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Ciência e juventude a serviço da sociedade na Grande Maceió

Jovens doutores da região metropolitana fortalecem a integração entre ensino, pesquisa e extensão na educação pública

por Adriana Cirqueira publicado: 21/04/2017 16h22, última modificação: 24/04/2017 08h37
Exibir carrossel de imagens Adubação e plantio de cana em aula de Produção Vegetal

Adubação e plantio de cana em aula de Produção Vegetal

O Instituto Federal de Alagoas (Ifal) possibilita a estudantes de diferentes níveis o acesso ao ensino, à pesquisa e à extensão em espaços compartilhados e orientados por docentes com alta titulação, que articulam a preparação para o trabalho com o desenvolvimento científico. Mais que profissionalizar, o Ifal pretende elevar a qualidade do estudo e não apenas a escolaridade dos alunos.

De acordo com o Relatório de Gestão 2016, da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional (PRDI), ao final de 2015, o Ifal possuía 854 docentes efetivos, sendo 142 doutores e 39 afastados cursando o doutorado. Nessa perspectiva, o corpo docente do Ifal Campus Satuba, formado por 81 professores, conta com 41 mestres e 21 doutores que conciliam ensino, pesquisa e extensão na busca constante pela oferta de educação com excelência e alicerçada nesses três pilares. 


Computação e eletrônica: interesses comuns aos jovens doutores do Campus Rio Largo*

Os professores Heitor José dos Santos Barros, 28 anos, e Ivo Augusto Andrade Rocha Calado, 30 anos, são os mais jovens doutores do Ifal Campus Rio Largo. Heitor terminou seu doutorado em Ciências da Computação na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), há apenas seis meses. Foi aluno do Campus Maceió, concluindo o curso técnico em Administração de redes em 2007. Em 2010, se graduou em Graduação em Ciências da Computação, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), onde também fez seu mestrado em Modelagem Computacional do Conhecimento, em 2011.

Heitor orientando alunos

Heitor orientando estudantes no Campus Rio Largo

Há poucas semanas no Campus Rio Largo, removido do Campus Arapiraca, o jovem doutor trabalhou em sua tese o desenvolvimento de um modelo para representação de recursos educacionais, visando melhorar o seu compartilhamento. “Sempre gostei de estudar e, quanto mais estudo, mais aumenta minha vontade de continuar me aperfeiçoando”, explica. 

Heitor pretende utilizar o modelo desenvolvido após a instalação de uma plataforma específica. “Meu primeiro emprego foi no Ifal, estou no aqui desde 2012. A instituição foi importante para a conclusão desse doutorado, pois garantiu meu afastamento total para que a dedicação aos estudos fosse completa”, analisa o professor.

Como Heitor, Ivo também é formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tendo concluído a graduação em 2008. Obteve o título mestre em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) no ano de 2010 e o de doutor em Engenharia Elétrica em 2015, pela mesma instituição.


No início da graduação, eu não tinha ideia sobre o que era a carreira acadêmica, mas após a iniciação científica e o maior contato com a pesquisa, compreendi e resolvi seguir esse caminho”, explica, enquanto fala dos planos que tem para sua atuação no campus. “Espero contribuir para o Ifal como um todo e para que o doutorado seja relevante na construção de parcerias com pesquisadores de outras instituições. E a partir da formação, passar os conhecimentos para os alunos”, afirma o professor, que mantém parceria com a Ufal na área de Internet das Coisas e Websemântica.

Apesar de também ter chegado ao campus no último concurso de remoção, e por isso ainda não ter iniciado no campus suas atividades de pesquisa e extensão, Ivo é servidor do instituto desde 2010, e desenvolveu trabalhos de pesquisa relacionados à aplicações para computação móvel, desenvolvimento de extensão para simuladores de rede e desenvolvimento de um sistema para esquema vacinal de crianças. Já em extensão, o docente atuou com aulas de informática na comunidade.

