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Exuberante ou seco? Qual visão do Semiárido permeia o imaginário popular?

Ifal Piranhas leva ao III Conac um sertão cheio de riquezas naturais e turísticas e muitas ideias para explorar suas capacidades em projetos de pesquisa e extensão

publicado: 28/09/2018 15h18, última modificação: 02/10/2018 14h33

 

O Ifal Piranhas participou da terceira edição do Congresso Acadêmico do Instituto Federal de Alagoas (III Conac), que reúne todos os trabalhos de ensino, pesquisa e extensão dos 16 campi da instituição. O evento, que aconteceu no campus Maceió, entre os dias 25 e 27 de setembro, contou com 33 projetos do campus Piranhas (14 de extensão, 16 de pesquisa e 3 de ensino). O Ifal Piranhas levou para Maceió, em seus mais de trinta projetos, a verdadeira imagem do sertão, que poucos conhecem, com as riquezas da Caatinga e as potencialidades do Semiárido, potencialidades estas que os estudantes da escola têm aprendido a explorar e valorizar.

Preservação ambiental

Muitos projetos tiveram em comum a abordagem das temáticas da preservação e da educação ambiental. Isso se deve a dois fatores: os cursos do Ifal Piranhas dialogam com a questão do meio ambiente (cursos técnicos em Agroecologia, Agroindústria, Alimentos e o superior em Engenharia Agronômica) e o outro fator é a exuberância da paisagem onde o campus está inserido. Banhada pelo rio São Francisco e cheia de atrativos turísticos e históricos, Piranhas enfrenta a contradição de ser rica em potenciais e pobre em desenvolvimento e é pensando em contribuir para mudar essa realidade que os pesquisadores docentes e discentes do Ifal Piranhas vêm propondo seus projetos.

Segundo o professor de Biologia, Cristian J. S. Costa, essa contradição não é uma característica apenas de Piranhas, mas das cidades do Semiárido de uma forma geral. E, para ele, os pesquisadores do Instituto Federal têm a responsabilidade de explorar os potenciais da região, que já têm uma tendência natural ao crescimento, buscando aumentar o poder de renda da população, valorizando as riquezas, sem prejudicar os recursos naturais. “Nossos projetos buscam, então, abranger três áreas específicas: a econômica, a social e ambiental; alcançando essas áreas é possível não apenas crescer, mas desenvolver”, explica Cristian. Foi isso que o público do Conac pôde observar nos vários projetos do campus Piranhas.

Manejo de cactáceas como forma de empreender

O projeto sobre o manejo de cactáceas para geração de emprego e renda, apresentado pela discente Maria Gabriela de Araújo, é um deles. A aluna explica que o Brasil é o terceiro país em diversidade de cactáceas no mundo e que elas apresentam uma grande beleza cênica, que pode ser explorada economicamente. Pensando nisso, o professor Cristian e seus orientandos resolveram dar as ferramentas para que mulheres do assentamento Olga Benário pudessem extrairMaria Gabriela fala geração de renda e empoderamento feminino através da exploração comercial das cactáceas da natureza as cactáceas tão presentes na paisagem do sertão, sem causar impacto ao meio ambiente, replicá-las e comercializá-las em pousadas e restaurantes da região. As oficinas para capacitação dessas mulheres ainda estão em curso e, até o momento, elas já aprenderam como produzir seu próprio adubo, através da compostagem, e as técnicas de replicação das cactáceas. “Além de empoderar essas mulheres e gerar condições mínimas de emprego e renda, o projeto pretende despertar a necessidade da conservação do meio ambiente e preservação das plantas nativas, através do manejo correto das cactáceas”, explica Maria Gabriela.

