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Pesquisadores do Ifal desenvolvem robô sustentável para despoluição de praias

"Maria Farinha" funciona com autogeração de energia e tem inteligência embarcada

publicado: 25/10/2019 15h24, última modificação: 25/10/2019 15h43
Exibir carrossel de imagens Professores e aluno são do curso de Eletrotécnica do Ifal Maceió

Professores e aluno são do curso de Eletrotécnica do Ifal Maceió

Resíduos de lixo orgânico e inorgânico. Animais mortos. E óleo, muito óleo. As praias do litoral alagoano têm dividido a beleza pela qual são conhecidas no Brasil e no mundo com problemas sérios de poluição e degradação ambiental. O episódio mais recente do acúmulo de manchas de óleo na costa brasileira, que só em Alagoas já atinge 30 pontos do litoral, reforçou o alerta não somente para ações de educação e preservação ambiental como para soluções urgentes e possíveis em casos de desastre ambiental. Cerca de 430 toneladas de petróleo e areia contaminadas foram retiradas de praias alagoanas, sendo a maior parte retirada manualmente por mutirões organizados pela população.

Em casos como este, a ciência pode ajudar com soluções sustentáveis, inteligentes e muito eficazes. O uso de tecnologia e inovação aliada à preservação ambiental levou um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Alagoas – Ifal a desenvolver um robô que pode substituir os tradicionais tratores utilizados pelo poder público no processo de despoluição de praias: é o robô Maria Farinha, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Redes Inteligentes - GPRI do curso de Eletrotécnica do Ifal Campus Maceió, que pode revolucionar o trabalho de despoluição de praias de maneira eficiente.

Ideia é resultante do Grupo de Pesquisa em Redes Inteligentes, GPRI, do Ifal Maceió.O projeto Maria Farinha surgiu da observação do processo tradicional de limpeza das praias, principalmente na orla de Maceió, entre a região da Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca. “O que observamos foi um mecanismo pesado de limpeza com o uso de tratores caros e que causam impacto ambiental forte e a sedimentação do terreno da praia, além de insuficientes para uma limpeza efetiva, principalmente em casos urgentes como o do excesso de resíduos”, constata o professor de Eletrotécnica do Ifal Maceió Marcelo de Assis, pesquisador do GPRI e coordenador do projeto Maria Farinha.

Em parceria com o professor e coorientador da pesquisa André Canuto e com o estudante Jedson Viturino dos Santos, ambos do curso de Eletrotécnica do Ifal Maceió, Marcelo de Assis pensou numa solução inovadora para a despoluição de praias que fosse viável tecnicamente e que oferecesse maior eficiência na limpeza das praias. Utilizando-se de conhecimentos de robótica, computação embarcada e a expertise do Ifal em soluções de gerenciamento energético, o grupo criou um mecanismo autônomo para limpeza mais eficiente do que o trator e sem impactos ao meio ambiente: Daí surgiu o equipamento chamado Maria Farinha, uma solução inovadora e comprometida com a sustentabilidade.

Potencialidades do robô Maria Farinha são descritas em um protótipo digital

O robô Maria Farinha tem um sistema de autossuficiência energética: ele usa placas solares e aerogeradores planos, o que garante que o funcionamento com energia solar e eólica suficiente, sem a necessidade de estar plugado em alguma tomada ou fontes de energia tradicionais. O robô “alimenta-se” de energia solar e eólica durante algumas horas e a transmite para os motores elétricos, permitindo sua movimentação e funcionamento. A coleta automática de lixo baseia-se nos movimentos do robô, composto de chassi, rodas leves, conectadas e vazadas e engrenagens em alumínio naval com solda TIG, e em um sistema mecânico de varredura com uma estrutura resistente adequada. A armazenagem do lixo é feita em um contêiner removível.