Os dois doutores mais jovens do Campus Rio Largo, recém-chegados, ainda não iniciaram plenamente suas atividades, mas um veterano do campus, Leonardo Bruno Medeiros Silva, de 31 anos, doutor há três, iniciou sua carreira docente neste mesmo campus poucos meses após adquirir o título. Leonardo também foi aluno do Ifal Maceió, quando ainda era CEFET, onde cursou Eletrotécnica em 2002. No ano seguinte ingressou na Ufal, no curso de Bacharelado em Física. “Foi quando comecei a minha caminhada na pesquisa acadêmica, a partir do segundo ano de curso. Como me interessava pela área de eletrônica, consegui uma bolsa de iniciação científica do CNPq dentro de um projeto que envolvia simulações de fenômenos físicos com circuitos eletrônicos analógicos”, relembra.

Com o mestrado em Eletrônica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2007, seguido pelo doutorado também pela UFPE, Leonardo obteve o grau de doutor em 2014, aos 28 anos de idade. “Durante a pós-graduação, pude apresentar trabalhos em diversas conferências internacionais no Brasil e no exterior, isso é muito importante, pois a troca de experiências com outros pesquisadores em conferências abre novos horizontes de investigação científica e traz bastante motivação diante das dificuldades”, afirmou entusiasmado.

Como docente do Ifal Leonardo desenvolve pesquisas com eletrônica embarcada, sistema de automação residencial de baixo custo utilizando Arduino e Android, internet das coisas e aprimoramento de equipamentos de auxílio à locomoção para deficientes visuais. Já na área de extensão, o professor trabalha com reutilização de materiais eletrônicos. “Nessa modalidade, tenho buscado usar o reaproveitamento de sucata eletrônica na construção de dispositivos robóticos de baixo custo, além de projetos de formação em informática básica, tanto em nível de software como também em nível de hardware, com o intuito de ensinar a alunos de escolas da comunidade o correto manuseio do computador”, explica.

Leonardo com alunos em trabalho de pesquisa

Leonardo com alunos em trabalho de pesquisa

Os resultados dos projetos desenvolvidos no Campus Rio Largo foram apresentados no VII CBEU - Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, realizado em Ouro Preto/MG em setembro do ano passado. “Do ponto de vista de pesquisa aplicada, venho desenvolvendo um projeto que trata de equipamentos capazes de identificar e avisar ao usuário a respeito da presença de obstáculos ao longo de seu caminho. Esse projeto foi apresentado no último CONNEPI - Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação, que aconteceu em Maceió”, finaliza.

Para Edel Alexandre Silva Pontes, diretor geral do Campus Rio Largo, a formação acadêmica, desde os cursos superiores às pós-graduações, são de fundamental importância para acompanhar a evolução moderna. “Novas tecnologias e novo mundo são gerados pela criatividade e genialidade de nossos jovens e promissores doutores, desta forma, o Ifal tem em sua missão acreditar nesta transformação de conhecimento e saber para um mundo mais justo e humano”, afirma. 

Ciência e inovação no campo: física e agricultura na escola de Satuba

Lotado no Campus Satuba desde 2011, o penedense de 33 anos, Francisco Rafael da Silva Pereira, iniciou sua carreira docente em 2009, no Instituto Federal de São Paulo, Campus São Roque. Graduado em Agronomia pelo Centro de Ciência Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca/Ufal) em 2006, Rafael concluiu seu doutorado em Agronomia e Agricultura na Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista (FCA/Unesp), em Botucatu, São Paulo - ingressou na instituição para o mestrado em 2006 e saiu doutor em 2010, no mesmo mês em que completou 27 anos.

Aula sobre preparo de inseticida natural

Professor Rafael em aula sobre preparo de inseticida natural

Com atuação em ensino, pesquisa e extensão, nas áreas de manejo do solo e adubação, sistemas de produção agrícola e gestão agropecuária, o professor, que já foi coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (Nit/Ifal), atualmente é o chefe do Departamento de Gestão Agropecuária (DGA). “Hoje leciono Gestão e Planejamento Agropecuário e Produção Vegetal e tive oportunidade de estar envolvido em projetos de pesquisa e extensão, seja financiado por instituições de fomento como Fapeal/CNPq, através de parceria com a Embrapa ou com projetos financiados pela PRPI/Ifal”, afirma Rafael. Atualmente, o docente desenvolve dois projetos de pesquisa: um sobre o levantamento fitossociológico de plantas daninhas em áreas de diferentes usos e manejos no Campus Satuba e o outro sobre o potencial alelopático de algumas plantas.

