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Dez anos de transformações: saiba como o Ifal Piranhas marcou a trajetória de alunos, servidores e da cidade
Campus comemora uma década de atuação neste ano
Em 3 de setembro de 2010, o Instituto Federal de Alagoas - Ifal iniciava oficialmente suas atividades na cidade de Piranhas, no alto Sertão alagoano, com a realização da aula inaugural para as primeiras turmas dos cursos de Agroecologia e Agroindústria. Neste ano, a unidade de ensino completa uma década de atuação e celebra uma história que reúne casos de sucesso de egressos, projetos e premiações de repercussão nacional, avanços na oferta da educação profissional e na estrutura física do campus, além da influência positiva no desenvolvimento da região.
"Transformações de vida", é como o diretor-geral Iatanilton Damasceno resume toda essa trajetória. Desde a servidora mais antiga até uma recém-chegada, há concordância acerca do impacto transformador do Ifal Piranhas. A pedagoga Renata Rocha, primeira técnica a entrar em exercício na unidade, relata como a evolução ocorrida no campus nos últimos dez anos esteve alinhada ao crescimento pessoal e profissionais de servidores, alunos, das famílias envolvidas e do próprio município.
"Quando cheguei, foi um choque me deparar com a cidade com tão pouca estrutura e o Ifal funcionando provisoriamente na Escola Estadual de Xingó - Unex 1. Guardo muito do acolhimento, que passou a ser uma característica do campus, essa coisa do cuidado com quem chega", conta. A partir daí, a profissional diz ter acompanhado uma revolução em Piranhas. "A cidade vai crescendo nessa década, junto com o instituto, a olhos vistos. Em opção para sair, de possibilidades para comer, lugares de moradia. Porque o instituto vai trazendo mais gente, vai criando demanda".
Para a pedagoga, a evolução aconteceu também na sua carreira e na vida privada. Existe, em suas palavras, um antes e um depois da sua entrada na instituição. "O Ifal trouxe caminhos muitos novos para a minha vida. E trouxe meu filho Théo, que veio como um presente, porque conheci o pai dele aqui no instituto", comenta a pioneira.
No percurso até os dias atuais, ela aponta que a insegurança profissional foi substituída pelo entendimento dos reflexos diretos da sua atuação na vida dos alunos. "É muito gratificante ver eles aproveitarem o máximo desse novo mundo, o que o instituto vem possibilitar para eles, o quanto essa escola abre de possibilidade deles sonharem mais alto. Os caminhos nem sempre foram fáceis, a cidade é um calor terrível, mas é maravilhoso estar aqui e ver essa alternativa de um caminho diferente. São dez anos vendo esses meninos tornando-se adultos, crescendo... e sentindo a retribuição do nosso trabalho nesse campus".
Nova fase - Depois de dois anos de atividades no prédio da Unex 1, o Ifal Piranhas inaugurou sua sede própria, na área onde funcionava o antigo Clube Atalaia. Em 20 de dezembro de 2012, a nova estrutura de 14 blocos, auditório, biblioteca, seis laboratórios, quadra esportiva, piscina semi-olímpica e salas administrativas foi entregue à comunidade.
Em agosto de 2016, o campus deu um passo rumo à verticalização do ensino, iniciando as aulas do primeiro curso superior da unidade, o bacharelado em Engenharia Agronômica. Três anos depois, a instituição recebeu a primeira turma da licenciatura em Física. "Além de ser o primeiro campus da primeira fase expansão do Ifal a verticalizar o ensino, com a graduação que obteve conceito 5 na avaliação de reconhecimento de curso do MEC, fomos os pioneiros na oferta da Educação de Jovens e Adultos do instituto aqui no sertão, por meio do curso técnico em Alimentos, criado também no segundo semestre de 2016", orgulha-se o diretor-geral Iatanilton Damasceno.
Com o crescimento do campus, a equipe de trabalhadores também aumentou ao longo dos anos. Atualmente, são 126 profissionais vinculados à unidade, entre efetivos, substitutos e terceirizados. Tantos feitos consolidados na área de ensino, de estrutura e de pessoal ajudaram os servidores a se apaixonarem ainda mais pelo trabalho na instituição. Assim aconteceu com a professora de Língua Portuguesa Ana Luiza Fireman, uma das mais recentes a ingressar no quadro funcional, no segundo semestre de 2019. "Fiquei impressionada com a estrutura do campus, uma localização privilegiada com vista do rio São Francisco, salas de aula climatizadas, muito arborizado. E o jeito dos alunos de receber o professor, de se portar com tanto respeito e carinho, valorizando a sala de aula, a oportunidade de aprender. Alunos interessados, que gostam de se envolver com os projetos, isso é um diferencial muito grande. Eu atuo na docência há 19 anos, na rede privada, mas não se compara à experiência de ser professor efetivo no ifal", pontua.
