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Conheça a trajetória do jovem ator sertanejo Filipe Rios, premiado por atuação no cinema
O ator é aluno do 3° ano de Agroindústria do Ifal Piranhas e teve um pouco da sua trajetória como ator desenvolvida no campus
Seguir carreira de ator numa cidade de pouco mais de 25 mil habitantes, localizada no sertão alagoano, onde não há teatros e salas de cinema, não é tarefa fácil. Filipe Rios, estudante de Agroindústria do Ifal Piranhas, de apenas 18 anos sabe bem disso, mas, mesmo com todas as dificuldades, ele desenvolveu sua carreira de ator há sete anos e já conta com trabalhos teatrais, participação em novela e documentário e, recentemente, foi premiado no cinema. A premiação é fruto do seu trabalho como protagonista do filme Besta-Fera, dirigido por Wagno Godez. O filme recebeu três premiações: melhor performance do elenco na mostra Sururu e os prêmios de melhor atriz para Mariah Morello e melhor ator para Filipe Rios no Cine Cariri, na categoria nacional.
Embora Piranhas não tenha uma estrutura que fomente a dramaturgia, a cidade foi cenário de muitos produtos audiovisuais e é rica em história e cultura, o que, de alguma forma, propicia o contato de seus moradores com a arte. A trajetória de Filipe como ator começou na adolescência, em sua antiga escola (Escola Estadual de Xingó I), onde ele participou de um programa de teatro. “Lembro ainda da primeira peça que fiz e foi amor à primeira peça. A minha antiga escola foi quem me trouxe o teatro, em um programa de mais aprendizagem e, em um dia de tédio, decidi ir para saber com era. Depois de dois anos, fui chamado para a companhia teatral de Piranhas, Estrelas do Sertão, da qual faço parte até hoje. Aos meus 15 anos, tirei a DRT, que é o registro de ator profissional, um grande salto que dei sem perceber”, conta Filipe.
O jovem ator relata que desde pequeno assistia a novelas, filmes e pensava no que queria ser quando crescesse, mas ao ver os atores em cena dizia para si mesmo: “eu jamais vou conseguir ser ator, não vou conseguir decorar tudo isso”. O destino se encarregou de levar Filipe para o teatro e, em seguida, para a TV e para a telona, mesmo sem ele acreditar que seria possível. Ele explica que, ao ingressar no Ifal, o teatro se fez ainda mais presente sua vida. “Tive a oportunidade de ter aulas com um grande ator e professor que é o professor Pablo, de artes. Ao ver a sua desenvoltura para a arte, percebi que os horizontes das artes cênicas são infinitos. Foi o que me fez buscar mais e mais, tanto nas aulas dele, quanto no palco”, explica o ator. Muitos dos exercícios de interpretação que o professor do Ifal Piranhas, Pablo Fabrício da Conceição, passava durante as aulas de teatro o ajudaram bastante na montagem do seu personagem no filme Besta-fera. “Ainda que ele não estivesse no campus nesse período, por motivos de saúde, sua influência foi essencial no desenvolvimento do personagem para o filme”, afirma Filipe.
A trama do Besta-Fera envolve Mariano (personagem interpretado por Filipe Rios), sua mãe Flora (Mariah Morello), um misterioso hóspede que eles abrigam (por Erom Cordeiro) e o coronal e dono das terras onde mãe e filho residem (interpretado por Julien Costa). Segundo Filipe, o Besta-Fera apresenta a natureza arcaica do sertanejo, em um passado sombrio, onde até mesmo uma alma ingênua é forçada a amadurecer e a ver um mundo com olhos odiosos. Mariano tem seu interior desenvolvido ao longo da trama, enquanto torna-se um rapaz. Para Filipe, o personagem apresenta uma face de si que nem ele mesmo conhecia, então, enquanto o público se surpreende com a descoberta de quem é o Mariano, ele também se descobre. Filipe foi selecionado para o filme após participar de um minicurso de audiovisual em Piranhas. Foram publicadas imagens dele em testes de câmera e o diretor do filme, amigo do ministrante da oficina viu as fotos e gostou do perfil de Filipe. O diretor entrou em contato com o ator em dezembro de 2016, enquanto fazia a pesquisa de atores em outros estados do Nordeste e, após alguns testes, Filipe foi selecionado para o papel, no final de 2017. As filmagens começaram em abril de 2018, em Caraibeiras, distrito de Tacaratu.
“Para mim, foi uma honra participar do filme, que está sendo o pontapé para o mundo do audiovisual. Ainda que eu já faça teatro há 7 anos e espetáculos ambientados no cangaço, o filme foi um desafio para mim, uma vez que o cinema e o teatro, ainda que se assemelhem, têm uma enorme diferença, desde a encenação à produção. Abracei o personagem e dediquei-me a trazer o Mariano que já existia dentro de mim para fora. Em leituras, estudos, ensaios e mais ensaios. Foi importantíssimo também a presença de todo o elenco que compõe o filme; eles participaram da construção do meu personagem e me receberam de braços abertos”, relata o ator. Ele explica que o trabalho do Wagno foi excepcional e que ele o conduziu de uma forma esplêndida. O contato com outros atores de vasta experiência, como Erom Cordeiro, foi uma oportunidade única de aprendizado e amadurecimento para ele. Os atores trocavam experiências, davam dicas e, ao longo das gravações, eles desenvolveram um clima muito familiar.
Sobre as dificuldades de ser ator no sertão de Alagoas, Filipe afirma que ser ator não é uma tarefa fácil, principalmente, quando se leva em consideração comentários que são construídos em relação a um homem fazer teatro. "Quando tentamos fazer teatro no sertão, longe das oportunidades televisivas, percebemos que as dificuldades se multiplicam. Ainda é claro o preconceito para com a arte, mas também, o preconceito dentro da arte, uma vez que choca tanto as pessoas, quando um ator negro é protagonista por exemplo e, infelizmente, é justamente pela aparência física que muitos artistas regionais são impossibilitados de conseguir um papel", explica o ator que diz estar na carreira por amor e não por dinheiro, já que o retorno financeiro no sertão é complicado.