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Curso de Artesanato promove oficina de renda singeleza para alunas

publicado: 30/03/2017 14h07, última modificação: 03/04/2017 11h41
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Alunas do curso técnico de artesanato participam da oficina "Porções singelas"

“Porções singelas” de um saber popular que não pode se perder com o tempo: é com esta temática que o Curso Técnico de Artesanato Proeja, do Campus Maceió, promoveu nos dias 30 e 31/03 a oficina intitulada “Porções Singelas”, com o objetivo de ensinar a alunos do 4º e do 6º períodos do curso técnicas para confecção de bico e renda singeleza, uma tradição tipicamente alagoana e praticamente extinta no Estado. A oficina foi ministrada por Dona Benedita, artesã do município de Marechal Deodoro que, aos setenta anos, ensina a arte que aprendeu há quase cinquenta anos.

A oficina aconteceu na sala 215 do Campus Maceió e é uma ação de preservação ao patrimônio histórico-cultural do Estado. O bico singeleza foi objeto de pesquisa acadêmica das arquitetas Josemary Ferrare e Adriana Guimarães, que iniciaram um projeto de resgate e valorização, após conheceram a última artesã detentora deste saber popular: Dona Marinita, de Marechal Deodoro, que faleceu em 2006, com mais de 80 anos, e não teve filhos para quem pudesse repassar seu conhecimento, como geralmente ocorre com a tradição do saber popular. Porém, pelo menos seis artesãs de Marechal aprenderam o feitio, em oficinas e com a Dona Marinita, e graças ao esforço das arquitetas-pesquisadoras, o conhecimento não se perdeu. Além de promoverem oficinas para o aprendizado da arte, os estudos sobre o Bico Singeleza geraram um dossiê encaminhando ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para registro deste conhecimento como Bem Imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro.

Dona Benedita repassa o conhecimento para alunas do Ifal.

Dona Benedita é uma dessas artesãs. “Discípula” de Dona Marinita, Benedita continua repassando o conhecimento em oficinas de artesanato, em Marechal Deodoro e em Maceió, no Museu de folclore Théo Brandão e no Ifal. Ao orientar seus novos “alunos” do Campus Maceió, adultos acostumados à "arte" de conciliar trabalho e estudos durante sua trajetória  no Proeja,  a artesã é paciente, primorosa e enfatiza: “O nome singeleza já diz: É preciso muito cuidado, paciência, delicadeza. E amor”,  revela a senhora, que é professora aposentada e revelar fazer suas artes apenas como ‘hobby”. “Já houve uma época em que as pessoas compravam muito as peças com detalhes em singeleza. Hoje em dia, poucos dão valor. Mas faço por prazer. Gosto muito. Assim como faço crochê, tricô e outras rendas como filé e labirinto”, revela.

Dona Benedita repassa o conhecimento para aluna do Ifal.

Alunas do curso técnico de artesanato participam da oficina "Porções singelas"

A oficina é uma iniciativa dos docentes do Curso Técnico em Artesanato. A professora dos cursos de Artesanato e de Design Juliana Aguiar e a coordenadora do curso de Artesanato, professora Ana Cristina, destacam que a equipe de docentes entende a importância de transmitir para os alunos do Ifal uma tradição tão importante e quase esquecida, ainda que em “porções singelas”. As docentes também foram alunas da oficina, recebendo as instruções de Dona Benedita.

As professoras Juliana Aguiar e Ana Cristina foram orientadas por Dona Benedita na Oficina.

A ARTE

O bico singeleza é feito sobre uma trama bastante simples, numa minúscula rede de nós, parecida com a base do filé e das redes de pesca tecidas pelos pescadores. É tradicionalmente confeccionado com agulha, linha de pipa ou de algodão e talo de coqueiro. Não precisa de risco, nem de moldes.

Com a agulha, a rendeira inicia o trabalho pontilhando em um pedacinho de pano que serve de base. O pano não pode ser malha. Geralmente é um pedaço de linho ou de algodão. Em seguida, coloca um talo bem fino de palha de coqueiro no sentido horizontal, junto à base do pano e faz a primeira trama, dando uma laçada no talo com a linha em agulha comum. O curioso é que a artesã puxa a agulha no sentido contrário, isto é, pelo fundo. As ordens de casas vão se repetindo, formando uma malha muito fina. De espaço em espaço, a rendeira preenche cinco dessas casas com uma leve decoração a que chama de rosinha. O ponto não varia. É sempre o mesmo para renda, bico e aplicação.

A renda singeleza é pequena e delicada.

Tradicionalmente, este feitio era ensinado por mães às meninas, como parte de sua educação doméstica. Era utilizado para decorar blusas, golas soltas, mas também barras de anáguas, toalhas, lençóis, fronhas e outras peças. Confeccionado aos metros em Marechal Deodoro, era comercializado em Maceió, de porta em porta ou “a bordo”, como se dizia antigamente. “Rendar singeleza”, isto é, fazer o bico, era uma prática comum entre as mulheres de Marechal Deodoro. Com o passar do tempo, a renda foi caindo em desuso e as rendeiras migraram para o trabalho com o filé, considerado  uma renda mais vistosa e de elaboração mais rápida, que encantava e ainda encanta os compradores.