Estrutura para movimentação do robô Maria Farinha na areia

Estrutura para coleta de lixo do projeto Maria Farinha

Outra inovação do robô Maria Farinha reside na sua capacidade de ser um veículo autônomo com inteligência embarcada: existe uma central de processamento imersa no equipamento e composta por um sistema de sensores infravermelhos para detecção de obstáculos durante o processo de coleta de resíduos, além de câmeras embutidas para supervisão remota, sistema GPS para posicionamento da máquina, sistema Wi-fi para conexão com um servidor central e protocolo TCP-IP para conexão remota com os centros de supervisão. Este conjunto de tecnologias integradas processa as informações usando algoritmos de inteligência artificial capazes de redefinir rotas a serem percorridas pelo robô, reconhecer ciclos marinhos e identificar e diferenciar o material que está no chão da praia.

A inteligência embarcada do robô também está relacionada a um sistema de sensoriamento remoto para captação de informações sobre o meio ambiente como: nível da maré, condições climáticas e temperatura, condições de vida marinha e o monitoramento do nível de limpeza da praia, incluindo a transmissão de imagens em tempo real. As imagens e informações obtidas são transmitidas via Internet para computadores de uma central de monitoramento, que armazena os dados captados pelo Maria Farinha, permitindo novas reprogramações e ajustes no equipamento, e redefinição na rota de coleta do lixo, caso necessários.

APRENDIZADO

Professores e aluno são do curso de Eletrotécnica do Ifal MaceióEstudar as tecnologias integradas que projetaram o robô Maria Farinha foi um desafio para o estudante Jedson Viturino dos Santos, do curso de Eletrotécnica. “Esta pesquisa me fez sair da minha zona de conforto para buscar conhecimento em outras áreas”, avalia o aluno, que realizou pesquisas interdisciplinares nas áreas de Mecânica, Eletrônica e Informática para avançar no projeto. “Também me fez entender melhor sobre a importância do trabalho em equipe e do potencial incrível que temos para produzir Ciência aqui no Instituto”, observa Jedson. O projeto Maria Farinha foi premiado na edição de 2018 da competição de ideias inovadoras AvantIF, em Santana do Ipanema, e na Mostra Nacional de Robótica, em João Pessoa.

PROTÓTIPO

O projeto do robô Maria Farinha foi apresentado em 2018, anda na gestão anterior da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e Inovação – SECTI. O projeto também chegou ao conhecimento da Secretaria Municipal de Turismo de Maceió e do setor hoteleiro. Os desenvolvedores da pesquisa buscam parceiros e interessados que possam investir e viabilizar o primeiro protótipo real do Maria Farinha, capaz de executar tarefas e demonstrar suas potencialidades. Atualmente, o robô existe em um protótipo digital, aperfeiçoado à medida em que o grupo avança no estudo da incorporação de inteligência artificial ao sistema de autocontrole do equipamento.

Para que o robô de fato seja construído, é necessário um investimento médio de R$800 mil nos processos de usinagem e tecnologia e na mecânica do protótipo, cujo tamanho proposto é de 1m3. De acordo com o pesquisador Marcelo de Assis, o custo é razoável se comparável ao investimento público nos tratores tradicionais, que custam em média R$ 1 milhão cada.

Equipe gestora da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação procura fomentar ideias inovadoras.A atual secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação Cecília Lima Herrmann Rocha demonstrou-se favorável ao projeto e informou sobre o interesse da Secretaria em uma reunião técnica com o grupo de pesquisadores do Ifal para melhor conhecimento sobre o projeto e discussão de possíveis fomentos, como os disponibilizados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas - Fapeal.

A equipe técnica da SECTI destaca ainda que ideias inovadoras como a do projeto Maria Farinha podem enquadrar-se num dos editais voltados ao desenvolvimento tecnológico e lançados no mês de outubro pelo Governo do Estado. Além disso, a apresentação da ideia em eventos científicos como a Semana de Ciência e Tecnologia (evento para a apresentação de projetos científicos) e o DemoDay (evento para aceleração de Startups em tecnologia), realizados anualmente em Alagoas, podem acelerar o processo de “networking” com possíveis investidores e aumentar a visibilidade do projeto para a adesão de recursos.