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Abril Indígena traz reflexões políticas e sociais acerca do tema
Uma aula viva acerca da cultura indígena. É assim que pode ser definida a apresentação artística (Toré) da tribo Xucuru Kariri, ocorrida durante a realização da primeira edição do Abril Indígena, evento realizado durante toda esta quinta-feira, 25, no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Palmeira dos Índios. Palestras, exposição fotográfica, dança e mostra de artesanato fizeram parte da programação.
O auditório cheio foi a prova de que o evento vem para consolidar-se no calendário acadêmico da instituição. “Tivemos um bom retorno já que os alunos mostraram-se atentos às apresentações, que foram mediadas pelo professor de História do campus, Roberto Idalino. O debate foi tão rico que partiu até para um viés político”, diz Daniel Cavalcanti, professor de Artes e um dos idealizadores do Abril Indígena.
Pela manhã, os alunos contaram com a participação da filósofa e indígena, Graciliana Selestino. Ela é membro do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena (ITC). À tarde, foi a vez da apresentação artística de cunho religioso Toré. Durante todo o evento, os alunos puderam conhecer objetos da cultura indígena, como colares, cocares, chocalhos - trazidos pela tribo de Palmeira dos Índios, Xucuru Kariri. Além disso, foi montada uma exposição fotográfica elaborada pela professora de Geografia, Flora Pidner.
“São fotos minhas de quando realizei uma aula de campo na Aldeia Mata da Cafurna e também de Lucas Zenha. Entrei em contato com o fotógrafo Ricardo Stucker para que este cedesse alguns trabalhos para nossa mostra. Resolvi fazer um contraste escolhendo as fotos dele em preto em branco e as minhas coloridas. São retratos de crianças indígenas feitos por Stucker que mostram a questão da esperança para as futuras gerações e também retratos de anciãos – pessoas que denotam sabedoria e respeito nessas tribos”, explica Flora.
Em sua fala, os membros da tribo Xucuru Kariri ressaltaram a questão do respeito e da igualdade entre os povos. Logo após, o professor Amaro Hélio Leite, campus Maceió, tratou dos índios na História de Alagoas. “É importante desmistificarmos a imagem que temos do índio. Muitos podem ter estranhado os que aqui estão, mas é preciso compreender a história para entender o processo de resistência desses povos. A cultura é dinâmica e não estática. Por que eles não podem mudar e nem por isso deixarem de ser índios?”, questionou o professor ao fazer uma reflexão acerca dos índios e o uso de tecnologias.
Indígena, Cássio Júnior faz mestrado em Antropologia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ele aproveitou a oportunidade e abordou a relação entre a Justiça e os índios, trazendo dados desses povos na cidade de Palmeira dos Índios. “Somos 3500 índios, distribuídos em oito aldeias. Lutamos por três eixos reivindicatórios: terra, educação e saúde”, enfatizou.
Por fim foi a vez do professor da rede estadual de educação de Alagoas, Gênisson Amorim. Ele inclusive leciona em uma escola indígena, por isso trouxe como tema para debate a questão da educação indígena (avanços e retrocessos). “Para dar aula é necessário que o docente esteja inserido nesta realidade. Não temos uma estrutura boa para dar uma aula diferenciada (salas pequenas, faltam livros e materiais), mas fazemos o possível”, ressaltou.
Além de Daniel e Flora, participaram da articulação para o Abril Indígena, os professores: Arthur Lima (Sociologia), Rosania de Almeida (Português), Luiz Domingos do Nascimento (História) e Edneide Ferreira (Português). O evento é uma realização do Grupo de Estudos Memória, Tecnologia e Etno-História de Alagoas (GEMTEH), do qual Daniel faz parte.