O jovem professor acredita que a extensão é uma das atividades responsáveis pela interação entre o campus e os diversos setores da sociedade e pela aplicação social do conhecimento gerado na instituição. Nesse espírito, Rafael
desenvolve regularmente ações que favorecem pequenos produtores rurais. “Ano após ano temos projetos de extensão desenvolvidos através da Proex/Ifal, sendo o de implantação do sistema de integração lavoura-pecuária, que visa a recuperação sustentável de pastagens degradadas, que vem sendo implementado em várias cidades, o mais duradouro”, explica.
 

Rafael e alunos de agropecuária durante visita técnica ao perímetro irrigado de Boa Cica

Rafael e alunos de agropecuária durante visita técnica ao perímetro irrigado de Boa Cica

Com 14 artigos completos publicados em periódicos, cinco trabalhos completos, 14 resumos e 37 resumos expandidos publicados em anais de congressos e 20 apresentações de trabalhos em conferências, além de dezenas de participações em eventos, congressos, exposições e feiras em todo o país, Rafael também é um dos organizadores da Semana Agrotecnológica, evento anual promovido pelo Campus Satuba. Maiores informações podem ser visualizadas em seu currículo lattes.

Natural de Vitória de Santo Antão, Pernambuco, Valdemir Lino Chaves Filho, 33 anos é professor do Ifal Satuba desde agosto de 2013. Valdemir se graduou em Física pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em 2008, onde também fez o Mestrado em Física Aplicada, em 2011. Seu doutorado em Física da Matéria Condensada foi pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em 2015. 

Foi o objetivo de fazer um doutorado numa universidade federal de reconhecido conceito na área de física que me trouxe à Maceió. Ainda durante o período de doutoramento abriu o edital para o concurso do Ifal”, relembra. Apesar de haver relutado sobre fazer ou não o concurso, pois seu foco era o doutoramento, Valdemir decidiu fazer a prova, “pois sabia que a fase da expansão da rede federal de educação, ciência e tecnologia estava a pleno vapor”. Aprovado, iniciou suas atividades em janeiro de 2012 no campus Santana do Ipanema, onde trabalhou por 18 meses até ser removido para o campus Satuba.

Valdemir durante o doutoramento

Valdemir durante o doutoramento

Enquanto vivia em Pernambuco, lecionou em diversas escolas públicas e particulares, o que colaborou para sua formação. “Esse período foi muito importante para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, pois tive o contato com diversas realidades no setor educacional, desde escolas em condições precárias de trabalho até modernas estruturas para os estudantes e professores”, analisa.

Valdemir atua nas áreas de física da matéria condensada teórica e computacional, ensino de física e pesquisa em ensino de física. “Durante o doutorado conseguimos publicar três artigos em revistas internacionais, fruto de um trabalho conjunto dos professores da pós-graduação”. O professor considera sua linha de pesquisa no doutorado é pouco compatível com o perfil dos estudantes atendidos pelo Ifal Satuba. “Mantenho uma colaboração com pesquisadores do Instituto de Física da Ufal, o que fortalece a colaboração científica entre essas instituições e propiciam aos nossos estudantes mais opções de carreiras”, explica.

Em 2016, alinhados com o que preconiza a carreira docente do ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT), Valdemir em conjunto com os demais professores de física do campus constituíram um grupo de pesquisa em ensino de física – ainda em consolidação. Para o professor, a iminente entrega do laboratório de ensino de física do campus merece destaque por ter sido fruto de um trabalho coletivo que oferecerá aos estudantes um importante recurso didático para auxiliar o processo de aprendizagem. “Com a chegada de um quarto professor efetivo, temos condições de implementar ações (em ensino, pesquisa e extensão) que não seriam possíveis com um quadro limitado”. O professor explica que pretende estimular ainda mais a participação dos estudantes na Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas por entender que é uma competição de conhecimento enriquecedora em diversos aspectos.

