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Mãe solo defende TCC no Ifal Piranhas e dá dicas para estudantes com trajetória similar à sua

Relato de superação da concluinte emocionou público que compareceu à banca de defesa

por Roberta Rocha publicado: 15/12/2022 19h07, última modificação: 15/12/2022 19h30

"Grávida, aos 19 anos, no início da graduação. E agora?". A incerteza que afligiu Daniele Alves de Sá, quando ela cursava o 2º período de Engenharia Agronômica do Instituto Federal de Alagoas - Ifal Campus Piranhas, agora é página virada.

Na última terça-feira (13), a estudante apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC e, mesmo com as demandas assumidas como mãe solo de Otto (seu filho de 4 anos de idade), está apta a escrever novos capítulos da sua vida acadêmica: vai colar grau em breve, foi aprovada em um mestrado na área de formação, tem convite de trabalho para analisar. 

Defesa de TCCPartes dessa trajetória de superação foram contadas no Laboratório IF Maker do Campus Piranhas, local onde ocorreu a defesa do TCC "Zoneamento de qualidade das águas subterrâneas do município de Piranhas/AL" e que reuniu parentes e amigos da formanda, além do seu orientador Samuel Silva e dos docentes integrantes da banca avaliadora, Élcio Gonçalves e José Madson Silva.

Após a divulgação da nota 9,0 para o TCC de Daniele, o professor Samuel Silva lembrou do histórico participativo da estudante ao longo do curso, com atuação em projetos de iniciação científica, de extensão, no Programa IF Mais Empreendedor Nacional, no Laboratório IF Maker, entre outros. "Ela é modelo de aluna, de mulher, de pessoa. Um exemplo para diversas meninas em situação semelhante, para não desistirem do curso, para perseverarem, irem em buscas dos seus sonhos", comentou. 

Mãe de Daniele se emociona ao falar da trajetória da estudanteA mãe de Daniele, Maria Lúcia de Sá, também dirigiu palavras emocionadas à filha, na ocasião, relembrando o seu perfil dedicado desde a infância. "Sempre deu orgulho, sempre foi esforçada".

Conforme o relato da estudante na ocasião, ela precisou contar com o apoio da família e com a ajuda de colegas de turma e  professores para dar conta das aulas e atividades do curso, enquanto se dividia nos cuidados com o bebê e com a casa onde morava sozinha. 

ENTRE A MATERNIDADE E A BUSCA PELO DIPLOMA

"Foi um choque quando eu soube, fiquei um pouco perdida, pensando em tudo, como seria. Tive ele  no final do 3º período", relatou Daniele.  

Moradora de Paulo Afonso/BA na adolescência, Daniele deixou a cidade baiana para viver em Piranhas/AL, com o sonho de se formar engenheira agrônoma. "Era o curso que unia duas coisas que eu gostava bastante durante o colégio: as exatas e a ciência biológica", apontou. Poucos meses após iniciar a graduação, veio a gravidez inesperada.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Pnad Contínua Educação 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 24% das mulheres entre 14 e 29 anos que abandonaram os estudos, apontaram a gravidez como motivo.

Para não ingressar na estatística, Daniele precisou vencer muitos desafios, que começaram às vésperas do nascimento do bebê.

Confira o depoimento da estudante, na íntegra:

"Alguns professores me ajudaram, adiantando minhas provas. Um acontecimento que marcou foi quando ele já estava próximo de nascer e faltava uma prova para mim, e o professor, para ajudar, ficou de me mandar um questionário pelo e-mail no lugar da prova. E aí, antes mesmo dele mandar, tive que mandar outra mensagem para ele, avisando que já estava no hospital à espera do Otto. Recebi um atestado de dois meses de repouso, pois foi uma cesárea, mas com um mês eu voltei para campus, com medo de atrasar ainda mais o curso. 

Nos primeiros meses, tive que levar ele para às aulas, eu amamentava de forma exclusiva. Depois de um tempo, ele começou a ficar com a avó paterna no período que eu estava no ifal, mas eu precisava sair para amamentar. Quando começou o período de introdução alimentar, facilitou um pouco as coisas. Mas muitas vezes foi preciso adaptação, para que a família paterna conseguisse ficar com ele no período de aula.

Precisei de apoio psicológico, da família e de amigos, para que a caminhada você um pouco mais leve e que me ajudasse a não desistir. Era bem difícil dar conta de um bebê, faculdade e casa, então, muitas vezes algo precisava ficar de lado, pois, eu prezava pelo meu bem estar também, se eu não estivesse bem, nada iria bem. 

Pensei em desistir algumas vezes, ou trocar de curso, para um que tivesse em Paulo Afonso. Ficar próximo da família facilitaria mais um pouco as coisas, mas não era o que eu queria. Então, eu precisei aprender a respeitar meu processo, aceitei que atrasaria um pouco. E que aproveitaria esse tempo a mais para participar de projetos, pois eu queria ter a experiência. Eu tive que aproveitar cada momento, aulas vagas, feriados, finais de semana, quando ele estava com os avós. Quando ele estava acordado, eu conseguia dar uma arrumada na casa. E quando ele dormia, eu estudava ou descansava".

Para alunas da instituição que se identifiquem com sua trajetória de mãe - estudante, Daniele preparou dicas para atravessar as dificuldades e conseguir concluir a formação desejada.

"Dicas :

- Respeitar o seu processo, cada um tem seu tempo, não precisa se apressar, porque as coisas vão acontecer quando tiverem que acontecer;
- Não abrir mão dos momentos de distração e descanso;
- Aproveitar os momentos com o seu bebê, serão satisfatórios, e te fará ainda mais forte, agora você tem um motivo a mais para continuar a faculdade;
- Se puder, repousar bem no pós parto, isso evitará complicações;
- Se cuidar, e não ter vergonha de pedir ajuda".