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Alunos de Curso Técnico de Artesanato têm histórias de vida contadas em publicação nacional

publicado: 14/12/2017 17h50, última modificação: 18/12/2017 18h14

Nesta segunda-feira, 18, o Instituto Federal de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul, estará lançando mais uma edição de um livro que reúne histórias de alunos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Desta vez, o "Histórias que merecem ser contadas", comemora os 10 anos do programa e conta com os relatos de dois alunos do Curso Técnico em Artesanato, do Instituto Federal de Alagoas, Campus Maceió.

O ceramista Eduardo Faustino e o escultor Pedro Cassiano dos Santos passaram por uma seleção nacional e agora terão parte de suas vidas dedicadas ao artesanato publicadas na obra, que será distribuída pelos campi de todo o país.

A coordenadora do curso, Ana Cristina Limeira, relata que primeiramente eles passaram por uma seleção interna, após serem incentivados pelos professores de Português para que colocassem em versos, ou prosa, suas trajetórias de vida. Cada Campus poderia participar do edital com até três histórias e o Ifal acabou sendo agraciado com a publicação de duas delas.

Um ceramista

Eduardo Faustino intitulou seu texto de "50 nos de Lembrança", em referência as cinco décadas em que ele está envolvido com a cerâmica, completadas em 2016. O pernambucano aprendeu o ofício trabalhando aos 16 anos, na oficina de Francisco Brennand e mudou para Alagoas na década de 80, após receber um convite de trabalho para a fábrica de pisos artesanais São Bento. Hoje, mesmo instalado na Barra de Santo Antônio, ele enfrenta a estrada diariamente para cursar o Ensino Técnico.Único homem da turma, o ceramista Eduardo Faustino sai da Barra de Santo Antônio diariamente para estudar no Campus Maceió.jpg

Eduardo disse que saiu da escola, mas nunca deixou de estudar. "As minhas salas de aula passaram a ser na Oficina do Brennand, ainda na minha adolescência, mas a minha vontade foi sempre de voltar à escola. Quando me aposentei, pensei: minha oportunidade é agora. Porque com a aposentadoria eu já tinha uma base para pagar as contas e o tempo livre para me dedicar a melhorar uma coisa que eu já fazia", enfatizou.

Agora no quinto período, Eduardo revela que já melhorou sua maneira de expressar, de interagir com os clientes e calcular os custos de suas obras. "Aqui, eu não estou só buscando a formação de Ensino Médio. Eu estou buscando também melhorar a minha condição de artesão", explicou.

Um escultor

Já Pedro Cassiano publicou "O Papagaio aprendiz". O título é referente a uma anedota sobre o fato de estar frequentando a sala de aula aos 74 anos. "Minha narrativa é sobre um papagaio véio. Dizem que o papagaio véio não aprende, mas eu disse: admito que papagaio véio não aprende, mas se adestra e foi nesse sentido que comecei a escrever a minha história".O escultor Pedro Cassiano aproveita suas aulas de Biologia para repensar as formas de suas obras.jpg

Natural do antigo município de São Brás, hoje Olho D'água Grande, o escultor aprendeu a amar o artesanato por influência da sua mãe, quando ainda era criança. O tempo foi lhe ensinando a trabalhar com os materiais que tinha a disposição, como argila, cera, madeira, pedra, e o coco.

Hoje ele vive próximo ao Aeroporto Zumbi dos Palmares e continua aproveitando os materiais que estão à disposição, como troncos de árvores derrubadas na capital. Mas ele pontua que a distância para o Campus Maceió não foi o maior empecilho para iniciar o curso. "Como a escola que eu havia estudado sofreu um incêndio, junto com todos os documentos, eu não tinha como comprovar o Ensino Fundamental. Então a professora Ana Cristina correu atrás e foi à Secretaria de Educação para conseguir algum outro documento que comprovasse", detalhou o seu Pedro, que está em seu segundo período sem nenhuma falta.

"Seu Pedro já tinha desistido de estudar, já estava se despedindo da turma, então eu caí em campo, porque acredito que ele não teria outra oportunidade de fazer uma formação na área técnica de Artesão", justificou o seu desempenho, Ana Cristina.

Iniciativa do IF Sapucaia do Sul

Pedro Cassiano contou com o empenho da coordenadora do curso, Ana Cristina Limeira, para comprovar sua formação anterior e participar do Proeja.JPGA coordenadora do curso ainda disse que era necessário parabenizar a iniciativa do IF de Sapucaia, que também oferta o curso técnico em Administração, pelo mesmo programa. "Eles começaram esse trabalho com a professora de Português, fazendo a publicação de histórias que mereciam ser contadas com alunos de lá. Agora, com os 10 anos da política de Jovens e Adultos nos Institutos Federais, eles resolveram fazer essa publicação nacionalmente, envolvendo todos os Ifs, dando a voz a esses sujeitos através das narrativas de suas trajetórias de vidas no processo de formação.

No Ifal, o Proeja faz 10 anos em 2018, com o curso Técnico de Artesanato. Nesse tempo, o curso vem selecionando pessoas que já possuem os saberes e ofício na área. Em sala de aula, eles têm acesso a novos conhecimentos na área tecnológica e cultural. Para Ana Cristina, o Ifal tem um papel importante na aproximação desses profissionais com a Academia.

"Pelas especificidades do público, nós temos que ir até eles: nas feirinhas de artesanato, nas associações, porque hoje, no ranking de cadastro do Artesão Brasileiro, Alagoas está em primeiro lugar, com mais de 10 mil artesãos cadastrados, além daqueles que estão no anonimato, porque só recentemente a profissão do Artesão foi reconhecida", pontuou a coordenadora.

Ela ainda disse que o interesse dos alunos no curso se dá porque eles sentem a necessidade de agregar valor e não massificar as atividades que desenvolvem. "Nós não estamos com uma qualificação pontual, nós temos um curso profissionalizante, de três anos, com oferta diária de aulas e como ele é de Nível Médio, eles têm que possuir o Ensino Fundamental e apresentarem o produto de sua arte nas bancas de seleção", acrescentou Ana.

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