A educadora revela estar encantada com a possibilidade de unir ensino, pesquisa, extensão e poder se dedicar não só à sala de aula, mas a projetos transformadores para a região. "Eu convivo com um corpo docente bastante comprometido. Na sala dos professores, estão sempre falando como podem melhorar as aulas, trocando ideias sobre projetos, como contribuir para o desenvolvimento da comunidade. Eu posso dizer que estou realizada como professora. E agora então com o Neabi [ Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas], é que eu vislumbro a oportunidade de desenvolver projetos incríveis voltados para uma educação plural. Sinto orgulho de fazer parte do Campus Piranhas".
E quem deixa a lotação no Ifal Piranhas, sente falta desse engajamento do campus? No caso do professor de Filosofia André Bonfim, sim. O profissional veio do Ceará para assumir o cargo e permaneceu no campus entre fevereiro e setembro de 2017, quando construiu um legado artístico vinculado ao programa de extensão institucional ArtIfal.
André criou o Coral Cênico do Ifal Piranhas, o Corifal, e se apresentou com o grupo em cidades e eventos históricos pelo estado, a exemplo do Festival Literário de Marechal Deodoro. "O Campus Piranhas foi a minha 'casa' durante cerca de sete meses. Apesar do breve período, nele posso afirmar que encontrei amigos e colegas de trabalho sempre dispostos a fazer atividades com diferencial. Tive a felicidade de desenvolver um trabalho como regente do Corifal. Sou muito feliz e grato em participar e colaborar com a história do campus Piranhas em sua primeira década", afirma.
Mudança de vida para os estudantes
São muitas as histórias de vidas transformadas a partir da educação ofertada no Campus Piranhas. Os relatos envolvem estudantes que se destacaram em olimpíadas do conhecimento, conquistaram premiações, agregaram conhecimento por meio da participação em eventos, projetos de pesquisa e extensão. Como também dizem respeito a quem já passou pela instituição e se beneficiou dos aprendizados adquiridos para se estabelecer no mercado de trabalho ou seguir carreira acadêmica, caso dos egressos Mylla Rafaelly, Damazio Alencar e Adriano Marques.
Mylla Rafaelly ingressou no campus em 2011, formou-se no curso técnico em Agroindústria e seguiu para o Campus Satuba, onde cursou a graduação tecnológica em Laticínios. Agora, em Maceió, é gerente de produção da Illa Sorvetes, empresa premiada no ramo. "A implantação do Instituto Federal em Piranhas foi uma oportunidade para o crescimento da comunidade, oferecendo uma qualificação profissional. Estudar nessa instituição foi fundamental para meu desenvolvimento, adquiri novas experiências e tive contato com profissionais qualificados que me fizeram abrir os olhos para um novo mundo", destaca.
Para Damazio Alencar, ex-aluno do curso de Agroecologia, a trajetória pós-formação envolveu uma coincidência. Ele acabou retornando ao campus como servidor, depois de ser aprovado no concurso para técnico do Laboratório de Agroecologia do Ifal Piranhas. “Entrei no Ifal em 2012, tinha 15 anos. Eu queria ter um curso técnico, mas foi também pela estrutura que o Instituto oferecia. Vi como uma grande oportunidade, porque venho da zona rural: eu trabalhava com minha mãe na roça, então era uma forma de ajudar minha família com o conhecimento técnico”.
Agora como integrante do quadro funcional, a instituição continua marcando sua carreira, por lhe possibilitar, além da atuação no laboratório, desenvolver atividades de extensão e compartilhar saberes com aqueles que ocupam as cadeiras que ele já ocupou e com toda a comunidade. "Para mim, é uma realização", define.
Quando se fala nas mudanças de vida que o ingresso no Ifal Piranhas pode ocasionar, outro estudante exemplo disso é Adriano Marques, que ingressou em 2010 e fez parte da primeira turma do técnico em Agroindústria. Adriano saiu da instituição com a qualificação almejada e casado com uma colega de classe. Além disso, se beneficiou da verticalização do ensino e retornou ao instituto para fazer a graduação. Hoje, cursa o 7º período de Engenharia Agronômica.
"O Ifal proporcionou para mim uma oportunidade. Oportunidade de deter uma formação técnica, de ter mais conhecimento. E até de conhecer minha esposa, minha história com ela foi no Ifal. Então posso dizer que o Ifal nesses dez anos modificou a minha vida por completo. E ver a evolução que a instituição teve, que começou no prédio emprestado pelo Estado, enquanto a construção do campus acontecia, para agora, na graduação, ver toda estrutura que tem hoje... Acompanhar isso é muito gratificante, Não só pelo conhecimento agregado, mas porque você se sente parte dessa história, em ver a evolução e a transformação de vidas. Não só a minha, mas de muitas pessoas", relata.
