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Projeto do Ifal Piranhas promove resgate cultural do pastoril e socialização de idosas

publicado: 19/09/2019 20h21, última modificação: 19/09/2019 21h24

A socialização de idosas assistidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Piranhas não é mais a mesma desde que o projeto de extensão Pastoril do Velho Chico, comandado pelo professora de Sociologia do Ifal Piranhas Enedina Souto, iniciou as atividades, há 4 meses. Na última quinta-feira, 12, o grupo se reuniu no campus para mais um ensaio e as participantes falaram da experiência de integrar um núcleo de folguedo popular.

A viúva Maria Lanaete Fontes, de 64 anos, está participando do pastoril pela primeira vez e ressaltou como a atividade serviu de instrumento de reinserção social. "Fiquei muito tempo triste, isolada. Aí comecei na dança, no pastoril. A gente se diverte. Isso é saúde para a gente que está em uma idade dessas", relata. Para a experiente Maria José Monteiro, 61 anos, a vivência trouxe memórias da juventude. Ela participou de um grupo de pastoril, aos 12 anos, em Olho D'água do Casado. "Lembro de algumas músicas. Gostei de voltar, relembrei muita coisa. E a alegria da idade é diferente da alegria da adolescência", aponta.

A iniciativa de resgate do pastoril surgiu nas discussões de um projeto de extensão anterior, o Cinema na melhor idade, também coordenado por Enedina Souto. "A gente assistia filmes que abordassem o cotidiano do envelhecimento, das relações familiares, aposentadoria, conflito de gerações e, a partir daí, estimulava o debate", comenta a docente. O interesse das participantes em atividades que envolvessem música e dança chamou a atenção e a profissional decidiu articular com a necessidade, em sua visão, de retomar o pastoril como memória cultural do folguedo alagoano.

A importância do projeto, de acordo com a idealizadora, consiste ainda em estimular a participação dos idosos para uma vida mais ativa e a interação com pessoas mais jovens. Isso porque alunos da instituição integram o grupo, são eles: Victor Gabriel Campos e Maria Jeordânia Gois. 

Projeto de extensão

Orgulhosa por atuar em uma iniciativa voltada a incentivar a "terceira idade" a encarar a velhice com mais prazer, a estudante Maria Jeordânia destaca a contribuição da atividade para a qualidade de vida das participantes. "É um papel fundamental também no resgate da autoestima dessas mulheres, que muitas vezes são deixadas de lados ou tidas como inválidas pelo fato de serem idosas. Em sala de aula, na própria disciplina da professora Enedina, vemos essa necessidade em zelar e incluir sempre pessoas, digamos, marginalizadas socialmente. E isso reflete muito nas nossas ações dentro do projeto", analisa.

"Quando mexe o corpinho, chega em casa aliviada. A coisa melhor do mundo é a dança. Naquela hora que a gente está dançando a gente tem aquela alegria, o resto das coisas a gente esquece" - Maria Lima

Os efeitos da sensibilização sobre o processo de envelhecimento trazidos pelo projeto podem ser vistos na prática na vida das idosas Maria Lima Rodrigues, 64 anos, e Maria Esmerita da Silva, de 75 anos, a mais velha do grupo. "Há muito tempo participo do forró, agora é pastoril. Fico em casa pensando: tomara que chegue o dia de ir para o pastoril. Moro sozinha. Em casa a gente fica parada, aparecerem logo as dores. Quando mexe o corpinho, chega em casa aliviada. A coisa melhor do mundo é a dança. Naquela hora que a gente está dançando a gente tem aquela alegria, o resto das coisas a gente esquece", afirma Maria Lima. 

Maria Esmerita da Silva também comemora a fase inaugurada pelo Pastoril do Velho Chico em sua vida, comparando ao passado onde não havia tempo para se divertir. Separada, com nove filhos e alguns bisnetos, é primeira vez que ela cai na dança. "Quero continuar me movimentando. De oito em oito dias, vou para o forró. O que der para eu conseguir ir, eu vou. Antigamente conseguia só ir para a roça, cuidar dos moleques e pronto. Agora é aproveitar a vida!", declara. 

Mais sobre o projeto

O projeto de extensão Pastoril do Velho Chico iniciou em abril deste ano, com um período de planejamento. Bolsistas e voluntários envolvidos realizaram estudos sobre o que é o pastoril, sua história e importância, características e os elementos que o compõem, desde personagens, músicas, danças a paramentos. Os estudantes prepararam os ensaios, aprendendo as canções e coreografias típicas do folguedo.

A seleção das idosas interessadas em compor o pastoril ocorreu no Cras de Piranhas. Os ensaios começaram e seguem semanalmente. Estão previstas apresentações públicas do grupo nos meses de outubro e novembro, vinculadas às programações natalinas da cidade.