Aplicação das avaliações da Olimpíada brasileira de física das escolas públicas - OBFEP 2016

Aplicação das avaliações da Olimpíada brasileira de física das escolas públicas - OBFEP 2016

No final de 2016 tomou posse como representante docente no Conselho Superior do Ifal para um mandato de dois anos. “Tenho muito orgulho de ter contribuído e contribuir com o desenvolvimento institucional, sempre com respaldo dos pares. Esse trabalho é coletivo e exige de nós, servidores públicos, um esforço adicional para que possamos entregar sempre o melhor para a sociedade”. O professor destaca ainda sua participação nas discussões institucionais através da Comissão Local para construção do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), representando o segmento docente do campus Santana do Ipanema. “Também pelo campus Santana, fui membro do Comitê Gestor de laboratórios, o que enriqueceu minha noção do que o IFAL oferece de estrutura nos campos do ensino, pesquisa e extensão”, finaliza. 

Corpo docente qualificado

Segundo Mauro Sales, chefe da Departamento de Gestão de Pessoas (DGP) do campus, três professores já voltaram do doutorado, mas a titulação ainda não consta no Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos - (Siape). "Atualmente temos seis docentes afastados para o doutoramento e dois cursando sem afastamento pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da Universidade Federal da Bahia (Pei/Ufba)", informou. Mauro salientou ainda que existem três professores com matrículas efetuadas em programas de doutorado aguardando respostas sobre suas solicitações de afastamento.

Doutor em Produção Vegetal, Anselmo Lucio, diretor geral do campus, vê como fundamental esse constante aprimoramento para a oferta de uma educação de qualidade. Anselmo aponta que a pesquisa científica brasileira, apesar de jovem, evoluiu bastante nas últimas quatro décadas, ocupando papel de destaque no cenário mundial. “Isso é positivo porque estimula nossos profissionais a se qualificarem cada vez mais jovens. Temos como exemplos a jovem Tamara Lúcia que foi nossa aluna e agora é nossa professora, também doutora. E como ela, Rafael, Valdemir e outros, que chegaram ao Campus Satuba com motivação e preparo profissional para ajudar a fortalecer e impulsionar Ifal em busca da excelência na oferta da educação profissional e tecnológica”, argumenta. 

O aumento no número de jovens doutores ocorre em todo o país

Com o crescimento da rede federal de educação profissional e tecnológica, hoje formada por 38 Institutos Federais com 644 campi, dois Cefets, 25 escolas vinculadas a universidades, uma universidade tecnológica e o Colégio Pedro II, houve um considerável aumento no número de vagas nos cursos oferecidos, o que exigiu uma consequente elevação na quantidade de concursos públicos para docentes e técnicos.

Nas duas últimas décadas, após o incremento nos programas de fomento - e alguns específicos para as regiões norte e nordeste - e a interiorização dos programas de pós-graduação, houve um significativo crescimento dos titulados nas diversas partes do país, principalmente no doutorado.

De acordo com informações do site do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), em um estudo feito pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) da demografia da base técnico-científica brasileira em 2015, o número de programas de doutorado no Brasil de 1996 a 2014 apresentou um crescimento de 210% - o que ocasionou a ampliação das titulações: de 2.854 doutores em 1996 para 16.729 em 2014, o que corresponde a um aumento de 486%. A média de idade desses doutores é de 34 anos (foi reduzida em quatro anos em relação a 1996).

O estudo salientou ainda que, no mesmo período, houve uma desconcentração geográfica nessa formação. Em 1996, os estados do sudeste formaram 89% dos doutores no país (sendo que São Paulo e Rio de Janeiro foram responsáveis por 83,3%) reduzindo para 60% em 2014. No nordeste, a formação de doutores teve um aumento de 5.980%, passando de 40 em 1996 para 2.392 em 2014. Alagoas tinha, em dezembro de 2014, 1.076 doutores empregados, com uma remuneração média de 15 mil reais. O estado registra 1,1 doutores por 100 mil habitantes - a média do Brasil é de 8,3. 

O aumento no número de doutores é parte das consequências da reorganização da pós-graduação no país. Os resultados destes investimentos em qualificação e incentivo à pesquisa e a ampliação da produção científica, publicizada e levada ao conhecimento da sociedade e ao debate público, geram resultados que impactam na realidade das pessoas em geral, indo além dos campi e da comunidade acadêmica. A pesquisa completa está disponível no site do CGEE/MCTI.


Adubação e plantio de cana em aula de Produção Vegetal

Adubação e plantio de cana em aula de Produção Vegetal


* Com colaboração de Jakelline Raposo (Campus Rio Largo).