O universitário comenta que o apoio recebido da Assistência Estudantil do campus fez toda a diferença para conseguir concluir os estudos técnicos. "Eu morava em uma cidade vizinha e precisava me deslocar de lá para o Campus Piranhas e não tinha condições de vir e a Assistência Estudantil foi o que me ajudou a não desistir do curso".
Apoio para permanência e êxito - Casos como o de Adriano são comuns na história da instituição. Atualmente, há 832 estudantes matriculados na unidade de ensino e, desses, 427 são beneficiados com programas da Assistência Estudantil, que ofertam bolsas como de auxílio permanência, de apoio à mobilidade estudantil e de assistência a estudantes com necessidades específicas, por exemplo.
Também o refeitório da instituição é iniciativa vinculada à Assistência Estudantil. inaugurado em 2019, o espaço oferta em torno de 200 refeições diárias gratuitas, entre almoço e jantar, para estudantes selecionados de acordo com critérios como agravo nutricional, vulnerabilidade social e a necessidade de realizar atividades em tempo integral na unidade de ensino.
Impacto na comunidade
Os reflexos da atuação do Campus Piranhas podem ser vistos não apenas na vida de servidores, que vêm de outras cidades para se instalar no Sertão alagoano, adquirem novas experiências profissionais e se engajam em atividades diferenciadas. Esses reflexos atingem além da vida dos estudantes, que têm acesso à ensino de qualidade, projetos de ensino e extensão, visitas técnicas, programas de monitoria, prática de atividade física, preparatórios para olimpíadas do conhecimento e participação em eventos externos. A trajetória de 10 anos do Ifal Piranhas tem alcance também sobre as famílias, a comunidade sertaneja, a economia da cidade e o desenvolvimento da região.
Prova disso são os relatos de profissionais autônomos que viram a dinâmica de Piranhas mudar nessa última década graças à chegada do Instituto e percebem o crescimento no setor de comércio e de serviços para atender as demandas de servidores e alunos. Um empreendedor conhecido como Marreta conta que com o campus ainda em construção já vislumbrou a possibilidade de ganhos no ramo imobiliário e construiu pequenas moradias para aluguel.
"Eu vi o projeto se instalando e comecei a perceber que vinha bastante gente de fora e iam precisar de local para morar. Veio a ideia de investir nessa área de apartamento para alugar. Tenho professores e alunos morando neles. Inclusive todos os apartamentos, eu tenho seis, aluguei antes de terminar. Foi eu terminando o acabamento e já entregando as chaves. Eu vi que realmente ia ser necessário ter esses pontos para acolher o pessoal vindo de fora, foi essa a minha ideia e deu tudo certo", narra.
Quem confirma essa influência da instituição na economia da cidade é o mototaxista conhecido como "Seu Índio". Morador de Piranhas há quase 30 anos, ele diz conhecer de perto o antes e o depois do campus se instalar e a geração de renda que houve a partir daí, como no caso dele que passou a transportar servidores e alunos com frequência. "E beneficiou não só mototáxi, deu emprego a muita gente. Agora, com a pandemia, sem ter as aulas, a gente sente a diferença".
Envolvimento com as famílias e com o desenvolvimento social - A atuação do Ifal Piranhas impacta ainda a vida das famílias dos estudantes. Eles voltam às suas casas com novos aprendizados, novos olhares sobre o mundo, novas possibilidades para o futuro. Muitas vezes, os próprios familiares se contagiam e decidem voltar a estudar. Foi o que ocorreu com a Kelly Krystinne Silva, mãe de Arthur Silva e João Victor Silva, ambos egressos do campus e que, segundo ela, adquiriram disciplina e comprometimento depois de estudar na instituição.
"A notícia da instalação de um Instituto Federal em nosso município foi motivo de muita alegria, pois com isso os nossos jovens poderiam expandir seus horizontes acadêmicos. Como mãe, sempre incentivei meus filhos a terem interesse em ingressar no Ifal, pelas muitas qualidades que a instituição oferece. Tão boas que quis também fazer parte dessa história como aluna, e hoje, aos 45, fazer parte dessa família de forma direta me deixa muito orgulhosa e certa de que qualquer tempo é tempo de aprender", afirma a estudante do curso de Licenciatura em Física do campus.
