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Teto decorativo: projeto do Ifal contribui com transparência do sistema jurídico brasileiro

O teto constitucional é de R$ 39,2 mil, mas algumas folhas de pagamento de agentes públicos registram mais que o teto somente em benefícios
por Elaine Rodrigues publicado: 01/11/2021 07h58, última modificação: 01/11/2021 07h58
Exibir carrossel de imagens Integrantes do projeto pelo Lead, com sede no Ifal Campus Arapiraca

Integrantes do projeto pelo Lead, com sede no Ifal Campus Arapiraca

Acompanhar com detalhes a remuneração do sistema jurídico brasileiro está mais fácil. E ficar de olho nas possíveis irregularidades também. O Instituto Federal de Alagoas (Ifal), a Organização Não Governamental (ONG) Transparência Brasil e a Universidade Federal de Campina Grande desenvolvem o projeto DadosJusBR, uma plataforma que reúne os valores de remuneração pagos a desembargadores, magistrados, procuradores e promotores, entre outros servidores do alto escalão do sistema de Justiça.

Em Alagoas, o levantamento do DadosJusBR mostra que 218 agentes públicos receberam mais de R$ 50 mil em remuneração (salário e benefícios) no mês de junho de 2021.

A iniciativa é fundamentada na Lei de Acesso à Informação (12.527/2011), que tornou obrigatória a divulgação dos gastos públicos. O projeto conta com a coordenação técnica do professor de Informática Daniel Fireman, que desenvolve as ações pelo Laboratório de Engenharia e Análise de Dados (Lead), com sede no Campus Arapiraca. Os estudantes do curso técnico integrado em Informática, Manuel Eduardo Antunes (quarto ano) e Marcos Vinícius Santos (quarto ano) também participam das atividades.

A plataforma conta com dados de mais de 50 instituições públicas, desde janeiro de 2018. É possível ter acesso à remuneração detalhada das unidades por mês e um resumo de cada uma. “Apesar dos órgãos atualmente publicarem esses dados, a grande quantidade e as diferenças nos formatos divulgados dificultam muito a consolidação e análise. O DadosJusBR viabiliza análises consolidadas das folhas de pagamento dos órgãos. O projeto cria robôs que coletam e consolidam esses dados sistematicamente num padrão único e aberto, aumentando muito as possibilidades de análise. Isso nos permite, enquanto sociedade civil, discutir e tirar as nossas conclusões com mais propriedade”, explicou o professor.

Cidadãos podem acompanhar a remuneração paga a servidores do alto escalão do sistema de JustiçaDaniel complementa que outro papel importante do projeto é permitir o monitoramento dos dados enviados para os conselhos nacionais. Uma vez que dados das folhas de pagamento dos Tribunais de Justiça são provenientes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a população pode comparar com dados reportados diretamente pelos órgãos, o que já rendeu denúncias de incompatibilidade. “Atualmente estamos trabalhando para expandir a atuação e, até o final do ano, esperamos ter consolidado os dados remuneratórios de todos os membros de todos os Tribunais e Ministério Públicos estaduais. Também estamos trabalhando na confecção de um diagnóstico sobre a transparência nesses órgãos”.

Quem quiser acompanhar as ações do projeto pode acessar a o site DadosJusBR ou o acompanhar o perfil do Twitter

Teto decorativo

Em média, o rendimento mensal do brasileiro vem diminuindo em 2021. Começou o ano em R$ 2.629 e no trimestre de maio a julho chegou a R$ 2.508, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE. Por outro lado, o teto remuneratório estabelecido na Constituição, que equivale a R$ 39,293,32, chega a ser ultrapassado por alguns servidores, com auxílio-moradia, auxílio-educação, auxílio-creche, entre outros benefícios, considerados indenizações.

Em Alagoas, o levantamento do DadosJusBR mostra que 218 agentes públicos receberam mais de R$ 50 mil em remuneração (salário e benefícios) no mês de junho de 2021. E três chegaram a ter em folha valores maiores que o limite do teto constitucional somente com benefícios, que também incluem acréscimos eventuais, como férias. O valor mensal mais alto registrado como benefício no primeiro semestre deste ano foi de R$ 68,9 mil.

Recentemente, a ONG Transparência Brasil lançou um relatório com a situação da Paraíba. De 2018 a 2020, a média de pagamento do Judiciário e do Ministério Público chegou a cerca de R$ 44 mil, por mecanismos para incrementar o pagamento dos agentes públicos. “O estudo demonstra que os benefícios e os penduricalhos, e não os salários, levam ao descumprimento do limite remuneratório e à oneração da folha de pessoal do sistema de Justiça”, denuncia o relatório.

Combate aos supersalários

Desde 2016, o Congresso Nacional discute um projeto de lei que tenta combater os supersalários de agentes públicos. Ele foi aprovado no dia 13 de julho pelos deputados federais e seguiu para o Senado. O projeto tenta disciplinar o que pode ou não ser considerado teto constitucional para servidores públicos de todos os órgãos.

Uma das principais mudanças propostas é a responsabilização dos agentes públicos que excluírem do teto parcelas que não estejam relacionadas na lei. O texto aprovado pela Câmara também determina que pagamentos considerados fora do teto, como 13º salário, adicional noturno e hora extra serão restritos àqueles pagos pelo Regime Geral da Previdência Social.