Exploração da Jandaíra para preservação da espécie e rentabilidade

O que o professor Cristian viu nas cactáceas, o docente Randerson Cavalcante viu nas Jandaíras, abelhas sem ferrão nativas da Caatinga. O bolsista do projeto Adriano Marques explica que o objetivo do trabalho é gerar em agricultores de cidades vizinhas à Piranhas a conscientização sobre a importância ambiental e socioeconômica dos enxames de abelhas sem ferrão. A criação das abelhas sem ferrão apresenta-se como alternativa de preservação ambiental e melhoria da qualidade de vida de pequenos agricultores familiares. No entanto, em consequência do desmatamento, das queimadas e do uso de agrotóxicos, as abelhas sem ferrão brasileiras estão sofrendo um processo muito agressivo de redução da sua população em ambiente natural, sendo necessário a realização de ações que possam contribuir para preservação desse importante grupo de insetos úteis. O projeto de extensão ainda está no início e pretende capacitar dez futuros produtores de mel. “Cada um vai receber um enxame e serão instruídos sobre o manejo, importância e produção de mel das abelhas Jandaíra, a ideia é que, através do conhecimento e manejo, os agricultores ajudem a preservar a espécie”, afirma Randerson.

Processamento de frutas para comercialização

Na área de agroindústria, o Ifal Piranhas também levou ideias empreendedoras para explorar o potencial alimentício do semiárido, como, por exemplo, o projeto "Desenvolvimento de derivados de frutas e orientação produtiva no sertão alagoano". O projeto, apresentado por Kalênia Laura da Silva e orientado pela professora Poliane Lima, tem como objetivo levar o conhecimento aprendido pelos alunos de Agroindústria do Ifal, sobre processamento de frutas, para moradores do assentamento rural Gastone Beltrão. A capacitação pretende gerar uma nova fonte de renda para a Kalênia Laura apresentou no Conac seu trabalho sobre a capacitação de assentados para a produção de derivados de frutas da regiãopopulação do assentamento, a partir da produção de derivados do tamarindo, caju e acerola, frutas que têm sua venda restrita ao estado natural, apesar de possuir grande potencial para a produção de derivados. Kalênia explica que já foi realizada uma oficina para produção de geleia de acerola e que ainda acontecerão oficinas de chutney com tamarindo e carne seca com caju, produtos gastronômicos que devem atrair o olhar do comércio.

 

Um outro olhar para a Caatinga

Para a estudante de Agronomia, Raquel Soares da Silva, a visão que as pessoas têm da Caatinga é muito superficial e a própria educação básica contribui para isso, abordando o bioma de forma rasa no currículo escolar. Por acreditar que essa imagem de um bioma seco, cinza e pobre deve ser desconstruída do imaginário popular e que a verdadeira Caatinga deve ser estudada e aprofundada na escola é que Raquel participou do projeto “Convivendo com o Bioma Caatinga”. O projeto levou estudantes do ensino médio da escola Coopex, em Piranhas, para conhecer mais sobre a flora e fauna locais e sobre a história do cangaço, através de trilhas. A Caatinga também foi estudada por eles na sala de aula, em várias matérias de forma interdisciplinar. “Vimos, ao final do projeto, que os estudantes não tinham mais aquela visão superficial e que aprenderam a admirar a beleza do cinza. Não é porque a Caatinga fica seca a maior parte do tempo que ela é pobre”, afirma Raquel. Assim como o público do projeto “Convivendo com o bioma Caatinga’ mudou sua visão sobre o Semiárido, o campus mais distante e isolado do Ifal deve ter mudado a imagem do Sertão para o público do Conac, pois o campus levou para Maceió um Sertão farto de potenciais e algumas ferramentas e ideias para explorá-los. Para o coordenador de extensão do Campus, o professor José Madson da Silva, valeu a pena todo esforço empreendido em levar o Ifal Piranhas para o Conac. Para ele, por mais difícil e cansativo que seja o deslocamento de alunos e professores de Piranhas à Maceió, é muito importante que ele aconteça, para mostrar a toda a comunidade o que o Ifal Piranhas tem feito e para provocar nas pessoas a seguinte reflexão: se o sertão é tão rico, por que é tão pobre?