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Atuação de alunas do Campus Piranhas muda o perfil da Engenharia Agronômica no estado
Estudantes enfrentam barreiras culturais e se destacam em área dominada por homens
Há áreas acadêmicas que costumam ser ocupadas predominantemente por pessoas de um mesmo gênero. Cursos de engenharias, por exemplo, tradicionalmente têm salas cheias de representantes do sexo masculino. Mas aos poucos, a situação parece mudar, seja por meio de iniciativas institucionais, como também pela força de vontade de algumas desbravadoras.
No Campus Piranhas, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), o curso de Engenharia Agronômica apresenta trabalhos relevantes desenvolvidos por suas alunas e já reconhecidos em suas comunidades. Nesta terça-feira (8), por exemplo, Carla Sabrina da Silva colou grau na unidade, para dar início às aulas no mestrado em Engenharia Agrícola, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP). Natural de Piranhas, ela foi a primeira da família a entrar no curso superior e lembra que ao longo de sua trajetória no Ifal, além de desenvolver pesquisas e entrar no mestrado, conseguiu uma oportunidade de estágio na maior produtora de uva de mesa do país e pôde ver de perto tecnologias que não estão à disposição no ambiente acadêmico.
Quando lembrada que ela finalizava a etapa no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, ela lembrou todo o percurso vivido pela família até chegar esse dia. "Para mim, colar grau nesta data se tornou ainda mais representativo, ter alcançado essa conquista numa data tão importante para nossa história como mulher, com minha mãe ao meu lado, foi o maior presente que eu poderia me dar e dar a minha mãe, representando minha avó, que era agricultora desde sempre, eu estou muito grata e feliz", comemorou.
Defesas realizadas em fevereiro
Sabrina havia defendido o trabalho de conclusão de curso no dia 16 de fevereiro. Intitulado “Uso econômico da água no cultivo do feijão caupi irrigado no semiárido alagoano”, ela analisou o uso da irrigação de forma econômica e sustentável na cultura do feijão caupi (feijão de corda) no Semiárido".
Na defesa, a profissional falou sobre a importância de sua pesquisa para a região, já que os agricultores costumam usar sementes crioulas para o plantio, com um conhecimento passado de geração em geração. No entanto, ela constatou que não existiam informações técnicas sobre a quantidade de água a ser usada na irrigação, de forma a gerar o máximo de lucro para o agricultor e também reduzir o desperdício da água. “Com essa pesquisa, agora temos tal informação, que será repassada aos produtores”, pontuou.
Na mesma linha que Sabrina, sua colega, Edmaíris Rodrigues Araújo finalizou a graduação em Engenharia Agronômica com um trabalho com características semelhantes, porém sobre o milho. Em “Índice de clorofila e produtividade econômica do milho irrigado no Sertão Alagoano”, Edmaíris procurou avaliar o efeito do estresse hídrico sobre o índice de clorofila do milho e determinar a lâmina econômica de irrigação para cultura, buscando a máxima eficiência econômica na região do semiárido alagoano. O Trabalho foi defendido no último dia 23 de fevereiro.
Em comum, as duas estudantes tiveram suas pesquisas desenvolvidas sob o acompanhamento do Laboratório de Irrigação e Agrometereologia (Lidren), localizado do Campus Piranhas e sob a coordenação do professor Samuel Silva.
“Na época em que esse trabalho foi elaborado, meu orientador, professor Samuel Silva, estava conduzindo seu experimento de doutorando com a cultura do milho, na região da Zona da Mata Alagoana. Recém-chegado no campus Piranhas e dando início as suas atividades de pesquisa frente ao Laboratório de Irrigação e Agrometeorologia do campus, propôs a equipe de orientados replicar seu experimento de doutorado – com algumas variáveis a menos – nas condições semiáridas de Piranhas. E assim o projeto foi elaborado e submetido ao edital de pesquisa do Ifal, na modalidade de Iniciação Científica”, recordou.
Samuel disse que há algum tempo vem trabalhando com equipes formadas em sua grande parte por mulheres. No laboratório, elas não só participam de atividades de pesquisa e extensão, como são ineridas nas cadeias de produção, por meio de estágios e do desenvolvimento de pesquisa junto às instituições parceiras.
“Desde o início das nossas atividades, no laboratório, que venho adotando a campanha de fortalecimento de políticas para as mulheres, tendo em vista que na nossa área de agronegócio a atuação das mulheres ainda é muito negligenciada e ocorre muito preconceito. Todos os nossos projetos de pesquisa e extensão têm participação das alunas do Campus, além de professoras e agricultoras. Recentemente desenvolvemos um projeto dentro do Programa IF Mais Empreendedor Nacional, em que todas as bolsistas eram mulheres e muitas representantes das empresas atendidas eram mulheres agricultoras. Foi uma adesão total a essa campanha e uma experiência riquíssima, na qual pudemos ver o trabalho surpreendente e a força que a mulher tem no ramo do agronegócio”, comentou o docente.