Ela não não era a única a idealizar caminhos mais promissores na educação dos piranhenses. Ana Cristina Accioly, sócia-fundadora do Instituto Palmas, uma ONG da região voltada a ações de desenvolvimento sustentável, direitos humanos e cidadania, acompanhou os trâmites para a instalação do campus e foi atuante nas instâncias democráticas onde se decidia sobre a chegada e funcionamento da unidade de ensino.
A ativista lembra que nos espaços de participação pública da época, era intensa a participação da comunidade em busca da implantação de instituições de ensino de formação técnica e superior na região. Ela mesma integrou abaixo-assinados, passeatas, audiências, e se aliou a uma rede de pessoas e entidades também engajadas com a pauta.
Pelas transformações trazidas nesses dez anos do Ifal Piranhas, Ana Cristina reconhece que foi uma vitória a vinda da instituição para o Sertão alagoano. "Foi uma conquista dos movimentos, das instituições e das pessoas, a partir de um governo que se sensibiliza com essa causa e que também entende como sendo fundamental [a interiorização] para o desenvolvimento de um país das dimensões do Brasil e diante das tamanhas desigualdades".
Hoje, a profissional vê como a presença do campus modificou a dinâmica social em diversos aspectos. "Porque os jovens saíam daqui para ir para cidades maiores para fazer uma formação, os poucos que conseguiam sair. Mas a grande maioria parava de estudar quando concluíam o ensino médio. A presença do campus do Ifal aqui em Piranhas é fundamental pra diminuir o êxodo dessa juventude, para produzir conhecimento a partir das demandas e das necessidades típicas do nosso território".
Ana Cristina vivenciou de forma particular a efervescência do campus ao longo da década. Ela participou das semanas culturais e tecnológicas, fez cursos livres oferecidos gratuitamente na unidade, prestigiou eventos e contribuiu em oficinas e processos avaliativos. É dessa estreita relação com a história da instituição que vem a percepção sobre como o Ifal desempenha papel importante, inclusive, nos rumos da cidade. "É uma instituição que hoje está integrada em diversos espaços de participação, a exemplo do Colegiado Territorial, nos Conselhos de Desenvolvimento Rural, da Educação, no Conselho da Criança e do Adolescente", diz, referindo-se às instâncias democráticas onde o Ifal tem cadeira.
Projetos de abrangência regional - Iniciativas de cunho científico e extensionistas desenvolvidas pelo Campus Piranhas também retratam o impacto além dos muros da instituição. Diversas pesquisas realizadas pelos docentes da unidade obtiveram reconhecimento nacional, sendo publicadas em revistas científicas renomadas. Dentre as mais recentes, estão um experimento com adubação de milho verde e outro na área de fotodinâmica.
Só neste ano, o campus contabiliza 40 projetos de pesquisa em andamento, com mais de 120 alunos envolvidos e descobertas que podem beneficiar toda a sociedade. E ainda promoveu, nos últimos dois anos, um evento que reúne mostra de trabalhos científicos, discussões e palestrantes renomados na área de Ciências Agrárias, a Seagro. Participantes de outras cidades e estados compareceram para atualizar os conhecimentos na área.
Nas atividades de extensão, o público externo tem se envolvido e beneficiado com as práticas. O campus coleciona uma série de projetos voltados à inclusão social e produtiva, à geração de oportunidades e à melhoria das condições de vida da comunidade.
Dentre os de grande repercussão ao longo da década, estão o "Teatro Mambembe Ser...tão Brasil", que produziu espetáculos artísticos na região, o "Solo na Escola", que consistia em oficinas de pintura agroecológica na rede pública de ensino, utilizando o solo como pigmento. Dos mais recentes, teve participação engajada da população a iniciativa "Ifal em Movimento", que ofereceu práticas de exercícios funcionais e orientação nutricional ao público externo, o "Sertão sustentável", com atividades educativas sobre o descarte adequado de resíduos sólidos, o "Gotinha D'água" com conscientização ambiental por meio do teatro de fantoches, acerca do uso racional da água para a criançada da cidade e o projeto de resgate cultural Pastoril do Velho Chico, com a socialização de idosas assistidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Piranhas.
Orgulho em fazer parte
A trajetória de tanto sucesso ao longo da década enche a gestão do campus de satisfação. Especialmente porque o atual diretor-geral da unidade acompanhou quase toda a história do Ifal Piranhas, por ser um dos servidores mais antigos. "O sucesso do campus eu atribuo ao compromisso de todos com a educação socialmente inclusiva. São servidores e alunos que fazem a diferença. Estou aqui desde 2011. Estive à frente do Departamento de Ensino, participei desse crescimento do campus na oferta de novos cursos e espero que venham mais oportunidades para a gente ajudar a desenvolver a região e melhorar a vida das pessoas que aqui vivem", encerra Iatanilton Damasceno.