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Arte e coletividade são estimuladas por projeto de canto coral no Ifal Piranhas
Recém-chegado ao campus Piranhas, no início de 2017, o professor de Filosofia, André Bonfim percebeu a necessidade de desenvolver uma atividade artística na instituição e submeteu o projeto de um coral cênico, o Corifal, ao Programa de Extensão Artifal. Ele conta que a demanda partiu dos próprios estudantes. “Alguns alunos me procuraram, falando de projetos antigos que já tinham sido desenvolvidos no campus na área de música e teatro. Foi aí que pensei em submeter um projeto que reunisse esses dois elementos, desenvolvendo um coral cênico”, explica. O que o professor não imaginava era que a procura seria tão grande. Após as audições e a chegada de integrantes que foram se agregando ao longo dos ensaios, o grupo chegou a ter mais de 30 componentes. O projeto deu tão certo que, mesmo após ter sido removido para outro campus, André deu continuidade aos trabalhos e viaja a Piranhas para ensaiar os alunos.
Formado por alunos de diferentes turmas, o Corifal, em um ano, desenvolveu-se na música, fez cerca de 20 apresentações em cidades como Satuba, Batalha e Marechal Deodoro, em vários eventos do Ifal e também externos, como a Feira Literária de Marechal Deodoro (Flimar) e se fortaleceu enquanto coletivo. “A primeira avaliação que faço é deles enquanto grupo, que se desenvolveu exponencialmente. Alguns integrantes não conheciam os demais e, mesmo os que estavam na mesma turma, não conheciam algumas características dos colegas, sequer os tinham visto cantar ou atuar. Essa capacidade agregadora é uma marca do grupo, muito embora alguns colegas tenham saído com o tempo, por motivos diversos”, explica o regente e idealizador do projeto, André Bonfim.
Embora cada aluno tenha uma história e uma relação com a música, no canto coral, o individual é deixado de lado para que as vozes brilhem coletivamente. Segundo André, esse tipo de canto tem uma particularidade que é a de cantar comungando as notas, de modo que cada voz seja uma parte inconfundível de algo maior. Se engana quem pensa que atividades, como as realizadas pelo Corifal, desenvolvem apenas os aspectos musicais e artísticos dos alunos, elas desenvolvem também sua formação humana e sua relação com o outro.
O estudante do 4° ano de Agroindústria, Carlos Sousa, conta que o professor, antes de ensinar teoria musical para eles, fez com que eles tivessem confiança um no outro, porque um coral precisa da coletividade. Carlos Antônio Guimarães, também aluno do 4° ano de Agroindústria, conta que o intuito do coral não é apenas formar vozes, mas também a formar pessoas, pois a cada encontro o professor vai limitando as atitudes errôneas que muitas vezes eles têm como ego. “A cada ensaio você vai se igualando às pessoas e aprendendo a não se sentir superior a ninguém, entender o outro, reconhecer o outro e, por mais que você seja diferente dele, isso não quer dizer que você é melhor”, afirma Carlos Guimarães.
André explica que participou de experiências de grupos que trabalham com a noção de criação coletiva, seja em espetáculo teatral, seja em criação de arranjos musicais. “Isso me ajudou a realizar no Corifal ações que tivessem como objetivo a autonomia dos próprios integrantes, de modo que as músicas que são trabalhadas têm uma marca de cada membro, seja num trecho de arranjo, seja no ritmo, seja em alguma cena ou gesto mínimo que fosse”, conta.
Thaíssa Cristina, 2° ano, e Karliane Couto do 4° ano de Agroindústria têm histórias diferentes com a música, a primeira nunca tinha cantando em lugar nenhum que não fosse o chuveiro e a segunda começou a cantar, se apresentar e aprender a tocar instrumentos aos seis anos, na igreja. Boa parte dos alunos do Corifal ou nunca tinha cantado, ou participava de coros em suas igrejas, são poucos os que tem uma relação profissional com a música. O que Thaíssa e Karliane relatam em comum na sua trajetória musical é terem descoberto seu potencial com o Corifal, o grande aprendizado que essa experiência trouxe e o amor pelo grupo. “Quando eu entrei no coral, eu percebi que não era só cantar, o legal do André é que ele ensina música, ele não ensina o todo, mas ensina o que a gente precisa saber sobre música, eu não sabia nada e agora sei bastante coisa. Hoje, eu ouço uma música e já começo a fazer um arranjo para ela ou acompanho, fazendo a terça”, explica Thaíssa.
Este ano, o Coral Cênico do Ifal Piranhas realizou audições para entrada de novos integrantes ao grupo e teve, novamente, uma grande procura, com mais de 40 inscritos. A cidade de Piranhas é carente de projetos culturais, por isso os alunos e o público vêem o coral com tanto entusiasmo. André vê a escola como um terreno fértil para criações artísticas, por isso uma das propostas do Corifal para 2018 é levar suas apresentações a outras escolas da região, a fim de compartilhar a experiência desenvolvida no Ifal e multiplicar essa ideia.