de Caio Ricardo, o acesso ao conhecimento sobre a tragédia grega, através da prática, a beleza do espetáculo e a experiência, fez com que essas turmas se envolvessem na proposta cultural.

Avaliação dos "atores"

O estudante Erick Bernardo Oliveira da Silva, 16 anos, que fez o personagem Édipo declarou que teve apenas uma rápida uma experiência na Escola Gastão Oiticica, em Rio Largo.”Eu nunca fui assistir  a peças de teatro, mas depois que fiz o Édipo, o personagem me impulsionou a mudar essa realidade. Infelizmente, na minha cidade não há teatro.Sobre o personagem que fiz, achei muito bom porque tive tempo para decorar e aprender todas as falas. Acho que me saí bem”, disse o aluno.

Estudante Éric Bernardo no papel de Édipo

Erick Bernardo acrescentou que nunca, antes do Ifal, teve a curiosidade de pesquisar sobre a tragédia grega, embora já tivesse escutado várias histórias gregas, mas não essa do Édipo Rei.

Maria Carolina, de 15 anos, disse que  teve no Ifal Rio Largo a primeira oportunidade de participar de uma peçaAna Carolina, como Medeia teatral.”Eu gosto muito de assistir a peças teatrais, mas  somente  tenho essa oportunidade por ocasião de viagem a Pernambuco, porque na minha cidade não tem teatro. Sobre meu papel, fiz uma das Medeias e não foi só interpretar, mas senti também como se eu transmitisse aquela mulher empoderada, imponente e, por isso, entrei de cabeça e tentei trazer tudo aquilo que ela carregava, vamos dizer assim”, opinou Carolina. 

A estudante conta que ficou admirada, antes mesmo de participar da peça, pela expressão artística que o teatro passa e como os atores fazem para expressar de uma maneira que não se pareça uma história e sim uma realidade. A aluna afirmou que somente soube o que é  a tragédia grega a partir das aulas dadas pelo professor Caio Ricardo. “Desde os primeiros ensaios que eu sentia que o teatro para mim passou a ser uma chama ardente, mas que não arde, nos envolve. E depois que me apresentei, foi algo melhor e se houver outras oportunidades, eu gostaria de participar por me inspirar nas técnicas de interpretação e ter me  ajudado a comunicar melhor”, ressaltou Maria Carolina.

O estudante Matheus Tenório, que fez o papel de Jasão, também nunca teve experiência em peça teatral, antes  dessa peça, mas agora pretende continuar. “Atuando como o Jasão, eu diria que eu consegui me sobressair. Não tinha experiência alguma com o teatro antes disso. Não tinha a mínima ideia de que seria tragédia grega”, acrescentou.

 

 

Os estudantes fizeram questão de destacar o incentivo do professor Caio Ricardo para a importância da temática, a partir das tragédias gregas e também de converter a visão deles sobre teatro.Para Erick Bernardo, Caio foi um professor incrível que o ajudou muito a decorar os textos. “Se ele não tivesse falado que eu seria um ótimo Édipo,não seria o Édipo e eu nem teria participado da cena. A peça me animou a tentar ser ator”.

Na opinião de Maria Carolina, “o Caio é um dos melhores professores que eu já tive.Ele é incrível mesmo, pois é muito dedicado e gosta do que faz.Ele transmite isso e tem cada ideia mirabolante, além de ser inspirador”. Matheus disse não ter palavras para  definir o professor Caio Ricardo depois da oportunidade dada por ele, por meio da peça teatral que lhe deu ânimo para continuar atuando.

ENTENDA MELHOR

Édipo Rei é uma encenação teatral que faz referência a um rei que, sem saber, mata o próprio pai e se casa com a própria mãe, e a descoberta trágica dessa situação, que o leva à automutilação e à punição pelo destino inevitável, explorando temas como a busca pelo conhecimento, a ironia do destino e o conflito entre a vontade humana e as profecias divinas. 

Medeia - conta sobre o abandono, a traição e o desejo de vingança de uma mulher que foi deixada pelo marido, Jasão, para se casar com outra mulher, a princesa Gláuce. A história é sobre a dor de Medeia, que abandonou sua pátria e família por amor a Jasão, e sua consequente vingança.  

A tragédia grega é um gênero teatral antigo da Grécia, originado nas festas religiosas em honra a Dionísio, que encena histórias de deuses, reis e heróis com finais tristes, mas que provocam na plateia sentimentos de medo e compaixão, culminando na catarse (purificação emocional