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Bate-papo, música e depoimentos marcam encerramento do Setembro Amarelo no Ifal Piranhas
Estudante dá seu relato de aceitação e superação do bullying sofrido no início da adolescência
As atividades do Setembro Amarelo no Campus Piranhas do Instituto Federal de Alagoas - Ifal encerraram na última quarta-feira (25) com um evento de mobilização articulado por estudantes e pela professora Daniele Maciel, representante do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas.
A docente iniciou um diálogo sobre como as redes sociais criam a ilusão de que a "vida perfeita" existe e o impacto disso para o aumento de transtornos psíquicos como ansiedade e depressão. "Sem contar que estamos cada vez mais conectados com a vida digital e desconectados da vida real", complementou a psicóloga do campus, Dúnia de Cássia.
Outro tópico abordado na ocasião foi o papel da atividade física no alívio de efeitos depressivos. "Pode contribuir na melhoria da autoestima, diminuição da insônia, maior disposição para atividades diárias, para amenizar a ansiedade e na melhoria do humor, por meio da liberação de hormônios ligados à sensação de prazer e bem-estar", enumerou o professor da área Ivis Claudino.
A programação da culminância do Setembro Amarelo contou com apresentação musical do Corifal, com um repertório de canções motivacionais preparadas exclusivamente para o evento, além da leitura de textos da temática de valorização da vida e de prevenção ao suicídio, sessão de depoimentos dos participantes e divulgação do resultado do concurso de desenhos.
Em primeiro lugar na disputa, ficou a arte de autoria do estudante Antonio Ananias Oliveira, do curso de Agroecologia. De acordo com o vencedor, o conceito da obra é de que sempre é possível florescer depois da tempestade. Quem faturou o segundo lugar foi o Rafael Afonso da Silva, do curso de Agroindústria. E em terceiro lugar, veio a Joice Rodrigues Silva, graduanda de Engenharia Agronômica. Confira as imagens premiadas aqui.
Para a professora Daniele Maciel, a entrega e participação do alunos foi ponto positivo do evento, por possibilitar aos estudantes serem sujeitos ativos na instituição. "Precisa usar o espaço da escola para discutir a depressão, outros transtornos psíquicos, o suicídio. É uma oportunidade de sensibilizá-los, de dar voz a eles também e de criar um diálogo para que eles se sintam acolhidos. A gente tem tantos jovens passando por esses problemas de saúde mental e a gente fala tão pouco sobre isso. É um tema muitas vezes subestimado", destacou a profissional.
Relatos pessoais - Um dos motes da campanha de conscientização sobre os cuidados com a saúde mental diz respeito à importância de pedir ajuda quando estiver se sentindo em situação de fragilidade emocional, falar do que sente e não se isolar. O público presente no evento de mobilização fez exatamente isso e utilizou o espaço para relatar suas experiências de aceitação e superação da dor.
Visivelmente emocionada, a estudante de Agroindústria Regina Paulino falou da importância de aproveitar o momento presente com as pessoas amadas e tratar com afeto aquelas que estão sofrendo por transtornos psíquicos. "'Um avião só vira notícia quando cai' e assim também é na vida. Só nos damos conta de algo, quando o triste acontece. Não podemos esperar por isso para dizer que amamos, para abraçar, para beijar, para valorizar a presença de alguém. Não vamos esperar que alguém vá embora ou se suicide para vermos a falta que ela nos faz. Vamos valorizar o hoje, agora, enquanto temos", defendeu.
A aluna Kalênia Laura, do 4º ano de Agroindústria, vivenciou uma situação de intenso sofrimento que a fez pensar em suicídio e se colocou como exemplo de que é possível buscar ajuda e seguir em frente. O episódio ocorreu na última escola onde ela estudou, com pessoas consideradas amigas. A partir de um desentendimento, onde Kalênia resolveu seguir a recomendação da professora, ela passou a sofrer represália dentro e fora da sala de aula. "As meninas passavam na frente da minha casa gritando, buzinando. Usavam as redes sociais para mandar recado, falar mal de mim. De um dia para o outro, fui completamente excluída e esse período foi uma bola de neve. Meu psicólogo estava tão devastado que acabei ficando doente mesmo, minha imunidade baixou demais, emagreci muito", contou.
A adolescente se via sozinha e sem saída, mas conseguiu superar o momento difícil com ajuda profissional e da família. "Eu estava tão desesperada que eu tinha desejo de colocar fim nisso de uma forma ou de outra e eu tinha duas opções, ou eu me matava ou eu contava para alguém. E eu escolhi minha mãe para falar. Eu desabafei com ela e ela sempre ficou disposta a me ajudar. E daí foi uma jornada de psicólogos, psiquiatras. Com a mudança de escola, foi como uma libertação pra mim".
Kalênia destacou que já não precisa mais usar remédios e fez novos amigos. O que mais a ajudou a se reerguer? "Fazer exercícios, tentar me comunicar o máximo possível, escrever quando eu me sentia sufocada e não queria falar com ninguém e respeitar meu tempo. Eu nunca me cobrei demais para ficar melhor. Foi um processo longo, mas que hoje vale muito a pena falar sobre e ajudar outras pessoas", apontou a discente.